Os refúgios dos famosos longe da televisão

Cansados do estrelato, Pedro Barroso, Ljubomir Stanisic, Paula Neves, Sara Prata e Hélder Reis elegeram refúgios longe da televisão. A vida rural reúne as preferências nesta viagem de Sintra ao Alentejo e de Trás-os-Montes à Beira.

É junto ao cruzeiro do Freixo, uma aldeia do município de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, que pode ser encontrado Pedro Barroso. Outrora galã de novelas, em produções como “Morangos com açúcar” ou “A Herdeira”, ambas da TVI, o ator e desenhador de joias, de 37 anos, “fugiu” de Lisboa e do “barulho das luzes” da ficção nacional para se radicar no campo, por altura da pandemia. Na Cervejaria Central, troca dois dedos de conversa com o Tio Zé, proprietário do espaço, que reconhece como um “embaixador da aldeia” e lhe faz o movimento de uma “bênção” com o punho direito. Os dois ficaram amigos desde que Pedro Barroso chegou à localidade e o ator até já apresentou o dono do estabelecimento ao país na televisão, quando foi visitado, recentemente, por Manuel Luís Goucha, que o entrevistou para a estação de Queluz de Baixo.

Por alturas do segundo confinamento, em 2021, Pedro Barroso começou a sentir “outra energia” e quis ter “outro tempo”. Primeiro, instalou-se numa casa da família de Mariana, a namorada; mas o casal acabou por construir a própria habitação, uma casa de pedra, à antiga, com jardim, baloiços e com direito a uma pequena motorizada à porta, que o artista há de utilizar para a sessão de fotografias da “Notícias Magazine”. Na habituação ao campo, começou por cortar madeira, depois plantou a primeira horta, sempre com a supervisão da Tia Emília, familiar da namorada.

“O Freixo faz parte de uma feliz descoberta vivida com a Mariana, minha companheira, que guarda memórias de família nesta zona. Apaixonei-me por São Pedro do Sul, pela sua beleza e história, pelas pessoas, pelo verde, pelos cantinhos mágicos que por aqui existem. Também me ‘convenceu’ a gastronomia”, partilha o intérprete. “Este é um lugar cheio de boa energia, que diariamente desperta os meus sentidos e me leva a querer dar a conhecer a todos estes cantinhos mágicos. Foi este lugar que me inspirou para a rubrica ‘Cantinhos do Barroso’, que publico semanalmente (nas redes sociais). Consigo ter, sobretudo, paz e tranquilidade”, acrescenta.

“Apaixonei-me por São Pedro do Sul, pela sua beleza e história, pelas pessoas, pelo verde, pelos cantinhos mágicos que por aqui existem”, reconhece Pedro Barroso
(Foto: Tony Dias/Global Imagens)

Para se alhear da pressão das novelas, começou por eleger a Nazaré, onde, numa tenda, desligava o telemóvel. Seguiu-se, mais tarde, a mudança para o Freixo. “Há qualidade de vida a todos os níveis. Todas as razões que apontei antes e que me fizeram tomar a decisão de mudança. Ausência de trânsito, tranquilidade, locais maravilhosos para descobrir. A generosidade da culinária da Beira. A generosidade das pessoas. Tempo… bons sorrisos e bons abraços”, insiste.

Em termos de atividades agrícolas, Pedro Barroso define-se como “um mero curioso”. “Tenho aprendido muito, mas não significa um investimento considerável do meu tempo. Vou fazendo algumas coisas aqui e ali, que as gentes das terras de Lafões têm para me ensinar.” Apanha de mirtilos, batatas e a ameixas estão entre as principais ocupações. “Já plantei alguns legumes, mas nada que me transforme num agricultor ou que possa dizer que me dedico às atividades agrícolas. É um projeto a desenvolver”, assume.

O mesmo já não se pode dizer de um dos seus principais trabalhos, a joalharia – a marca Amara, que significa eterno, tem joias a partir dos 45 euros. O ator e influenciador digital mostra como se faz num anexo da casa no Freixo e manuseia diversas máquinas. Berbequim, punções, maçarico, lixas, discos e brocas de cobalto. “Quanto à Amara, é o meu selo. Sempre quis fazer peças. Era um desenho já fechado na minha cabeça. Apenas era preciso encontrar a tranquilidade necessária para a criação, do design das peças à conceção das mesmas. É um investimento do meu tempo, e do da Mariana, que considero como uma das minhas maiores fontes de energia. E o facto de termos o laboratório contíguo à residência permite-nos uma gestão do tempo tranquila e produtiva”, conta. Os genes artísticos vêm da parte da mãe, que pintava e lia poesia. Uma das primeiras peças que criou foi feita em braile, em homenagem ao afilhado, Périto.

