A menina adulta que cresceu cedo de mais

A agente da CIA Carrie Mathison regressa hoje aos televisores dos EUA, na nova temporada de Segurança Nacional, que se estreia entre nós na quinta-feira. Interpretada por uma brilhante Claire Danes que começou a representar aos 13 anos, tornou-se famosa aos 17 com Romeu+Julieta e hoje, aos 36, tem a crítica aos pés e um dos maiores salários da TV.

Uma carreira de 23 anos com uma boa mão-cheia de «quases». Esteve quase para protagonizar Lolita, esteve quase a interpretar a personagem de Angelina Jolie em Vida Interrompida, recusou ser a cabeça de cartaz de Titanic por já ter contracenado com Leonardo DiCaprio em Romeu+Julieta, e teve de abandonar a participação em A Lista de Schindler porque tinha na altura 14 anos e a produção não lhe disponibilizou aulas particulares durante as gravações na Polónia. Todos eles filmes galardoados.

Mas, aos 36 anos, Claire Danes não se pode queixar. Sobretudo desde que, em 2011, começou a protagonizar a série Segurança Nacional (Homeland), que regressa ao canal Fox na próxima quinta-feira para a quinta temporada, depois de ter arrebatado a crítica e se ter tornado uma das tramas mais vistas em todo o mundo (é exibida praticamente todos os países da União Europeia, Canadá,nBrasil e Rússia e o último episódio da primeira temporada alcançou 1,7 milhões de espectadores, só nos EUA).

A história de sucesso começa em 1985. Tinha 6 anos quando, acabada de entrar no primeiro ano, decide que quer ser atriz. A paixão pelo mundo da representação não veio da família, mas das aulas de dança moderna, que iniciou nesse ano. Com um irmão seis anos mais velho, filha de um ex-fotógrafo e arquiteto e de uma ex-educadora de infância e designer têxtil, Claire Danes cresceu numa família relativamente influente e abastada no Soho, em Manhattan, Nova Iorque, ou não fosse o avô diretor das escolas de arte e arquitetura da Universidade de Yale. Ela sabe disso – e admite-o frequentemente em entrevistas –, que teve uma infância e uma educação «num mundo onde existia dinheiro e poder». E assim deixou os estudos convencionais, com o apoio dos pais, para entrar em escolas de arte como a New York’s Professional Performing Arts School ou o Lee Strasberg Theatre and Film Institute (por onde passaram nomes como Robert De Niro, Angelina Jolie, Uma Thurman, Matt Dillon ou Alec Baldwin).

nm1219_clairedanes01

Em 1992, com 13 anos, e depois de ter participado em filmes de estudantes, durante a sua formação, estreou-se profissionalmente como atriz num episódio-piloto de uma série de comédia, Dudley, que nunca chegou a ver a luz do dia. Meses depois conseguiu uma participação especial num episódio de Lei e Ordem, a série criminal no ar há 25 anos. A pouco e pouco, Danes começava a dar nas vistas. E foi ainda no final desse ano que decidiu apresentar-se no casting para o papel de protagonista de uma nova série juvenil que estava a ser preparada pela estação de televisão ABC. Os responsáveis ficaram surpreendidos. «Sabia que iria fazer tudo o que estava ao meu alcance para que ela ficasse com o papel principal», disse mais tarde o guionista Winnie Holzman. «A Claire tinha uma enorme graciosidade e autocontrolo.»

O projeto era My So-Called Life, a série dramática sobre a vida de um grupo de adolescentes que se estreou em 1994 e que arrancou elogios da crítica – tal como o desempenho de Claire no papel principal, Angela. De tal forma que venceu o Globo de Ouro para Melhor Atriz. Foi ainda nesta série que deu o primeiro beijo, segundo conta, antes até de o fazer na vida real.

O cinema veio depois. Com os convites que não tardaram a chegar. Nos dois anos seguintes, entrou em cinco filmes, o último deles um blockbuster. Aos 17 anos, ao lado de Leonardo DiCaprio, Claire Danes foi protagonista da adaptação para cinema de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. O realizador Baz Luhrmann, haveria de referir-se a ela, anos mais tarde, como «a Meryl Streep da sua geração». E nada seria como dantes a partir daí: a atriz ascendeu ao estatuto de estrela de Hollywood com uma das longas-metragens mais lucrativas de 1996. «Ela foi a única rapariga que me olhou nos olhos no casting», recorda DiCaprio. «As outras pareciam umas flores de estufa. A atuação dela foi muito verdadeira.»

E foi precisamente por causa de DiCaprio que a atriz recusou um papel noutro blockbuster (e colecionador de Óscares), que se estrearia no ano seguinte. Temendo que as suas imagens pudessem ficar demasiado coladas, Claire não aceitou o convite de James Cameron para interpretar Rose no épico Titanic. O papel iria depois para Kate Winslet.

Nos dois anos seguintes, entrou em O Poder da Justiça, de Francis Ford Copolla, ao lado de Matt Damon, e em Os Miseráveis, juntando-se a Liam Neeson e Uma Thurman. Por esta altura, a revista People incluía Claire Danes na lista das 50 Mulheres Mais Bonitas do Mundo. «Todos se apaixonam por ela», lia-se nas páginas da publicação. «Ela quebra barreiras e conquista todos com qualquer personagem que faça», afirmou Copolla ao recordar como foi trabalhar com a atriz. Seguiu-se uma capa da Vogue e mais alguns filmes, mas em 2000 surgiu uma viragem também na sua vida, ao decidir fazer uma pausa na carreira para estudar Psicologia. Durou dois anos. Não terminou a licenciatura, mas ela garante que foi uma fase necessária para conseguir «respirar». Até porque o facto de ter começado a trabalhar tão nova lhe trouxe algumas consequências com que só soube lidar mais tarde. «Tinha um grande problema em criança e adolescente, que era o de me levar demasiado a sério», disse numa entrevista. «Era uma criança séria a um nível absurdo. Estava exacerbada com responsabilidade. Era uma menina demasiado adulta.»

De 2002 até começar a fazer Homeland estreou-se nos palcos e seguiram-se filmes densos como As Horas, ao lado de Meryl Streep, de ação como Exterminador Implacável 3, com Arnold Schwarzenegger,  dramas como Ao Anoitecer, com Glenn Close, leves como Fixe como Eu ou Me and Orson Welles, que não teve versão portuguesa. Entretanto, casou com o ator Hugh Dancy (atualmente na série Hannibal), com quem tem um filho.

nm1219_clairedanes02

Até que em 2011 voltou à televisão, na pele de Carrie Mathison, uma agente da CIA com bipolaridade, naquele que a crítica considerou o melhor desempenho da atriz até hoje. É esta a personagem que já lhe valeu, nos últimos quatro anos, nove prémios, entre eles dois Emmys e dois Globos de Ouro. De volta à primeira linha das estrelas da ficção com a série criada por Howard Gordon e Alex Gansa, a partir do formato original israelita, Hatufim, Claire Danes é atualmente uma das atrizes mais bem pagas da televisão norte-americana. Estima-se que, graças ao êxito de Segurança Nacional, receba cerca de duzentos mil euros por episódio.