Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro: o praticante de artes marciais e o voleibolista

Uma saída inglória do Governo quase parecia ter-lhe tirado o tapete para o sonho tão ambicionado, mas Pedro Nuno Santos haveria de se reerguer mais rápido do que muitos (e o próprio) imaginariam. Sucedeu a António Costa, é líder do PS, 46 anos, de São João da Madeira. As histórias não são muito diferentes. Uma derrota em 2020 não ditaria a sua morte política (como se quis fazer parecer) e Luís Montenegro haveria de conquistar a presidência do PSD. Sucedeu a Rui Rio, é de Espinho, 50 anos. Os líderes dos partidos mais votados em Portugal, candidatos a primeiro-ministro, são os dois do Norte, separam-nos 24 quilómetros de distância. Um tem fama de rebelde, praticou artes marciais, coração político à esquerda. O outro foi nadador-salvador, diz-se que é líder nato, social-democrata desde adolescente.

Mariana Santos guarda uma memória nítida daqueles Natais em São João da Madeira, a da montanha de livros junto à árvore, que se repetia todos os anos. Eram os dois catraios, ela e o irmão, Pedro Nuno. “Ele pedia sempre livros, desde criança, e eu ficava espantada com aquilo.” Pedro lia sobre história, política, social-democracia, sobre a Rússia e os Estados Unidos. Depois fazia brilharetes com os amigos. “É preciso lembrar que nos anos 1990 não havia a informação que temos hoje, se há uma eleição nos Estados Unidos, agora temos 20 canais a falar sobre isso, internet, tudo. Naquela altura, tínhamos o telejornal e pouco mais. E ele procurava saber, ia ler sobre os assuntos, destacava-se”, recorda Rodolfo Andrade, presidente da Junta de Freguesia de São João da Madeira e amigo de infância. Foi aqui, no mais pequeno concelho do país, cidade industrial, oito quilómetros quadrados, que Pedro Nuno Santos nasceu, no mês da liberdade, três anos depois do 25 de Abril.

Quando, em dezembro de 2022, o ex-ministro saía do Governo, embrulhado na polémica indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, nada fazia prever que um ano depois estaria a suceder a António Costa. Após um tsunami político, Pedro Nuno Santos fez-se líder do PS e é candidato a primeiro-ministro. Homem de convicções fortes, combativo, tem o coração político à esquerda e fama de rebelde. Cresceu privilegiado, filho de empresário, “neto de sapateiro”, a frase que lhe valeu mais uma controvérsia e que não passou de um mal-entendido para Rodolfo. “O Pedro não quis dizer que viveu dificuldades, mas sim que conhece essa realidade. Ele sempre soube claramente que era um privilegiado. Eu e ele éramos filhos de empresários, mas a maioria dos nossos amigos não tinha uma vida folgada, muito pelo contrário. E as desigualdades sociais foram sempre uma preocupação genuína dele, por ver que os outros não tinham o que ele tinha, isso é uma verdade.”

Pedro Nuno Santos, aos 20 anos, com um grupo de amigos numas férias da Páscoa, na Costa Nova
(Foto: DR)

Aliás, foram essas diferenças sociais que lhe despertaram o desassossego, a consciência política. Isso e a influência do pai, Américo Santos, esquerdista radical em 1975, de origens humildes, que começou a trabalhar numa fábrica de camisas em miúdo, se fez empresário mais tarde – é dono, com outro sócio, da Tecmacal e chegou a ver os seus negócios questionados por a empresa ter conquistado incentivos públicos enquanto o filho era ministro – e que sempre levou o debate político para a mesa de jantar em casa. É o ídolo de Pedro Nuno. A irmã, mais nova dois anos, bem pode dizê-lo. “Em minha casa não se falava de um partido em particular, mas falava-se muito de valores, da não discriminação. E o Pedro, ao contrário de mim que era mais recatada, era muito interventivo a debater estas questões.” A mãe, Maria Augusta, mais conservadora, “assustava-se” por o ver tornar-se mais e mais inconformado, palavras dele.

