Ucrânia. Um ano de terror sem fim à vista

Roman, português e ucraniano, fez uma mochila e foi combater. Esteve nove meses no campo de batalha, numa guerra que escolheu lutar e que lhe deixou marcas cravadas para sempre. O ponto final no conflito, 365 dias depois, ainda é uma miragem e as ofensivas escalam. Só as tréguas para negociar poderão anunciar uma saída. E, mesmo sem lá chegarmos, o Mundo mudou. Uma NATO a ganhar palco, uma crise económica, uma Rússia isolada. O futuro vai desenhar-se em cima do desfecho.

A porta que Roman Dovhopoly abre é a mesma que começa a fechar-se quando se obriga a voltar a pôr os pés da memória na guerra. Saiu da Ucrânia há poucas semanas, nove meses depois de lá ter entrado para encontrar a dor do que nunca tinha visto. De cidades desertas lavradas pela destruição, de casas vazias de gente que viraram abrigo para militares, de bombardeamentos sem parar. Os olhos azuis, o ar mais velho do que a idade anuncia, o cigarro a fumegar entre os dedos e o isqueiro sempre na luta para não o deixar apagar. Roman é ucraniano de berço. Filho de uma vaga de imigração do leste, aterrou em Portugal tinha quatro anos. É português acima de tudo, uma jura dele.

Já mal sentia a Ucrânia como sua – a última vez que lá tinha estado havia sido em 2011, em passeio. Mas há um antes e um depois de 24 de fevereiro. Naquela madrugada de 2022, o som das explosões rasgou a Europa. E o Mundo não mais seria o mesmo. “Preciso de munições, não de boleia.” A frase de Volodymyr Zelensky, que viria a tornar-se símbolo de uma resistência imprevisível, escrevia páginas na história de uma guerra que chegou a avizinhar-se relâmpago e que se arrastaria, afinal, lenta, dolorosa, pelos caminhos da devastação e do choque. Ao contrário de Zelensky, Roman, 25 anos – que chegou a servir no Exército português durante um ano, foi militar em Vila Real, para cumprir o sonho que há muito carregava de ser atirador -, pediu boleia. Destino? Ucrânia.

“Uma semana antes do 24 de fevereiro já se falava dos russos na fronteira. Não acreditava que era possível. Naquele dia, deu-me um clique. Não tinha nem TikTok nem Telegram e instalei tudo para acompanhar ao segundo. Cada notificação parecia um filme de terror. E eu que nem queria saber de nada da Ucrânia…” Ao terceiro dia, Zelensky faz o apelo a todos os que se queiram juntar à luta. “Tenho uma vida, tenho trabalho, mas comecei a pensar.” O passaporte que Roman tinha requerido meses antes, pela primeira vez na vida, parecia o prenúncio de tudo o resto. Uma mochila, duas mudas de roupa, três aviões até à Polónia, um autocarro que acelerava no sentido inverso “das filas intermináveis de pessoas a sair”. E a surpresa de ver autoestradas, a evolução pró-europeia do país que não chegou a conhecer assim. Juntou-se à Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, feita de voluntários estrangeiros.

As imagens de Roman e de cenário de guerra incluídas neste trabalho foram cedidas pelo próprio e tiradas por outros soldados
(Foto: DR)

Estávamos em abril quando a Rússia já tinha perdido a conquista da capital ucraniana, Kiev. Aliás, a guerra fez-se, até agora, de avanços e recuos, de avanços e recuos. “Nas várias fases, o que é certo é que Putin perdeu, de um modo geral. Conseguiu avanços, mas, a partir de julho, os ucranianos começaram a resistir melhor e a reocupar território que tinha sido alcançado pelos russos, até chegarmos à reconquista de Kherson.” Que é, para Sandra Fernandes, professora de Relações Internacionais na Universidade do Minho, especialista em Europa, Leste, Rússia, o fim de uma ideia simbólica de que a guerra estava destinada a ser vencida por Moscovo. “Os próprios ucranianos começam, aliás, a mudar a narrativa. Inicialmente, queriam paz e depois deste momento queriam a vitória. Kherson foi fundamental para o espírito de resiliência.” Foi a nesga de esperança, o motor capaz de calar o sofrimento. E Kiev foi provando ao Ocidente que merecia ajuda, “porque a sabe usar de forma eficiente”.

