Quando George conheceu Andrew

Durante meia década de 1980, é possível que os britânicos Wham! tenham sido a mais popular banda pop do Planeta (os Duran Duran poderão ter uma opinião diferente). George Michael e Andrew Ridgeley tiveram um percurso breve, de 1981 a 86, o sucesso não foi imediato, despediram-se no topo da montanha da música popular com um concerto no Estádio de Wembley, em Londres, para 72 mil pessoas, e jamais se falou a sério de um regresso do grupo ao ativo, apesar da amizade entre ambos que permaneceu até à morte de Michael no Natal de 2016. O brilhante cancioneiro dos Wham!, tão sucinto quanto multifacetado e perene, revela um compositor e intérprete com uma expressividade e visão estética raras.

Nada disto passa ao lado de “Wham!” (Netflix), eloquente biografia documental do realizador americano Chris Smith, que intercala trabalhos focados na cultura popular com séries de investigação como a autoexplicativa “The disappearance of Madeleine McCann” (2019) e “100 foot wave” (2021), sobre Garrett McNamara e as ondas da Nazaré. “Wham!” é um trabalho que assenta, e bem, nos valores clássicos do documentário, da história exposta de forma clara e cronológica ao abundante recurso a imagens de época. A cola narrativa do filme é um achado: os álbuns de recortes em que a mãe de Andrew Ridgeley foi guardando as aventuras da banda – de um arranque titubeante, em busca de identidade e de sucesso, à conquista do Mundo, incluindo uma inaudita passagem pela China. Com as vozes dos dois protagonistas em off, viaja-se ao tempo em que George Michael ainda era Yog (vindo do seu nome de nascimento, Georgios Kyriacos Panayiotou), ao princípio da festa com “Club Tropicana”, ao olho do furacão da fama, à passagem pelo Live Aid, à evidente ânsia de Michael trilhar um caminho mais individual, ambicioso. Tudo contado com empatia. O afeto e cumplicidade que parecia ligar os Wham! antes, durante e após os dias de fama a dois é matéria poucas vezes expressa neste tipo de documentários.