O filho, Santiago, de um ano e meio, já nasceu em Viseu. “Que desfrute desta energia única do campo, mas igualmente da cidade. Queremos poder dar lhe um máximo de experiências que o possam despertar”, assinala Pedro Barroso. Quanto ao regresso a Lisboa, parece pouco provável, mas o mesmo não se pode dizer em relação à ficção. “Tudo a seu tempo. Existem projetos na mesa. Fica um até já.”

(Foto: Tony Dias/Global Imagens)

Longe dos grandes centros urbanos, o intérprete aposta, ainda, no digital e foi eleito um dos principais influenciadores nacionais, segundo a “Forbes”. “Hoje em dia, a distância deixou de ser um entrave no que concerne à comunicação. Os nómadas digitais estão bem presentes no nosso mundo e triunfam. O digital tem essa vantagem de nos aproximar, mesmo com muitos quilómetros pelo meio. Experienciamos sem lá estar. Relativamente ao nosso posicionamento, é resultado de muito trabalho e de empenho pessoal, bem como de toda uma equipa”, realça, à despedida.

À caça em Grândola

É considerado o “bad boy” da televisão portuguesa e o feitio “difícil” valeu boas audiências para a TVI, antes de se mudar para a SIC. Ljubomir Stanisic, 45 anos, chef de cozinha e apresentador de programas de televisão – “Hells’Kitchen”, agora com famosos, deve estrear depois do verão, na antena do terceiro canal -, precisa de um espaço para descansar da intensidade que entrega nos seus restaurantes e no pequeno ecrã. O cozinheiro elegeu Grândola para o repouso do “guerreiro”.

“Pode ser considerado o meu santuário, mais do que um refúgio. É o local onde descanso, crio, produzo novas experiências, relaxo a cabeça, vou à caça, uso o laboratório para produzir coisas. Por isso, sem dúvida nenhuma, é um santuário, uma casa. Praticamente eu vivo aqui”, refere.

“É o meu santuário. É o local onde descanso, crio, produzo novas experiências, relaxo a cabeça, vou à caça”, conta Ljubomir Stanisic
(Foto: Fabrice Demoulin/100 Maneiras)

Um dia no monte nunca é certo. “Depende da horta e das estufas de agrofloresta, dos caminhos, das regas… existe muito trabalho quando se vive no campo. Ter uma horta de grande dimensão como a minha dá muito trabalho. O meu dia a dia nunca é igual.” Além disso, o empresário da restauração trabalha muito com ferros e madeiras – a maior parte dos utensílios do monte é fabricado pelo próprio. “Passo muito tempo a construir peças, camas, candeeiros, baloiços, utensílios de cozinha. E uma grande parte do tempo, inclusive, estou no laboratório a criar novas fórmulas: por exemplo, acabámos de fazer uma linha de três vermutes a pedido da Filipa Pato e do William Wouters, a partir do laboratório de Grândola, com ingredientes 100% biológicos”, destaca, sem esconder o orgulho.

(Foto: Fabrice Demoulin/100 Maneiras)

Ljubomir Stanisic apaixonou-se pelo “Alentejo puro, de aldeia, perto do mar, um terreno acidentado, cheio de sobreiros e medronheiros e com a grande vantagem de ficar perto de Lisboa”. “Numa hora estou no restaurante, em casa e com os filhos. Por outro lado, esta é uma zona muito perto da água e isolada – não tenho nenhuma casa à minha volta. Mas estou muito perto de tudo na mesma, da lota de Sines, de Grândola, de Santiago do Cacém, de Melides”, exemplifica.

“Embora adore Portugal inteiro, tenho um amor especial por esta zona. Preocupa-me muito as políticas da região, a seca gigante e as faltas de água. Precisamos de lutar um pouco contra isso tudo, para melhorarmos a qualidade da terra e do ar.” O monte, em Grândola, é, cada vez mais, a opção para uma vida intensa longe das luzes da ribalta. “Já hoje, assumidamente, tenho passado mais tempo no Alentejo do que em Lisboa. E pretendo passar o máximo de tempo possível aqui. Vou a Lisboa por questões de trabalho, por causa dos restaurantes 100 Maneiras. Mas cada vez vou querer passar mais tempo em Grândola”, revela o chef bósnio.

(Foto: Fabrice Demoulin/100 Maneiras)

Ljubomir Stanisic considera que já provou tudo o que tinha a provar. “Tenho 31 anos de cozinha, já construí muitos projetos, concretizei muitos sonhos. Sinto que não tenho de demonstrar, nem competir, nem provar mais nada. Quero ser cozinheiro para sempre, mas há outras coisas que me encantam, como a produção de vinhos, tarefa que desempenho em paralelo há 15 anos”, confidencia. E é aqui que surgem acordos com diversos parceiros. “Tenho parcerias especiais com produtores, como o Mateus Nicolau de Almeida, o Luís Louro, da Adega Monte Branco, o Dirk, o Daniel e o Luís Pedro, da Niepoort, e o António Maçanita. Estes projetos, o contrato com a SIC e outros eventos e workshops permitem-me ter mais liberdade, não estar sempre ao fogão e na gestão diária da cozinha. Cada vez mais, viva Grândola, esta terra da fraternidade!”, remata, bem-disposto.

Uma “fatia de paraíso”

Nas Azenhas do Mar, em Sintra, Paula Neves, 45 anos, tem o seu “cantinho de céu”. Uma casa com horta e jardim que é um refúgio da azáfama das gravações das novelas ou das peças de teatro que interpreta um pouco por todo o país. “Começámos por fazer um relvado, planta a planta. Como o terreno é areia tivemos uma infestação de daninhas que tiveram de ser tiradas uma a uma, isto é quase como tratarmos de um bebé”, revela à “Notícias Magazine”.

“Já temos um pedaço com um relvado, depois construímos floreiras em madeira. Gostámos tanto de trabalhar neste material que, aproveitando uma casinha que tínhamos aqui, pintámos, envernizámos – fizemos o processo todo”, adiciona, orgulhosa. “Construímos a horta, que ainda está a meio, queremos fazer o dobro. Já plantámos tomate, curgete, beringela, pepino e muitas pimenteiras.” Este ano, foi construir os caminhos do jardim, tratar das paletes, envernizá-las. “E este caminho em madeira colorida também foi feito por nós”, prossegue, sem esconder a motivação e a alegria.

“Associamos refúgio a uma segunda casa, mas a necessidade de um refúgio das nossas profissões era tão grande que decidimos que a nossa casa principal seria o refúgio” , explica Paula Neves
(Foto: DR)

Paula Neves, a eterna “trinca espinhas” da novela “Anjo selvagem”, uma das tramas de maior sucesso na história da TVI e na qual era protagonista ao lado do ator José Carlos Pereira, não tem dúvidas. “Para mim a casa é um refúgio. É estranho porque associamos a palavra a uma segunda casa, a um sítio onde se vai de fim de semana, mas nós somos tão caseiros e a necessidade de refúgio das nossas profissões era tão grande, que nós decidimos que a nossa casa principal seria o refúgio”, salienta.

A propriedade, nas Azenhas do Mar, em Sintra, a meia hora de Lisboa, vale o esforço. “Saímos da cidade, fomos para o campo, para trabalhar é um pouco mais exigente, porque estamos longe, mas compensa todos os dias chegar a casa e ter isto, o campo, o pinhal, o barulho do mar, os passarinhos, este cheiro tão característico. Não há uma vez que não chegue a casa e que não respire fundo e pense: ‘agora sim, posso relaxar e estar em paz’.”

(Foto: DR)

Paula e o marido, Ricardo Duarte, já tinham morado não muito longe, em Galamares, mas a atriz recorda que sofreu “um bocadinho” com a humidade. “Claro que em agosto esta zona é cinzenta mas, tirando isto, esta casa é hiperquente. Até foi uma grande novidade que nesta zona houvesse uma zona que tivesse tanta exposição solar. Estamos aqui na nossa fatia de paraíso muito apaixonados pela casa”, descreve.

O espaço, conta, é feito para receber amigos. “Adoramos receber pessoas, a casa é feita para convívio e fazemos grandes patuscadas que raramente duram menos de dez horas porque esta casa é muito convidativa, é agradável de estar e nós adoramos cozinhar. Desde que consigamos pôr a mão na massa estamos felizes, então os amigos vêm ter connosco e dizemos ‘venham, a porta está aberta’”, resume Paula Neves.

Cabeça nas estrelas

É no Torrão, no Alentejo interior, entre Ferreira do Alentejo e Alcácer do Sal, que Sara Prata e a família – o marido, João Leitão, e a filha, Amélia – se instalaram. E não se arrependem um minuto. Como a artista vai revelar mais à frente nesta reportagem, os três dependem totalmente da “Natureza”, algo que ambicionavam há muito.