Só que a evolução é um reduto no tanto que é a guerra e não significa que o conflito não continue a perspetivar-se longo, demasiado longo. Estamos longe de saber o que é uma Ucrânia vitoriosa, que se está a ressentir de um ano numa luta desigual e a recuar. Em Kherson, em Bakhmut. Antecipam-se dias sangrentos. Como os que já vimos, noutras fases, com imagens de cadáveres nas ruas, em Bucha, Irpin, Mariupol. A promessa de a ofensiva russa se intensificar está a cumprir-se.

Horas eternas debaixo de fogo

O que se vive por estes dias, em combates sem perdão, Roman sentiu na pele. Estava no meio de uma centena de voluntários, que como ele largaram a vida para ir defender a Ucrânia. “Quem é que sabe falar mais de três idiomas?” Ergueu o braço. Cinco, disse. Português, espanhol, inglês, ucraniano e russo. Uma missão especial, ser tradutor (e atirador) em pleno combate, fazer a ponte entre o exército ucraniano e a Legião Internacional. Começou em Kharkiv, cidade fantasma, onde os russos já tinham entrado. “Uma fase estagnante. Estávamos constantemente a ser bombardeados. Das oito da manhã às quatro da tarde sem parar.” E Roman sempre deitado, horas eternas a rezar a sorte. A ver o primeiro camarada morrer em combate, atingido por fogo de morteiro. A segurar as emoções.

Roman chegou a passar oito horas deitado debaixo de bombardeamentos. Fez parte da contraofensiva que permitiu à Ucrânia recuperar o controlo da cidade de Kupiansk. Às portas da região de Lugansk, a sua equipa recuperou território numa batalha de 12 contra 60
(Foto: DR)

Ali, a destruição escorre pelas ruas como o sangue pelas veias. Chegou a fugir para a cave de uma casa nos primeiros dias, saiu a tempo, antes da explosão, de “morrer estorricado”. Foi aí que ganhou experiência à força das dores. “Éramos animais dentro de uma jaula, queríamos dar resposta e não tínhamos como. Eles eram muito superiores, em número e em armas. O poder de artilharia deles é gigante. Destróis 15 viaturas blindadas num dia, no dia seguinte estão 20 no lugar dessas.”

A 12 de novembro, data em que completou 25 anos no campo de batalha, Roman Dovhopoly foi condecorado por Volodymyr Zelensky com a “medalha presidencial” em nome dos êxitos pessoais e coletivos em combate
(Foto: DR)

Mas a esperança de Kherson, a afamada contraofensiva, Roman também a viveu em Kupiansk, quando recuperaram o controlo da cidade. Aí, capturou soldados russos antes de se juntar a uma brigada de assalto, “os soldados que vão para a frente para ganhar território”, o mais duro que experienciou. Estava em Lugansk, à entrada da região de Lugansk. “Foi muito agressivo. Éramos 12 contra 60. Perdi mais camaradas. O homem que nos ensinou foi morto à minha frente e debaixo de fogo inimigo retirámos o corpo, nunca deixámos corpos para trás.” A lutar por cada metro, a levar semanas para recuperar um quilómetro. “Só numa manhã contámos 250 disparos dos russos. Bombas de aviões, tanques, tudo. Mesmo assim, não desistimos. E conseguimos recuperar terreno.” O que salva a Ucrânia, desabafa, é a vontade de ganhar e a precisão da artilharia. “Eles disparam 30 vezes, nós disparamos uma, usando a tática.”