Tem sentido de humor, “sempre foi dos melhores alunos da turma”, chegou a ser presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Serafim Leite. E já nessa altura, na Praça Luís Ribeiro, centro da cidade, onde os alunos das várias escolas do concelho se concentravam ao final do dia, “conseguia mobilizar as pessoas, todos os amigos o respeitavam, tinha um grande espírito de liderança”, como diz Rodolfo.

Pedro Nuno Santos na sede do PS de Aveiro, com Rodolfo Andrade, agora presidente da Junta de São João da Madeira, e com Rodolfo Andrade, socialista de Bragança
(Foto: DR)

Isso partilha com o principal adversário na corrida a São Bento, Luís Montenegro, que viveu toda a vida em Espinho, a quem muitos apontam a capacidade de liderar e mobilizar. “O Luís é muito próximo no contacto e é um líder nato, consegue convencer-nos com enorme facilidade”, refere um amigo que prefere não ser identificado. Olhemos, pois, para o mapa. As duas cidades distam escassos 24 quilómetros, ambas pertencem à Área Metropolitana do Porto e ao distrito de Aveiro. Os líderes dos dois partidos historicamente mais votados no nosso país, candidatos a primeiro-ministro, cresceram “vizinhos”, a norte. Se fizermos “rewind” nesta cassete, o homem que, em 2020, depois de perder as eleições para a presidência do PSD frente a Rui Rio, avisava que as notícias sobre a sua morte política eram manifestamente exageradas tinha razão. Dois anos depois, Luís Montenegro tornava-se líder dos sociais-democratas, sucedia a Rio, de quem foi o principal desafiador. É o 19.º presidente, tem 50 anos. O “Ervilha” – eterna alcunha de miúdo, graças a um mítico fato de treino verde que se denunciava ao longe – quer governar o país. Nada que surpreenda Nuno Almendra, amigo de infância e vizinho de Luís nos tempos de escola, na Rua 25, que o viu tornar-se militante do PSD “muito cedo, teria uns 14, 15 anos”. “Sempre teve este bichinho da política, é uma espécie de missão.”

Luís Montenegro foi durante alguns verões nadador-salvador em Espinho. Aliás, o desporto esteve sempre muito presente na sua vida
(Foto: DR)

O pai era jurista, de Chaves, a mãe economista, de Lamego. Terá sido o facto de o pai, já falecido devido a doença prolongada, ter ido trabalhar para a RTP, para os estúdios do Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, que levara a família a fixar-se em Espinho, numa casa arrendada. A cidade que Luís nunca largou. Andou na Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira, bom aluno “sem ser marrão”, média de 17,5 no final. “Bastava-lhe estar atento nas aulas, tinha facilidade em memorizar. E essa é uma característica que ainda hoje tem”, comenta Nuno. O desporto faz parte do ADN, corre-lhe nas veias. Jogou futebol, passou por vários clubes da zona e diz quem se lembra dessa época que levava muito jeito. Também se aventurou no voleibol de pavilhão, onde conheceu ainda adolescente a namorada de sempre, hoje mulher, Carla Montenegro. Rendeu-se depois ao vólei de praia, é capaz de passar horas a fio no verão a jogar no areal de Espinho, onde foi nadador-salvador durante a juventude para ganhar uns trocos.