“Temos campo à nossa volta, imensas árvores, temos mantido o aspeto mais rústico, até porque é assim que eu gosto de viver e é assim me sinto em casa, rodeada de Natureza. Afinal, foi assim que eu cresci, na casa dos meus avós. É aqui que desligo a cabeça”, frisa a intérprete, de 39 anos, à “Notícias Magazine”. “É um cantinho no Alentejo interior onde vamos respeitando a Natureza e a casa em si, uma casa pequenina onde eu pretendo que a minha família cresça feliz e tranquila. O objetivo é podermos, sempre que possível, fugir da cidade e sermos simplesmente livres.”

“Há rotinas impagáveis: apanhamos flores, brincamos com tudo, passeamos de bicicleta e todos os dias temos de ir dizer olá às ovelhas do vizinho” , afiança Sara Prata
(Foto: DR)

A poucos minutos, têm a Barragem Vale do Gaio, “que dá sempre para fazer uns passeios de bicicleta, onde também são feitos piqueniques”. “Aqui as horas têm mais tempo, e conseguimos aproveitar mais”, sublinha a atriz. A família adquiriu a casa há dois anos, na altura em que Amélia nasceu, e, “assim, há muitas memórias de toda esta fase da vida”. “Quando procurámos uma casa de campo, um dos nossos objetivos era estar longe da cidade, para podermos viver noutro ritmo, noutra realidade. Queríamos também que fosse no interior do país, que tantas vezes é esquecido. E era nesse ‘esquecimento’ que queríamos um cantinho nosso”, adianta Sara Prata.

“Foram muitos meses de procura”, até que a família encontrou, finalmente, este monte que correspondia a todos os requisitos: “Por um lado, estamos isolados, mas não tão isolados assim, e à distância de comércio, restaurantes e de um pedido de ajuda, se for necessário. Porque quando estamos longe também é importante contar com aqueles que aqui vivem. A verdade é que os torranenses têm-nos recebido muito bem e de forma supercalorosa”.

Sara Prata, o marido e a filha aproveitaram mais o tempo no campo durante a pandemia. “Foi um luxo termos espaço para respirar, brincar no exterior, fazer petiscos e estar sempre lá fora.” O projeto começou quando a atriz ainda estava grávida. “Fizemos muitas visitas à obra, na altura, e se a pandemia atrasou o processo, também é verdade que possibilitou que as nossas escolhas fossem mais conscientes e ecológicas.” Assim, a água vem do furo, a energia é proveniente de luz solar e até os pisos usados são orgânicos. “Tudo é sustentável, nada está ligado à rede e dependemos totalmente da Natureza. Também temos de dar em troca. Mas não é um projeto terminado, todas as semanas, apesar de virmos para descansar, temos alguma coisa para fazer ou ideias novas”, refere a atriz.

(Foto: DR)

O Torrão é, por isso, o refúgio ideal longe dos holofotes da fama. “Sempre que conseguimos, fugimos para aqui, sem muita tralha, nada de maquilhagem, secador e absolutamente sem pressões. É nesse caminho que me encontro. Sou de me entregar a cem por cento a todos os projetos profissionais, mas o equilíbrio garante-se com tempo para a minha família e tempo para mim”, assegura. “Sempre que tenho uma folga, ou um dia para mim, é aqui que vivo. É a casinha do meu coração. Sempre que podemos, agarramos nos cãezinhos e vimos para cá.”

E a filha está rendida à propriedade. “A Amélia adora brincar aqui. Há rotinas impagáveis: apanhamos flores, brincamos com tudo, passeamos de bicicleta e todos os dias temos de ir dizer olá às ovelhas do vizinho.” E há as sestas. “As sestas aqui também são em silêncio absoluto, sem qualquer barulho, à noite vemos as estrelas – aqui o céu é o mais bonito do Mundo – e ouvimos grilos. Costumamos dizer que, aqui, a Amélia é a nossa ‘Mogli’, pois anda sempre descalça e de mãos na terra. É uma paz absoluta e ainda bem que encontrámos o nosso monte, porque encontrei ainda mais felicidade para a minha família, para a minha filha, sobretudo”, sintetiza Sara Prata.