(Foto: DR)

Comida nunca faltou. Há medo, muito medo. “E ver gente morrer à tua frente… queria ir embora. Vinham-me lágrimas aos olhos. Todos os dias sabia que alguém ia morrer e podia ser eu. É um caos. Mas tinha que continuar a apertar o gatilho.” Passou o aniversário na Ucrânia, foi condecorado por Zelensky, “medalha presidencial”. Viu a felicidade audível das gentes quando entravam em aldeias, a levar-lhes bandeiras, a acenderem fogueiras na rua para os ver passar. Uma senhora disse-lhe: “Obrigada por não se esquecerem de nós, por terem deixado as vossas famílias e virem cá defender-nos”. Não esquece.

O perigo, os riscos

Nas trevas de uma guerra sem fim à vista, tão feita de perdas como de propaganda, Zelensky, o líder improvável de discurso aguerrido, nunca mudou a narrativa. Armas, armas, armas. O reiterado pedido ao Ocidente, o mesmo que fez no recente périplo por Londres, Paris e Bruxelas (e a emoção no discurso no Parlamento Europeu é reveladora). “Ultrapassámos a barreira dos blindados e falamos agora em aviação. Porque os ucranianos querem ganhar tempo, no sentido de não deixarem os russos avançar mais e impedir que ganhem acesso a outros pontos do território”, indica Sandra Fernandes.

Recuemos nesta timeline. Na verdade, desde 2014 que a Ucrânia vive em guerra, com a anexação da Crimeia pela Rússia e a disputa no Donbass. E o atual conflito, assegura Viriato Soromenho-Marques, professor catedrático de Filosofia Política na Universidade de Lisboa, “não nasceu espontaneamente a 24 de fevereiro de 2022”. A história é antiga. “Foi a Rússia que invadiu a Ucrânia e violou o direito internacional. Mas isto não nasce do nada. Houve erros do Ocidente e dos Estados Unidos até chegarmos aqui. É óbvio que a Rússia não fica contente pelo facto de ter a NATO à porta. Quando a União Soviética se dissolveu, houve a promessa de que não haveria expansão da NATO para o leste, em troca do fim do Pacto de Varsóvia. Já em 2007, Putin apelou, em Munique, a uma zona neutra, para manter uma Europa cooperante e sem medos. Estamos a ver os Estados Unidos a aceitarem que o México fizesse parte de uma aliança da China ou da Rússia?”, questiona.

Para lá de tudo, esta guerra, não tem dúvidas, “é o evento internacional mais perigoso desde 1945”. “É a primeira vez que temos um confronto que envolve quatro potências nucleares, duas delas que são de facto as maiores do mundo, Estados Unidos e Rússia, durante tanto tempo. Tivemos um período de 11 dias na Guerra Fria, em que estivemos à beira de uma troca direta, e já foi de uma enorme tensão.” O risco de escalada, assevera, “é real”. “Numa guerra destas não há vitórias. E preocupa-me que se analise isto de forma muito pouco racional, em que quem pede negociações é acusado de pactuar com a injustiça.”

Depois de já ter visitado, em dezembro, os Estados Unidos, onde se encontrou com Joe Biden, Zelensky foi a Londres, Paris e ao Parlamento Europeu
(Foto: Brendan Smialowski/AFP)

Por outro lado, António Martins da Cruz, diplomata e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, aponta o dedo à “total ineficiência ou ineficácia” das Nações Unidas para preservar a paz internacional. “Não é certamente porque a ONU não quer, é pelo desenho do sistema das Nações Unidas e dos membros permanentes do Conselho de Segurança com direito a veto, nos quais está incluída a Federação Russa.” E as limitações que o poder dos cinco magníficos – Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China – trazem à atuação da ONU “vão continuar”. Aliás, as sanções (e já vamos no nono pacote) contra a Rússia não foram determinadas pela ONU. Paralelamente, os países do sul global (África, Ásia, América Latina) “olham para a questão como uma guerra europeia e não como uma crise global. Por isso, a maioria abstém-se quando o problema é tratado na Assembleia Geral da ONU”.

