Leite, fraldas, roupas. Tudo a multiplicar. Até as alegrias

Num dia sem filhos, noutro com vários. A história de três casais que encheram a casa de uma só vez e que viram as suas vidas dar uma volta de 180 graus.

“Um, dois, três, bem, eu para já vejo quatro.” Foi a frase que virou do avesso a vida de Carlos e Sónia, pais de primeira viagem, quando descobriram que iam ter quadrigémeos, fruto de uma gravidez natural. Como se costuma dizer: “Tem cuidado com o que desejas”. É que Sónia queria gémeos, mas o destino pregou-lhes uma partida e o desejo veio a dobrar. Carlos pareceu adivinhar. No dia anterior à ecografia que ia confirmar ou deitar abaixo a possibilidade de terem os dois bebés que tanto ansiavam, disse à mulher: “Amanhã não vão ser dois, vão ser quatro”. O pai não esteve na ecografia e soube da novidade através de uma chamada telefónica. “Ele achou que eu estava a brincar”, ri-se Sónia, agora com 45 anos. “Sem exageros, estive ali dez, doze segundos, queria dizer alguma coisa, abria a boca, queria falar e não conseguia, não saía nada”, conta Carlos Fangueiro, 46 anos. “Ficámos extremamente felizes, mas foi um choque.”

Passada a surpresa, estavam a braços com uma gravidez de alto risco e os bebés Diogo, Cátia, Sofia e Raquel vinham a caminho. A meta era chegar às 28 semanas de gestação. ”O que eu tinha sempre em mente era que a médica me dizia que até às 28 semanas, pelo menos, tinha de aguentar, porque só a partir daí podia ser viável”, continua Sónia.

A gravidez é, habitualmente, unifetal, podendo, porém, ocorrer gestações com dois ou mais fetos. Segundo Gustavo Rocha, médico pediatra no Hospital de São João, no Porto, o tipo mais comum de gravidez múltipla é gemelar, com dois fetos. As gestações com três ou mais fetos, por sua vez, são menos frequentes – cerca de 80 em 100 mil nascimentos, explica a especialista em ginecologia-obstetrícia Teresa Castro, também do Hospital de São João. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022 registaram-se 82 676 nascimentos em Portugal, 1264 dos quais de gémeos e apenas 18 de três ou mais fetos.

As gestações múltiplas podem ocorrer de forma natural quando o óvulo materno, após ser fecundado pelo espermatozoide paterno, se divide em dois conjuntos celulares com a mesma informação genética, desenvolvendo gémeos idênticos. Em dois terços das gestações múltiplas, no entanto, os gémeos são diferentes, resultando da fecundação de dois óvulos por espermatozoides diferentes.

A família de Sónia e Carlos emigrou em 2012. Longe do mar de Matosinhos, Diogo, Cátia, Sofia e Raquel cresceram no Luxemburgo e dizem-se felizes por lá
(Foto: DR)

No ano passado, Paços de Ferreira viu nascer um conjunto de trigémeos: Íris, Lia e Miguel. Pedro Bessa e Lêda Lima, ambos hoje com 35 anos, casaram em julho de 2021 e começaram logo a tentar ter filhos. Não sabiam é que seria tão rápido. Nem tantos. Queriam ter um bebé, mas, em outubro do mesmo ano, Lêda começou a ter dores. Após uma ecografia inicial que parecia apontar para uma gravidez de gémeos, foi confirmado que um dos óvulos fecundados se tinha multiplicado, dando origem a Íris e Lia, e que um segundo óvulo formou Miguel. “Fiquei branca, sem reação e feliz, pois não estava à espera de engravidar tão rápido e logo de trigémeos. Senti-me a mulher mais feliz do Mundo e abençoada”, confessa Lêda. O marido, porém, ficou “em choque” e “preocupado”. “Ele não tinha trabalho certo. Trabalho tinha, mas não recebia o ordenado e isso deixou-o triste e revoltado.”

Tratamentos de fertilidade aumentam gestações múltiplas

As gestações múltiplas podem também resultar de técnicas de reprodução medicamente assistidas, como a fertilização in vitro (FIV) e a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), e estão associadas ao número de embriões transferidos para o útero da mulher. “Este uso contribuiu para o aumento do número de gestações múltiplas”, explica Gustavo Rocha.