“O mel vai ser o caviar da agricultura”

No Valle das Corujas, em Trás-os-Montes, cheira a rosmaninho – uma das grandes identidades de Mirandela -, que pinta os campos de um delicado lilás e dá um mel perfumado e suave. Palavras de Hélder Reis. “É quase a nossa assinatura. Quando está em flor, sinto que estou num dos lugares mais bonitos do Mundo, é fabuloso”, diz o apresentador da RTP, 48 anos, que, como os restantes protagonistas desta reportagem, quis sair do “barulho das luzes” que implicava uma permanente e desgastante exposição pública. Começou por ser assistente no programa das manhãs “Praça da alegria” e foi-se destacando na estação pública, até ganhar o estatuto de um dos apresentadores mais acarinhados do primeiro canal.

Este projeto agrícola nasceu da paixão por Trás-os-Montes. “A apicultura é uma área da agricultura que precisa de muito trabalho, e vimos aí uma oportunidade. Apostar na qualidade do mel, na imagem do produto e na comunicação. Os portugueses têm de saber que o nosso mel é dos melhores do Mundo, e que dá muito trabalho, é urgente valorizar este produto”, vinca.

“É urgente habitar as nossas aldeias. Mascarenhas é uma aldeia agrícola, com vida, com identidade. Somos muito acarinhados pelas gentes da terra”, assegura Hélder Reis
(Foto: DR)

“O mel vai ser o caviar da agricultura daqui a uns tempos”, estima Hélder Reis, que também produz azeite e amêndoa. “Somos agricultores de Trás-os-Montes e queremos levar esta terra pelo Mundo fora. Tem características únicas… produtos de excelência, cultura, história, Natureza, gente boa e… sossego. Acho que se conhece pouco Trás-os-Montes, infelizmente”, defende o apresentador da estação pública.

Longe da pressão da “caixinha mágica”, Hélder Reis define-se como “um agricultor”. “É muito importante alargar conhecimentos e experiências. A televisão é incrível, mas eu preciso de me complementar com outros trabalhos. No entanto, só faço o que me dá felicidade. Trabalho nos apiários, no armazém, na loja online, na comunicação. Fiz formação na área, mas é no terreno que aprendo todos os dias. Não dou a imagem, dou todo o meu empenho e trabalho”, diz ainda.

Na aldeia de Mascarenhas fica o armazém. “É urgente habitar as nossas aldeias. Mascarenhas é uma aldeia agrícola, com vida, com identidade, com a sua capela, fontanário, café, casario típico… É aldeia de cerejas, de azeite e mel. Nós demos vida a este setor, é um orgulho e somos muito acarinhados pelas gentes da terra”, evidencia.

(Foto: DR)

Antes de Valle das Corujas nascer não havia abelhas na aldeia. “Nós levámos centenas de colmeias para os campos, aumentámos a polinização. O apicultor é essencial para um ecossistema válido, mas sinto que ainda se olha para o apicultor sem consciência do seu trabalho e da sua importância. Em Espanha, quase se paga ao apicultor, aqui é uma luta para tudo. Mas é o consumidor português que tem de comprar o que é nosso, exigir mel nacional. E esqueçam o mel barato. O bom mel não pode ser barato”, considera.

O mel é uma boa alternativa aos açúcares processados? “O mel tem mais de 70 propriedades benéficas para o corpo, de antioxidante ao reforço imunitário. É uma caloria, mas não é uma caloria vazia. É pura e rica. Eu tomo uma colher de café de mel por dia, e tenho o meu açúcar. Mas também produzimos pólen, que é uma superproteína, própolis e uma linha de bem-estar com os nossos produtos da terra”, pormenoriza.

O Valle das Corujas já está quase em todo o país e também em França, Bélgica, Luxemburgo e a fechar contrato em novos países. “E sinto que nos começam a reconhecer pela qualidade e pelo cuidado com a imagem. A ilustradora Sónia Borges tem feito um trabalho de desenho notável. É arte num rótulo”, remata.

(Foto: DR)

Além de apresentador e de agricultor, Hélder Reis é, também, escritor, outro “refúgio”. A reação ao seu último livro, “Sabíamos tão pouco sobre o amor”, “está a ser incrível”, exulta. E a terra que resolveu adotar para a produção de mel é, também, referenciada na obra. “Já vai na segunda edição e tenho recebido comentários muito emotivos. É um livro que também fala de Trás-os-Montes, dos anos 1960 aos anos 1990, mas vai ao Brasil, acompanha duas ditaduras, e conta a força de quem quer vencer, e uma grande história de amor. São bons ingredientes. Estou muito feliz e a trabalhar nos próximos livros. A escrita é essencial na minha vida. Faz-me abrandar o ritmo”, admite à “Notícias Magazine”.