Perante isto, assistimos a uma guerra que dura “há mais tempo do que aquilo que os peritos militares previam no início”. “Não foi curta e não vai ser. Tudo leva a crer que o fim ainda não está no horizonte.”

Apoio internacional e a entrada na UE

Há uma certeza. Com o agravar das condições militares no terreno, os pedidos de apoio de Kiev ao Ocidente não vão parar. “Todas as semanas ou todas as quinzenas, Zelensky, que tem discursos muito bem preparados – que provavelmente não são escritos por ucranianos, porque são muito dirigidos às opiniões públicas ocidentais -, pede mais meios de defesa”, refere Martins da Cruz. E o apoio internacional, mais do que político e unânime na condenação da invasão, tem-se feito a esse nível. Com oscilações, vaivéns e hesitações que foram evoluindo. Os Estados Unidos na dianteira, como primeiros financiadores, e a Europa (com a Polónia e os bálticos, vizinhos do conflito, mais fortes nas posições; França e Alemanha mais contidos) a seguir-se.

Então e Portugal, que vai atribuir, pelas mãos do presidente Marcelo, a Ordem da Liberdade a Zelensky? “Está a cumprir os compromissos que decorrem das decisões na NATO e na União Europeia (UE). Este conflito teve uma enorme vantagem para o país, que foi a valorização da NATO. Portugal tem a sua defesa e a sua segurança baseada na NATO e na aliança com os Estados Unidos. E o conflito veio demonstrar a debilidade da política de defesa europeia e revelar a NATO como única organização de defesa mútua.” A prova disso é que a Finlândia e a Suécia decidiram aderir. Apesar de ser o país da UE mais distante do conflito, Portugal tem dado apoio político, económico, social (já acolhemos mais de 55 mil refugiados ucranianos), ou fornecendo equipamento de defesa.

(Foto: Kenzo Tribouillard/AFP)

Olhemos, pois, para a UE. Um dos momentos simbólicos do ponto de vista geopolítico, em junho, quando a Ucrânia consegue o estatuto de país candidato à UE, numa mensagem forte do Ocidente ao Kremlin, ainda carrega dúvidas. “Esta é a nossa Europa, estas são as nossas regras, este é o nosso modo de vida (…) e é o caminho para casa.” Talvez seja a frase mais emotiva de Zelensky em Bruxelas. Só que a Ucrânia tem o calcanhar de Aquiles dos altos níveis de corrupção. “Isso é certo, mas houve uma questão fundamental, que mudou. O maior vizinho da Europa quer redesenhar o mapa recorrendo a métodos ilegais. E é claro que toda a ajuda que a UE está a dar agora, já muito virada para a reconstrução do país, está ligada ao conjunto de reformas que a Ucrânia tem que fazer para ser um país da UE, em termos de corrupção, direitos humanos”, sublinha Sandra Fernandes. Opinião diferente tem Viriato Soromenho-Marques, que não acredita que venha a ser possível. “A cultura política não é compatível com a da Europa Ocidental. Temos um profundo respeito pelas minorias, pela comunidade LGBT, pelos direitos religiosos, pela liberdade de expressão. E isso não acontece na Ucrânia, não vale a pena estarmos a mentir. E a corrupção é cultural em muitos países da Europa de leste.”

Soluções, futuro e o Mundo a mudar

Voltemos ao conflito. O risco de escalar para uma guerra internacional existe – vejam-se os incidentes na Polónia e na Moldávia a arriscar fazer derrapar. Ainda assim, Sandra Fernandes confia que “não há vontade política de que isso aconteça, inclusive do lado russo, embora eles, pela linguagem, estejam sempre a dizê-lo”. E trepar para o nuclear também não parece real a Martins da Cruz. “Isso faz parte de um discurso russo de pressão sobre as opiniões públicas ocidentais. Porque a utilização de armas nucleares, mesmo táticas, ia desencadear um risco incalculável.”