Luís Montenegro estudou Direito, no Porto, na Universidade Católica e nunca faltou aos cortejos das Queimas das Fitas
(Foto: DR)

Hoje, “Bilha”, como ainda muitos amigos lhe chamam numa versão mais curta da alcunha, pratica golfe e leva isso a sério, começou por ter aulas, não fez a coisa por menos. “Nos poucos anos que tem de golfe, evoluiu bastante”, aponta José Granja, uma das grandes figuras do Oporto Golf Club de que Montenegro é agora sócio. E que, nos últimos anos, joga com Montenegro aos fins de semana. Por estes dias não tanto, com eleições à vista as tacadas ficam para segundo plano. Na verdade, José foi um opositor quando Luís se candidatou à Câmara de Espinho (lá iremos), mas diz dele ser homem de “muito caráter”. Adepto de futebol, ferrenho do F. C. Porto, o social-democrata sempre foi assíduo nas bancadas das Antas e mais tarde do Estádio do Dragão – e as faltas parlamentares para assistir a jogos dos dragões e da seleção nacional renderam-lhe polémicas na Assembleia da República.

A JS, a vida académica

No amor ao futebol, os dois candidatos a primeiro-ministro até partilham o clube, mas Pedro Nuno Santos nunca gostou de jogar. Deu cartas noutros desportos. Passou pela natação federada e praticou viet vo dao, que junta técnicas de combate de várias artes marciais. Gostava de brincar na rua, “fazia carros de rolamentos com os amigos”, lembra a irmã, e passava a vida a levar animais para casa.

Ainda antes de entrar no Secundário, com 14 anos, decidiu ir à sede do PS, tornar-se militante. A caravana da campanha de Jorge Sampaio nas legislativas de 1991 – que o candidato socialista acabaria por perder – tinha passado pela cidade e Pedro Nuno deixou-se contagiar pelo ambiente. Aos 16, já liderava a Juventude Socialista concelhia e logo após a maioridade foi eleito presidente da Assembleia de Freguesia de São João da Madeira. No grupo de amigos, foi o primeiro a ter carta, tinha um jipe Nissan Patrol. Tanto iam acampar para a serra da Freita, como se faziam à estrada até à praia da Costa Nova. “De vez em quando tínhamos a sorte de sair com ele no Mercedes SLK do pai”, partilha Rodolfo Andrade, a rir. “E também tinha uma mota, uma Aprilia, lembro-me de ele a levar até à Praça para impressionar a namorada da altura.”

Pedro Nuno Santos foi líder da Juventude Socialista aos 27 anos
(Foto: Pedro Correia)

Com 18 anos feitos, Pedro Nuno rumou a Lisboa, para estudar Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Fez teatro, Erasmus em Roterdão, envolveu-se na associação de estudantes, em lutas académicas, contra a praxe, contra o aumento das propinas. Deixou crescer o cabelo e conheceu aí muitos amigos do Bloco de Esquerda, outros do PS, como Duarte Cordeiro que mais tarde viria a suceder-lhe na liderança da Juventude Socialista. Pedro Nuno foi líder da JS aos 27 anos. “E a caminhada dele para secretário-geral da JS é verdadeiramente impressionante. Quando decide avançar não tinha uma base de apoio nacional. Mas tinha ideias e uma grande motivação”, relata Jorge Sequeira, presidente da Câmara de São João da Madeira, que o conhece desde o dia em que Pedro Nuno entrou pela primeira vez na sede local do PS, há mais de 30 anos. “Acompanhei-o nessa campanha, fui uma espécie de motorista dele. Ao ponto de num sábado termos ido a Lisboa de propósito só para falarmos com uma pessoa. E mesmo quem não o conhecia, quando tinha a oportunidade de o ouvir, era conquistado por ele, pela energia que transmite, pelo carisma.”

(Foto: Natacha Cardoso)

Foi na JS que conheceu a mulher, Catarina Gamboa, que é lisboeta e de quem tem um filho, Sebastião, de sete anos (surgiu ao colo do pai no último congresso). Catarina é chefe de gabinete do ainda ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, o que também chegou a gerar bruaá. Não gosta de aparecer nem vai fazer campanha com ele, o socialista já o garantiu. O mesmo que é capaz de passar horas e horas à conversa, sem nunca se calar. “Deixa de comer para estar a falar. Íamos jantar e era irritante, quando eu estava a acabar de comer, ele ainda estava na sopa, que acabava por ficar fria”, detalha Rodolfo. Além de lento a comer, consta-se, o líder do PS também não tem mão para a cozinha.

