Nunca vivemos tão rodeados de informação. Clicamos numa tecla e logo aparecem respostas às nossas dúvidas. Por vezes, tal qual filósofos do novo milénio, as respostas que encontramos levam-nos a colocar mais perguntas. Angustiamo-nos não perante o vazio do desconhecimento, mas ante o excesso de informação ao nosso alcance.
Precisamos de tradutores. Precisamos desesperadamente de tradutores. De quem passe por toda esta informação e a transforme em algo que seja inteligível. De quem possua as ferramentas para o fazer de forma isenta, com ética. Que nos transforme os milhões de palavras aglutinadas em frases claras, livres de adjectivos excessivos ou complementos dúbios. Que pegue nos milhões de signos e lhes atribua significados. Porque, perante as toneladas de informação que estão à nossa disposição, falta-nos tempo, ferramentas e aptidões para investigar até chegarmos a algo que nos possa ajudar a compreender o mundo. Que torne o «ruído» em «música».
Certamente, não podemos deixar essa tarefa tão importante delegada a qualquer um e não podemos deixar que a informação chegue até nós através de canais nos quais não confiamos plenamente. É isso. Precisamos de pessoas de confiança a quem entreguemos esta tarefa tão importante que é manter-nos informados. Importa, mais do que nunca, valorizar os profissionais que nos ajudam a ler e a compreender a realidade.
Falo dos professores, o primeiro canal, fora da família, que nos ajuda a construir o mundo e a posicionarmo-nos nele. São os pilares de uma sociedade culta e preparada para a vida que, ao serem esboroados ou corroídos, enterrarão com eles qualquer esperança de um futuro melhor, mais evoluído.
Falo dos artistas. Sim, os artistas. Aqueles que trabalham a arte e a cultura nas suas várias faces. Aqueles que criam algo novo que nos parece familiar, porque responde a questões que ainda não sabíamos querer pôr, mas que percebemos depois serem importantes para nós. Todos os que, com a sua criação, nos ajudam a questionar tudo e a reequacionar o mundo que julgamos entender, fazendo-nos avançar, evoluir.
Falo dos jornalistas. São eles que nos dão a conhecer um mundo cheio de histórias para relatar. Que escrevem o diário da vida de todos. Que nos vão ligando uns aos outros e dando notícias dos lugares mais afastados de nós, aproximando-nos. Que não nos deixam ficar isolados no nosso pequeno quintal, sem perceber o que se passa mais além. É a partir do seu trabalho que se irá escrever a história que os professores vão ensinar e será o seu trabalho ponto de partida para muitas ideias criativas que poderão resultar em obras artísticas. As notícias de que nos dão conta ajudam-nos a saber quem é o colectivo a que pertencemos. E, partindo desse conhecimento, ajudam-nos, perante aquilo que sabemos, a tomar decisões ponderadas e informadas.
É importante que o exercício da actividade jornalística seja feito observando a liberdade de expressão e a isenção. Paramque as decisões que tomamos e a sociedade que construímos sejam também elas baseadas na liberdade e na justiça.
É com alguma preocupação que vejo que os pilares que sustentam uma sociedade evoluída e civilizada estão a ser destruídos pela “conjectura da crise”. Não sei se as razões pelas quais se está a desinvestir na educação, cultura e informação serão todas explicadas pela crise que se está a sentir, ou se a mesma é a desculpa perfeita para redesenhar uma sociedade bastante menos atreita ao exercício das liberdades individuais.
Conhecimento desinformado não é conhecimento, é poder. De uma minoria.
Ana Bacalhau escreve de acordo com a antiga ortografia
Publicado originalmente na edição de 13 de julho de 2014