Mas o ponto final não está perto. Sandra Fernandes resume. “Se ganhar a guerra significa a Ucrânia recuperar totalmente o território, inclusive no Donbass e na Crimeia, então não há fim à vista. Se ganhar é um cessar-fogo que permita à Ucrânia manter grande parte do território, com algumas perdas, é possível. Só que isso não é aceitável para muitos estados, que partilham da ideia de que a Rússia tem que ser derrotada para que não use a mesma estratégia noutros sítios.”

(Foto: DR)

Para Viriato Soromenho-Marques, as tréguas já foram possíveis, quando a Rússia deixou Kiev e as negociações se podiam limitar à zona do Donbass. “Deixou de ser possível e agora é impossível, porque estamos numa fase de grande confrontação.” Porém, tudo o que possa vir de uma vitória provisória – de um lado ou do outro – pode ter desfechos trágicos. “Se a Ucrânia vencer a Rússia, expulsando-a do seu território, tenho dúvidas de que Moscovo não tente escalar recorrendo a outras armas. Se, por outro lado, a Ucrânia chegar a um ponto de fragilidade e a NATO se sentir inclinada a apoiar com tropas no terreno, vamos deslizar para um confronto com 90% de possibilidades de evoluir para o nuclear. Porque a NATO tem muito mais capacidade convencional do que a Rússia.”

Só calando as armas é que pode começar a desenhar-se o desfecho (e a paz, essa, vai levar muito tempo de diplomacia). Só as tréguas – no sentido de parar as hostilidades, sem haver ainda uma geografia definida e mantendo as tropas no terreno – podem ser a saída. Isto é, congelando a guerra para iniciar a negociação. Essa é uma certeza de Martins da Cruz. “Uma guerra só termina com negociações. O problema é se estão criadas condições para essas negociações. E neste momento parece que não.” As duas partes estão irredutíveis. E Washington “é a única voz que pode dizer à Ucrânia para se sentar e negociar”. Contudo, os Estados Unidos ainda não parecem inclinados para isso.

Mesmo sem se adivinhar o fim, quase 365 dias depois, o Mundo mudou. Assistimos à revalorização da NATO, à neutralidade da China, ao isolamento de Moscovo. “A Rússia deixou de ser europeia, do ponto de vista diplomático, económico e de integração geopolítica do continente”, observa Sandra Fernandes. A UE está finalmente a rever a política de defesa e a política energética, que nunca se tinha conseguido antes por falta de consenso. Em termos de economia global, “a consequência é gravíssima”, com taxas de inflação a disparar e o Mundo a perceber o “quão centrais são a Rússia e a Ucrânia na produção de cereais e na produção energética”. E o conflito veio tornar evidente, diz a docente, “que há uma ideia de um Mundo livre, criada depois de 1945, que não é adquirida e que tem que ser repensada”.

Há coisas da guerra que Roman não conta. Voltou da Ucrânia no início de janeiro, ileso, depois de nove meses a lutar. Continua a manter contacto com quem esteve em combate ao seu lado. Telefonam-se. E sofre em silêncio quando ouve o som de balões a rebentar ou de fogo de artifício
(Foto: DR)

E o futuro? “A França, que é uma potência nuclear, e a Alemanha, que é uma potência económica, têm a obrigação de estar a pensar no que vai ser a Europa depois do conflito, em definir as linhas de segurança. E, para isso, Estados Unidos e Rússia também têm de estar sentados à mesa”, avisa Martins da Cruz. Que é como quem diz: os canais diplomáticos têm de se manter abertos.

Roman deixou a Ucrânia há pouco mais de um mês. Em janeiro chegou a hora. Voltou para Portugal. Depois de estar perto da morte, de aprender a “matar as emoções”. Voltou a tomar banhos de água quente, a vestir roupa limpa. Está a adaptar-se à vida civil, a viver sem estar debaixo de mísseis. “Isto vai ficar para sempre comigo.” Sabe que a luta no terreno será longa. Certezas? Uma. “A Ucrânia vai vencer, não tem outra opção. Ou morrem, ou ganham.”