Reerguer o PSD local, a advocacia

Não se pode dizer o mesmo de Luís Montenegro, que é um “exímio cozinheiro”, segundo os amigos mais próximos. Não há quem não lhe gabe a sopa de peixe e o arroz de cabidela, as especialidades maiores, mesmo que o amigo Nuno Almendra o acuse de carregar no picante. Em tempos, o líder do PSD e um grupo de quatro amigos juntaram-se num fim de semana. Luís passou a manhã a comprar os ingredientes e a pesquisar dicas para cozinhar pela primeira vez lampreia, tudo para fazer as delícias de dois deles, que são capazes de fazer quilómetros para comer lampreia. Começaram a almoçar já passava das três da tarde e reza a lenda que foi o melhor arroz de lampreia que os amigos já comeram.

Luís Montenegro, candidato à Câmara de Espinho em 2005, na ida às urnas
(Foto: DR)

Aos vinte e poucos anos, estava o PSD moribundo em Espinho, sem grande militância, depois de uma brutal derrota autárquica ali pelo final da década de 1990, quando Luís Montenegro decidiu reerguer o partido localmente, foi chamando gente nova para se juntar a ele, era então líder da JSD local, acabaria por se fazer presidente do PSD concelhio. Conseguiu. Há quem lhe aponte o sucesso autárquico do antigo presidente da Câmara Joaquim Pinto Moreira, eleito logo na primeira vez que concorreu, em 2009. Montenegro terá sido o único capaz de convencer o amigo a avançar com a candidatura. Pinto Moreira, recorde-se, está agora envolvido na Operação Vortex, há suspeitas de ter dado benefícios fiscais à moradia de seis andares que Montenegro construiu na cidade e que já negou tudo.

(Foto: Arquivo)

Antes disso, Luís estudou Direito no Porto, na Universidade Católica. Ia até à Invicta de comboio, onde apanhava o autocarro 37 para a Católica, e voltava a Espinho no mesmo dia, às vezes à boleia do pai. “Conheci-o em 1992, estávamos os dois a entrar na Católica e já se notava claramente uma predileção pela carreira política”, realça Paulo Sousa Pinheiro, colega de faculdade, amigo de longa data. Nesses tempos, Luís faltava com frequência às aulas por conta da vida política, que já era cheia, nada que o atrasasse nos estudos. “Mesmo aí, nas Queimas das Fitas, nos cortejos, já era ele que puxava pelos outros, que tomava a iniciativa. Ele é muito agregador, é uma pessoa muito fácil de se gostar.” Os dois amigos viriam a abrir um escritório de advocacia juntos, na Rua Júlio Dinis, no Porto. Mais tarde, em 2012, criavam a sociedade de advogados Sousa Pinheiro & Montenegro, que deixou de contar com Luís em 2022 quando o PSD falou mais alto. No fundo, sempre falou. “Foi compatibilizando as duas atividades enquanto deputado, caso que não é inédito na Assembleia da República. Mas quando se tornou presidente do PSD, fez uma opção clara pela política.”

A 25 de dezembro, Natal e dia de aniversário de Sousa Pinheiro, estão sempre juntos, tradição que já vem dos idos anos 90 do século passado. Umas vezes em casa de um, outras vezes em casa do outro. Este ano não foi diferente, “é um excelente amigo, diz sempre presente”. E sobre a polémica mansão de seis andares, Paulo Sousa Pinheiro não se inibe. “Recordo-me do primeiro apartamento que o Luís teve em Espinho, não tinha sequer elevador. Levou anos a construir esta casa, cheguei a lá ir quando ainda estava em construção e dava para ver o orgulho que ele tinha.”

Luís Montenegro com Luís Marques Mendes
(Foto: Nuno Alegria)

Por duas vezes, em 2001 e em 2005, Montenegro foi candidato à Câmara de Espinho, enfrentou o histórico autarca socialista José Mota. Das duas vezes perdeu e mesmo já deputado na Assembleia da República levou sempre até ao fim o mandato como vereador da Oposição. Foi depois presidente da Assembleia Municipal, era Pinto Moreira quem liderava os destinos do Município. Mas a vida parecia ter reservados para si voos maiores, à escala do país.

Gestor infeliz, ponta de lança da “geringonça”

Curiosamente, também Pedro Nuno chegou a ser candidato à Câmara de São João da Madeira e perdeu, contra o social-democrata Castro Almeida, que tinha uma maioria enraizada. Corria o ano de 2009, já era deputado no Parlamento há quatro anos, foi desafiado e aceitou. Sabia que seria difícil vencer, arriscou ainda assim. E José Sócrates viria a tirar-lhe o tapete quando, pouco depois de Pedro Nuno anunciar candidatura à Câmara da sua terra, decidiu que quem corria nas autárquicas não podia entrar nas listas candidatas às legislativas desse mesmo ano. Foi uma pausa forçada na política, longe dos palcos dos acesos debates no hemiciclo, Pedro Nuno virou-se para as empresas do pai, foi gestor por uns tempos, embora infeliz.

A política foi o sonho de toda a vida, quer ser primeiro-ministro, os amigos de infância são disso testemunhas. E a irmã Mariana também. “Acho que é bonito o Pedro ter este sonho e lutar por isso.” Sempre foi de grandes ambições. Haveria de voltar ao Parlamento, em 2011, e tornar-se vice-presidente da bancada socialista, o ano que lhe renderia o epíteto de rebelde, quando disse que “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”, aludindo à hipótese de Portugal não pagar a dívida. Foi um dos “jovens turcos”, ao lado de Duarte Cordeiro, Pedro Delgado Alves ou João Galamba, que apoiaram a candidatura de António Costa para a liderança do partido. “Ele esteve com António Costa desde o início e isso é extremamente importante”, sublinha Jorge Sequeira.

Pedro Nuno Santos foi um dos apoiantes de António Costa à liderança do PS
(Foto: Filipe Amorim/Global Imagens)

Após as legislativas de 2015, foi ponta de lança da “geringonça”, um quadro político sem precedentes no panorama nacional, homem de diálogo, capaz de conseguir acordos à esquerda em inúmeras matérias durante a governação socialista. Haveria de tornar-se secretário de Estados dos Assuntos Parlamentares, Nuno Araújo foi seu chefe de gabinete na altura. Conhece-o dos tempos da JS, quando Pedro Nuno se deslocara de propósito a Rio Mau, Penafiel, para lhe pedir apoio político (Nuno Araújo era então líder da JS de Rio Mau). “E depois, quando ganhou, chamou-me para o Secretariado Nacional da JS. Não éramos amigos, mas acho que ele gostava de mim.” Aproximaram-se desde então e Nuno estava fora do país quando Pedro Nuno lhe pediu para voltar e ser seu chefe de gabinete. Não se esquece das inúmeras reuniões diárias com os partidos da “geringonça”. “Tem uma grande capacidade negocial. Ele é muito focado em cumprir objetivos. Chegávamos a estar reunidos até às duas, três da manhã. Era muito exigente e dedicava-se de corpo e alma.”

Pedro Nuno Santos já foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e ministro das Infraestruturas
(Foto: António Cotrim/Lusa)

Pedro Nuno ganhou aí protagonismo, começou a ser apontado como sucessor de Costa no partido. Assumiu então a pasta do Ministério das Infraestruturas, e mesmo enquanto ministro “sentava-se à mesa, negociava diretamente com os interlocutores”. Entre as polémicas estão a decisão sobre a localização do novo aeroporto que lhe valeu o desentendimento público com António Costa e o dossiê da TAP com a célebre indemnização a Alexandra Reis, a que deu o “ok” por WhatsApp, que acabaria por levá-lo à demissão. Fez uma breve pausa nas aparições públicas, dedicou-se ao ginásio, depois regressou ao Parlamento como deputado e mal aqueceu a cadeira de comentador televisivo na SIC Notícias quando um volte-face no Governo lhe abriu a porta para o que veio a seguir. Fez-se líder do PS, no final do ano passado, numa disputa interna contra José Luís Carneiro. É da ala esquerda, é sabido. E a corrida às eleições legislativas antecipadas está ao rubro.

Jogador de sueca, tribuno na troika

Luís Montenegro que o diga, a campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas a troca de galhardetes tem enchido o espaço mediático. O espinhense prometeu, quando venceu as eleições internas do PSD, que visitaria todos os distritos do país. Assim fez. “Cumpriu e isso é revelador. O Luís tem uma personalidade muito forte, uma preocupação social muito vincada, é muito inteligente, tem destreza mental”, destaca um amigo. Há até quem jure que é um excelente jogador de sueca.

Estreou-se no Parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era primeiro-ministro e esteve 16 anos no hemiciclo. Depois da vitória de Pedro Passos Coelho (em coligação com o CDS), nas legislativas de 2011, foi eleito líder parlamentar, onde muito se destacou. “Eu era o 12.º ministro, porque negociava todas as iniciativas legislativas”, disse em entrevista. Também admitiu que foi por opção que não foi membro do Governo, o convite terá sido feito mais do que uma vez. Tribuno dos tempos da troika, foi nessa altura, em janeiro de 2014, que disse que “a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor”, a frase que tantos anos depois ainda o persegue e lhe vale críticas. Manteve-se no cargo até 2017, é o líder parlamentar do PSD com mais longevidade.

“Na verdade, logo em 2002, éramos os dois muito jovens, o Luís começou a dar nas vistas pelo poder argumentativo”, rebobina Jorge Tadeu Morgado, ex-deputado do PSD, que acompanhou os primeiros passos de Montenegro na Assembleia da República, e que está agora no Parlamento Europeu. O atual líder do PSD sempre estudou os dossiês até à exaustão, preparava os discursos ao milímetro, os argumentos e até os contra-argumentos, a antecipar as perguntas que lhe poderiam ser feitas. Jorge Tadeu Morgado não se surpreende com o percurso político do amigo e tem absolutas certezas de que será ele o primeiro-ministro eleito em março. Não está sozinho. “O doutor Luís Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando subi a primeiro-ministro em 1985, e está tão ou mais bem preparado do que eu estava”, considerou Cavaco Silva, que venceu por uma nesga essas legislativas dos anos 1980, quando ninguém acreditava muito nele.

Luís Montenegro foi deputado na Assembleia da República durante 16 anos e é presidente do PSD desde 2022
(Foto: Paulo Novais/Lusa)

Tem uma irmã mais velha e perdeu o irmão mais novo, que faleceu já adulto de doença súbita. A sua alegada pertença à maçonaria foi uma das polémicas que viveu ao longo da vida política. Disse “não é não” a possíveis acordos com o Chega e já garantiu que só governa se ganhar. Quem o conhece assegura que é “honesto”. Vai a votos em coligação, como líder da Aliança Democrática, que junta PSD, CDS e Partido Popular Monárquico. O que não lhe sai da cabeça, disse recentemente num podcast, é o futuro dos filhos. Diogo, de 18 anos, e Hugo, de 22, um a começar o percurso académico, outro prestes a acabar. Preocupa-se por passar muito tempo fora de casa. Mas talvez deva começar a preparar-se para isso. Ele e o principal adversário, Pedro Nuno Santos. Os dois candidatos do Norte, que cresceram tão perto um do outro. O tira-teimas está marcado para 10 de março.