Foi assim que os trigémeos Pedro, Rodrigo e Carolina chegaram ao Mundo a 11 de outubro de 2012. “Foi um bónus. Foi uma promoção que apanhámos”, ironiza o pai, Nuno Machado, agora com 48 anos. É que quando Nuno e a mulher, Ana, de 46 anos, decidiram aumentar a família, o número ideal era dois filhos. “Gostávamos de ter dois, mas se viesse um, era um. Nunca fizemos assim um grande cavalo de batalha desse assunto”, garante Nuno. O processo de engravidar mostrou-se complicado e o casal recorreu à FIV, transferindo dois embriões. “Normalmente, aquilo que nos aconselhavam era pôr a mais, porque nem sempre vingam todos. Se vingassem os dois, teríamos gémeos, que poderia ser aquilo que nós até idealizávamos, na melhor das hipóteses, ter o casal que ela tanto queria. Se não vingasse, ficaríamos com um. O que nós queríamos era ter pelo menos um filho”, prossegue o pai.

Assim que Pedro, Rodrigo e Carolina nasceram, Nuno e Ana Machado mudaram-se para Leça da Palmeira, para terem mais apoio familiar. Os irmãos, hoje com dez anos, destacam a “companhia”, o “carinho” e as “brincadeiras” entre os três
(Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

Para espanto do casal, não só vingaram os dois, como veio um brinde: um dos embriões multiplicou-se. “Um certo dia, fomos para uma ecografia. A médica começou lá com o aparelho e ia dizendo: ‘Está aqui um, está muito bem, está aqui o outro, tudo bem’. Depois põe o aparelho assim mais por baixo da barriga e diz: ‘E está aqui o outro’”. Um misto de emoções passou por Nuno e Ana. “Ficámos sem reação, ficámos assustados, mas não era com medo”, revelam. “Foi um choque muito grande, mas não era numa perspetiva negativa. Foi entrar num estado de transe. Ficámos ali a levitar, não sabíamos muito bem o que é que ia acontecer.”

“Tínhamos muito receio que ele não aguentasse”

As gestações múltiplas podem trazer várias complicações, tanto para a mãe como para os bebés. “A gravidez múltipla aumenta o risco de complicações maternas cerca de três a sete vezes relativamente às gestações de feto único”, pormenoriza a médica Teresa Castro. Em causa estão condições como complicações hipertensivas, anemia, descolamento prematuro de placenta, fenómenos tromboembólicos, infeção e hemorragia pós-parto. Já os fetos têm maior risco de morte fetal (durante a gravidez) e neonatal (após o parto), aborto espontâneo, prematuridade e sequelas daí resultantes, restrição de crescimento fetal e malformações congénitas. “Cerca de 20% dos fetos bigemelares apresentam um crescimento discrepante, sendo um maior que o outro. O feto mais pequeno apresenta maior risco de complicações perinatais, nomeadamente malformações congénitas, mortalidade e sequelas neurológicas”, resume Gustavo Rocha.

Sónia, grávida de quatro bebés, deixou de conduzir e teve de ficar em casa praticamente toda a gravidez. “Ao início era um bocado complicado porque eu não sentia essa necessidade. Eu sabia que estava grávida de quatro, mas fisicamente não sentia. Logo no início, não senti essa necessidade de ficar presa em casa, de descansar e de não fazer esforços. A partir de algum tempo, sim.”

Carolina, Pedro e Rodrigo, filhos de Nuno e Ana Machado
(Foto: DR)

Em 27 de setembro de 2003, Diogo, Cátia, Sofia e Raquel nasceram de cesariana com anestesia geral às 33 semanas e três dias, mas ainda ficaram no Hospital de São João, no Porto, durante algum tempo. A mãe e o Diogo voltaram para casa menos de uma semana depois do nascimento, a Cátia ficou mais uma semana, a Sofia três semanas e a Raquel um mês.

Por sua vez, Ana, grávida com trigémeos, viveu uma “gravidez santa”. “Não tive problemas nem tive de ir ao hospital”, diz, acrescentando que não estava a trabalhar antes de engravidar e manteve-se em casa durante toda a gravidez, mas sem grandes restrições, podendo andar e conduzir. Quando nasceram, às 31 semanas e cinco dias, os bebés tiveram de ficar cerca de um mês na Maternidade de Júlio Dinis, no Porto. “O Pedro veio para casa primeiro, depois veio a Carolina e o Rodrigo foi quem ficou mais tempo. Mas tudo num espaço de dias. Entre o primeiro e o último, não sei se terá chegado a uma semana.”

Experiência diferente teve Lêda, que foi aconselhada a fazer repouso absoluto. Embora o parto estivesse previsto para as 35 semanas, os bebés nasceram prematuros, de cesariana, às 29 semanas e quatro dias também na Maternidade de Júlio Dinis. “Eu estava com um sangramento tão grande que foi anestesia geral. Já não aguentava, estava nervosa, era tudo junto”, partilha Lêda.

Os três bebés ficaram internados durante cerca de mês e meio, mas a maior preocupação sempre foi o Miguel, que nasceu com 1,70 quilos. “Como eram três, elas estavam por cima, ele estava por baixo, por isso ele tinha menos espaço. Sempre foi o mais pequenino.” Quando nasceu, Miguel foi entubado e internado nos cuidados intensivos por causa dos pulmões, que não estavam totalmente desenvolvidos. “Tínhamos muito receio do Miguel. Era mais frágil. Mais pequenininho. Tínhamos muito receio que ele não aguentasse”, recorda a mãe. “Eu culpo-me, devia ter feito mesmo um repouso absoluto a 100% e não fazia. Porque ou tinha de fazer o almoço ou tinha de fazer o jantar ou tinha de ir às compras ou tinha de conduzir para ir às consultas. Não sentia dor, não sentia nada. Só se fosse ao final do dia, que sentia mais dor por causa da barriga estar um bocadinho mais pesada. Mas sempre me culpei por eles terem nascido tão cedo.”

Íris, Lia e Miguel mudaram a vida de Pedro Bessa e Lêda Lima. O casal, de Paços de Ferreira, não pretende ter mais filhos
(Foto: André Rolo/Global Imagens)

Já em casa, Miguel está a desenvolver-se bem, mas as preocupações mantêm-se e os pais tomam várias precauções para que não apanhe doenças e não desenvolva bronquiolites. “Eu vou sempre de máscara para os supermercados e farmácias, porque nunca se sabe. Eu tenho de me proteger a mim, proteger os bebés, porque se ficarem doentes, ficam os três”, frisa Lêda. As meninas, por sua vez, “estão uma maravilha” e “nem parecem ter o tempo que têm”. Os três bebés têm ainda de fazer fisioterapia dois dias por semana para melhorar a mobilidade, como levantar a cabeça e sentar.

Vida virada do avesso

A chegada dos bebés revirou a vida dos pais e obrigou a adaptações drásticas. Carlos e Sónia viviam no apartamento T2 perto da praia, mas mudaram-se em abril de 2004 para uma vivenda com quatro quartos. O carro de cinco lugares que tinham deixou de ser suficiente para a nova família de seis pessoas, por isso compraram um veículo de sete lugares. “Nós éramos pais supernovos, não tínhamos experiência nenhuma”, salienta Carlos. “A família ajudava bastante, de um lado e do outro. Aquilo era uma confusão em casa, sobretudo enquanto estava em fase de acabamentos. Vivíamos lá nós os dois, os quatro filhos e as pessoas que lá iam ajudar.”

Além da ajuda familiar, o casal contratou duas empregadas internas que viviam com a família. “Comiam, bebiam, dormiam lá, ajudavam com as crianças, portanto inicialmente, eram pessoas que não conhecíamos, que rapidamente sentimos confiança e que considerávamos pessoas da família. Ainda hoje temos algum contacto com essas pessoas”, afirma o casal.

As despesas também foram um fator que marcou a vida da família, que não teve apoios do Estado, uma vez que o salário de Carlos, na época jogador profissional de futebol, era suficiente para abarcar os custos diários. “Mas era complicado. Mais quatro bocas, o leite especial que era caríssimo, as fraldas. Era incrível, as despesas eram enormes e, felizmente, eu tinha capacidade para isso porque, a nível do Estado, não tivemos ajuda absolutamente nenhuma.”

Diogo, Cátia, Sofia e Raquel, filhos de Sónia e Carlos
(Foto: DR)

Em 2012, a família mudou-se para o Luxemburgo quando Carlos começou a jogar no Atert Bissen, onde iniciou posteriormente a carreira de treinador. “Não conhecia absolutamente nada do Luxemburgo e, por isso, comecei por vir sozinho, para ver como é que isto era e se me adaptava. E se era, sobretudo, bom para os meus filhos. Cheguei cá e constatei que o sistema de saúde era fantástico e o sistema escolar maravilhoso. Foi aí que decidimos vir todos para aqui. E ficamos até hoje.”

No caso de Nuno e Ana, a mudança da casa foi a primeira prioridade. Viviam na Maia e mudaram-se para Leça da Palmeira, para ficarem mais perto dos pais. O casal conta que praticamente deixou de viver sozinho. “Tínhamos constantemente a minha sogra e uma tia dela aqui, sempre a ajudar. A minha mulher não trabalhava porque seria mais fácil ter a mãe em casa a cuidar dos filhos do que metê-los num infantário. Era mais fácil, mais barato e melhor, obviamente, ter uma mãe a cuidar dos filhos.” O casal também decidiu mudar de carro e comprar um veículo com três bancos independentes atrás, uma vez que as três cadeirinhas de plástico não cabiam na parte de trás de um veículo de cinco lugares.

No que diz respeito a despesas, tornou-se obrigatório comprar produtos mais baratos. “Vamos a uma festa de anos, temos de comprar três prendas. Vamos comprar roupa, temos de comprar três casacos, três calças, três camisolas, três pares de sapatos, é tudo praticamente a triplicar”, realçam.

Tal como Carlos e Sónia, não tiveram apoios monetários, dispondo apenas do auxílio familiar e de uma ajuda da Matosinhos Habit, para a renda da casa. “Nós chegamos a pensar em inscrever-nos na Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, mas rapidamente chegámos à conclusão que, para pertencer a uma associação que ajuda famílias numerosas, tínhamos de pagar. Se queríamos obter ajudas, o objetivo não seria pagarmos. E, depois, as compensações nunca seriam aquelas que considerávamos necessárias”, continuam. “Há muitas coisas de que as pessoas não se apercebem e em que nós também não tínhamos pensado. Só depois de passar por elas é que fomos ajustando a nossa vida de acordo com as necessidades e com aquilo que íamos sentindo”, remata Nuno.

Diogo, Cátia, Sofia e Raquel, filhos de Sónia e Carlos
(Foto: DR)

Já Pedro e Lêda decidiram ficar na mesma casa, um apartamento com três quartos, em Paços de Ferreira. “Um é nosso, um vai ficar para o menino e o outro para as meninas”. Porém, tiveram de trocar de carro e compraram uma carrinha de sete lugares. Enquanto o pai trabalha na ETAR de Paços de Ferreira, a mãe, que é operadora de máquinas numa fábrica do IKEA, deixou de trabalhar, está de baixa. “Não tenho condições”, diz. “Tenho de ficar com os bebés em casa. Eles fazem fisioterapia e a fisioterapia é essencial na vida deles por tempo indeterminado. E eles não podem ir para a creche porque são caras e não há vagas, além de que, por serem frágeis, são mais vulneráveis a todas as infeções.”

O casal aufere entre 200 e 300 euros por mês de abono de família pelos três filhos e recebeu, no final de 2022, um cheque-bebé de 500 euros por criança da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, medida de apoio à natalidade que entrou em vigor no município em outubro de 2021. “Não chega para nada, só para o leite e mal. Gasto duas latas de leite por semana. E fraldas nem se fala…”, desabafa. O maior apoio é de familiares, que ajudam a cuidar das crianças e a arranjar alcofas e roupas para aliviar as despesas da família.

“É sempre uma animação todos os dias, mas também um desafio”, repete a mãe, que não esconde que há fases complicadas. Lêda desenvolveu uma depressão pós-parto e está a ser medicada, tendo aumentado a dose em maio deste ano. “Foi-me receitada esta medicação para ver se aguento esta reviravolta que a minha vida deu. A medicação é indicada para andar mais calma, mais serena, não ter dores no peito, não ter ansiedade e conseguir dormir. É uma dádiva de Deus, mas não é fácil. Agradecemos todos os dias a Deus por eu passar cada dia com eles, não descarto isto por nada, mas é muito complicado. É um dia de cada vez. Eu penso muito assim, porque hoje estamos bem, amanhã nunca sabemos. E nós tentamos fazer tudo para que não lhes falte nada. Principalmente carinho, amor e convívio com a família.”

Iguais mas diferentes

Os trigémeos Pedro, Rodrigo e Carolina têm hoje dez anos e consideram que a melhor parte de terem dois irmãos exatamente da mesma idade é a “companhia”, o “carinho” e as “brincadeiras”. Embora andem na mesma turma, o Rodrigo e o Pedro têm os mesmos amigos, enquanto a Carolina se dá melhor com as meninas.

“O que noto aqui é que por serem dois rapazes os gostos são muito mais parecidos do que os gostos da rapariga. E eles acabam por andar mais juntos por causa disso. Mas, de fora, noto que eles gostam da irmã e que se preocupam com a irmã, o que para mim é ótimo”, observa o pai, Nuno.

Carolina, Pedro e Rodrigo, filhos de Nuno e Ana Machado
(Foto: DR)

Segundo o pediatra Gustavo Rocha, o laço entre irmãos gémeos pode ser “extremamente forte”. Os quadrigémeos Diogo, Sofia, Cátia e Raquel, que têm 19 anos, veem-se mais como amigos do que como irmãos. “Como temos todos a mesma idade, às vezes nem nos vemos como irmãos, mas mais como amigos também. Estamos sempre rodeados por amigos e temos mais confiança uns nos outros”, sublinha Sofia. Cátia não esconde que sente uma “ligação diferente” com os três irmãos. “Por mais incrível que pareça, conseguimos sentir quando o outro está mal, é quase como se recebemos um sinal de que alguma coisa não está certa. O que também acontece imensas vezes é dizermos as mesmas palavras ou até as mesmas frases ao mesmo tempo ou, do nada, começarmos a cantar a mesma música. Nós os quatro temos uma relação superforte, somos muito unidos e conseguimos perceber o outro, se calhar por termos todos a mesma idade. Um simples olhar é suficiente para conseguirmos comunicar entre nós. Por isso, diria que eu e os meus irmãos temos uma certa telepatia.”

Ambos os especialistas Teresa Castro e Gustavo Rocha refutam que haja evidências científicas dessa “telepatia” entre gémeos, mas a médica refere que uma ligação tão especial poderá resultar “da convivência e da partilha de todos os momento e/ou do papel que a genética semelhante possa ter no desenvolvimento da personalidade e nos interesses dos gémeos”. “Existem cerca de 100 milhões de gémeos no Mundo e poucos deles relatam experiências que possam ser consideradas telepáticas ou quase telepáticas”, constata ainda o pediatra.

Por outro lado, o facto de serem quadrigémeos leva a que sejam alvo de comparações constantes. “Mesmo sendo quadrigémeos, cada um é uma pessoa diferente. Carateres diferentes, personalidades diferentes”, adianta Sofia. “São completamente diferentes. Não há um que seja parecido com o outro em termos de caráter e de personalidade. Mas são unidos e cada vez se nota mais isso”, destaca o pai, Carlos.

Felicidade a multiplicar

No futuro, Carlos e Sónia gostavam de regressar a Portugal. “Eu tenho um objetivo muito grande na minha vida, que é voltar ao campeonato português. E tudo farei para isso. Espero voltar a ter uma nova oportunidade”, revela Carlos. Por sua vez, os quadrigémeos, já adultos, pensam em ficar no Luxemburgo. “Somos capazes de ter uma vida melhor do que em Portugal.”

Diogo, Cátia, Sofia e Raquel, filhos de Sónia e Carlos
(Foto: DR)

Já Pedro e Lêda preferem aproveitar o presente, embora também pensem no futuro. “Ainda há um ano estava com eles na incubadora e agora estão deste tamanho”, diz a mãe, com a Íris ao colo. “Estão a crescer e precisam cada vez mais de nós. Eu aproveito ao máximo, tiro fotografias, brinco com eles, canto com eles, filmo, faço de tudo. Esta fase passa muito rápido. Daqui a nada já estão na escola. Já não querem saber, já começam a chamar chata à mamã.”

O casal considera que os trigémeos vão ser unidos quando estiverem na escola e que as irmãs vão querer proteger o irmão. “Vai ser giro. Cada um tem a sua personalidade, cada um tem o seu feitio. Os trigémeos fizeram isto, os trigémeos fizeram aquilo.” O que mais desejam é que tenham saúde e sejam felizes. No futuro, Pedro e Lêda não pretendem ter mais filhos. “Agora chega. São três. Estamos bem servidos. São uns queridos, são uns amores. Graças a Deus, são os melhores”, conclui a mãe.

Da mesma forma pensam Nuno e Ana. “Nem quero imaginar se viessem mais dois”, atira o marido. “Mesmo que viesse só mais um, tudo iria mudar.” Mas imaginam uma casa ainda mais cheia daqui a dez anos: “Obviamente que quando eles tiverem 20 anos terão outras preocupações, mas eu conto que, pelo menos, em vez de sermos cinco, seremos oito talvez. Porque com namorados e namoradas…”, ri-se o pai. “Tudo o que acontece cá em casa é a triplicar. As alegrias são a triplicar, as preocupações são a triplicar. Temos uma família já bem composta e recheada. E nós continuaremos unidos, que é como somos, e acho que vamos ser felizes”, conclui.