Os primeiros passos para ajudar o Planeta

O "Consultório de Sustentabilidade" desta semana, por Joana Guerra Tadeu.

Tenho lido sobre a crise climática e quero contribuir para a resolução. Por onde começar?
Renata Braga, pergunta recebida por email

Bem-vinda! Já deu o primeiro passo: estar a par das notícias, deixar-se afetar pelo que significam para o seu bem-estar, para os direitos humanos e para as futuras gerações e querer agir. O segundo passo acontece ao tropeçar nesta crónica: encontrar a sua tribo.

A única forma de não se perder no medo de não se implementarem as soluções a tempo, na culpa pela sua própria pegada ambiental e na frustração com os líderes que continuam a não fazer o suficiente, é juntar-se a coletivos que, não só sirvam de rede de apoio, mas sobretudo que amplifiquem a sua voz e impacto, agindo coletivamente para influenciar agentes políticos e económicos: junte-se ao Climáximo para lutar por uma transição justa, ao GEOTA para contribuir para a reflorestação, à Sciena para cuidar do oceano ou à ASPEA para trabalhar em educação ambiental.

Só em terceiro lugar vem o passo de se comprometer com hábitos mais sustentáveis. Porquê? Considere que, em média, uma pessoa, em Portugal, emite cerca de seis toneladas de CO2 e por ano e que o fecho da central termoelétrica de Sines cortou seis milhões de toneladas de CO2 por ano. A ideia de usar a medição de pegada de carbono para envergonhar indivíduos foi da BP, uma das maiores exploradoras e distribuidoras de combustíveis fósseis, uma das maiores empresas do Mundo em receitas e lucros, e uma das maiores poluidoras globais, numa campanha publicitária que lançou em 2003.

De modo geral, as ações individuais com mais impacto no Planeta são a maneira como nos deslocamos (os transportes representam 22 a 25% das emissões globais de gases com efeitos de estufa (GEE)), a quantidade de carne e outros produtos de origem animal que consumimos (a pecuária representa 14,5% das emissões globais GEE e os portugueses têm hábitos de consumo muito acima da média) e o desperdício alimentar que geramos (responsável por 8 a 10% das emissões globais de GEE).

Diria que na mobilidade é onde há menos capacidade de adaptação, já que os sistemas de transportes públicos em Portugal deixam ainda muito a desejar em extensão, qualidade, acessibilidade e preços e a resposta sustentável não está na aquisição de transportes individuais. Mas na alimentação e no lixo há muito que podemos melhorar com facilidade.

Recuse tudo o que lhe parecer inútil, desnecessário ou insustentável, como quase todos os descartáveis em quase todas as situações; reduza o consumo de produtos, água e energia; repare o que se avaria, prolongando, tanto quanto possível, o tempo de vida útil do que possui; reutilize, empreste, alugue, troque, ofereça, compre e venda em segunda mão; recicle, fazendo a correta separação dos resíduos e compostando os resíduos orgânicos. Se não fizer mais nada, introduza uma refeição vegetariana por semana na rotina familiar (e depois outra, e outra, e outra…). Bom apetite!

Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática e autora de “Ambientalista Imperfeita”

*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, Jardinagem, Saúde, Finanças Pessoais, Sustentabilidade e Sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected].