Casa do Artista, a casa das estrelas de sempre

Na Casa do Artista não há residentes comuns, ali mora quem fez a história das artes de palco, e não só, ao longo do último século. Nomes grandes que transportaram em si a excelência durante décadas de esforço, suor e excelência. E que agora recusam os últimos dias como destino triste e fazem do otimismo, da esperança e da liberdade lema eterno.

Manuela Maria entra firme na Sala Maria Helena Matos, no piso superior da Casa do Artista, como se entrasse num dos inúmeros palcos que pisou na carreira de décadas em que se fez por mérito próprio e carinho do público uma das damas do teatro português. Cumprimenta todos, sorriso largo e doce. Dirige-se a um piano – há pianos em quase todos os espaços comuns da instituição, como há sempre música no ar e vozes em melodias afinadas em som de fundo – que serve de base a um infinito de fotografias de artistas que fizeram a história do teatro, do cinema, da canção. Fixa-se numa delas, a que mostra Vasco Santana em pose alegre para a objetiva. Manuela Maria tomba delicadamente a cabeça para o lado direito, enternecida, enquanto a olha sem demora. E afaga a moldura, como se estivesse a acariciar suavemente em ternura o rosto de um amigo querido e Vasco Santana estivesse ali e lhe quisesse dizer o quanto o guarda em reconhecimento e carinho. “Graças a ele fui trabalhar para o teatro para Lisboa. Desde os cinco anos que fazia teatro na companhia itinerante dos meus pais, corríamos o país todo. Um dia, estava eu prestes a entrar em cena para interpretar a Teresa do ‘Amor de Perdição’ e vieram dizer-me que o Vasco Santana estava a assistir. Tive tanto medo… Mas lá fui. No final, ele veio falar comigo e disse para eu ir apresentar-me ao Teatro Monumental. Foi assim que começou tudo”, recorda. Sempre a sorrir, como se tivesse sido ontem. “Já lá vão 70 anos.” E volta a sorrir, nunca deixa que o sorriso lhe fuja Manuela Maria, eternamente agradecida, 88 primaveras de idade feitas de memórias felizes e de um carinho especial por todos que a rodeiam.

A cantora lírica Helena Vieira encontrou na Casa do Artista “o abrir de um mundo novo feito de ternura”

Por detrás da cadeira onde se senta ao redor de uma mesa de tampo brilhante, um quadro especial olha-a e àquela sala onde outras figuras do espetáculo partilham atividades diversas. É o retrato pintado de Armando Cortez (1928-2002), seu marido e um dos responsáveis principais pela criação da Casa do Artista, instalada desde 1999 na Pontinha, em Lisboa. “Foi um sonho, um sonho bonito de que nunca desistimos. O Armando, o Raul Solnado, a Carmen Dolores, eu e tantos, tantos outros. Não foi uma luta, nada disso, nunca encarámos as coisas assim. Foi simplesmente um sonho para o qual trabalhámos muito.”

A atriz Manuela Maria foi uma das fundadoras da Casa do Artista, juntamente com o marido, Armando Cortez (ao fundo representado em quadro), e nomes como Raul Solnado ou Carmen Dolores

Esse sonho é hoje a residência de Manuela Maria e de outros 75 companheiros de nobre ofício, quase a capacidade máxima estipulada, estabelecida nos 80 ocupantes. Não são ocupantes quaisquer. Entram e moram atores, técnicos, músicos, homens e mulheres do circo, bailarinos, produtores, pintores, escultores, escritores. Todos eles cabem na Casa do Artista, Podem ocupar quartos duplos ou individuais a partir da idade mínima de 65 anos, que pode ser antecipada no caso de os residentes apresentarem problemas incapacitantes, doenças que os impeçam de trabalhar ou de viverem sozinhos sem acompanhamento permanente. Porque ali pouco ou nada lhes falta. Há salas de fisioterapia, de psicologia, refeitório, animação sociocultural diária, cabeleireiro duas vezes por semana, acompanhamento personalizado. E há o Teatro Armando Cortez, com o Teatro Infantil de Lisboa como companhia permanente e outras companhias e produtoras que lá apresentam as suas peças com regularidade, e a Galeria Raul Solnado, com exposições também frequentes. Conta ainda com uma capela privativa, salas de convívio amplas, paredes forradas com recordações de grandes figuras das artes representativas, biblioteca. Um conjunto de valências à disposição de todos, sem restrições de ordem alguma.

Os residentes na Casa do Artista têm ao dispor inúmeras valências, como uma moderna sala de fisioterapia

“Sinto-me bem aqui, é a minha casa. Como é a casa de todos os que aqui estão. Com amor, carinho e muitas memórias”, define Manuela Maria. “Aqui não é permitido envelhecer”, reforça, lembrando o lema local, frase escrita em traços eternos logo à entrada da Casa do Artista, no teto do hall que dá acesso ao passaporte para aquele retiro que recusa aos ocupantes definharem à espera do fim, obrigando-os apenas a serem felizes entre os seus sem encararem com pessimismo dias que não se querem derradeiros. “A frase foi dita pelo Armando Cortez no discurso de inauguração. Ficou para sempre. Porque é mesmo isso, aqui envelhecemos por fora, é a lei natural, mas não podemos nem queremos envelhecer por dentro”, reforça Manuela Maria.

“Tenho paixão por aquilo que vivi”

Lourdes Norberto, 88 anos, tal qual Manuela Maria – nasceram com dois dias de diferença, Manuela a 26 de janeiro de 1935, Lourdes a 28 – foi outra das grandes senhoras do teatro que encontrou na Casa do Artista o seu refúgio natural. Desde há quatro anos que ali está. “Tive um percalço na minha vida e não me agradava ir para casa do meu filho ou da minha irmã e decidi vir para aqui”, revela. Vive com as suas memórias – “ando há tanto tempo a pensar deixá-las em livro, mas adio sempre a escrita” – e as saudades dos palcos como companhia e motor de esperança. “Se me chamassem para fazer uma peça, ia logo a correr. Sinto tantas saudades, se sinto”, afirma sem hesitação, aqueles olhos azuis-turquesa a brilharem mais do que nunca ao imaginar-se novamente em cena, como se o horizonte lhe tocasse em graça naquele momento, ao mesmo tempo que os dedos finos buscam os cigarros perdidos na carteira. “Ainda fumo um maço de tabaco por dia”, jura. Acende um e continua a falar, voz pausada, grave: “Quando estou só, recordo-me sempre das coisas que me aconteceram. Tenho paixão por aquilo que vivi.” E voltam a brilhar-lhe os olhos turquesa. “Sinto falta do público, da comunicação com a plateia. Gosto que as pessoas sintam que gosto delas”, enfatiza.

Lourdes Norberto, 88 anos, ainda sonha voltar a pisar os palcos do teatro e sentir de perto o carinho do público

Igual filosofia de vida é seguida pela cantora lírica Helena Vieira, 70 anos. Há seis anos na Casa do Artista, decidiu ser residente no lar de todas as estrelas quando a mãe faleceu e se sentiu “sozinha e muito carente, a precisar de gente”. Foi o “abrir de um mundo novo”, um ponto de encontro com colegas de arte e profissão que lhe deu novo sopro de alento. “Não estou nada arrependida, foi a melhor decisão que poderia ter tomado. As instalações são ótimas, o convívio é permanente, excedeu as minhas expectativas. Acontecem coisas que nem sonhava que pudesse ainda viver”, garante.

A Casa do Artista está aberta a atores, técnicos, músicos, homens e mulheres do circo, bailarinos, produtores, pintores, escultores, escritores, que nela encontram um espaço comum onde podem residir e ter toda a assistência necessária e permanente, para além de múltiplas atividades regulares

“Há sempre histórias a acontecer, umas mais dramáticas, outras mais cómicas. Todos os dias sucedem episódios, até paixões entre casais com mais de 90 anos, parecem namoradinhos, muito tímidos e discretos, é muito engraçado.”

Helena Vieira define a Casa do Artista numa só palavra. E essa palavra é, diz sem hesitar, “ternura”. Porque foi a ternura que lá foi encontrar e não quer deixar fugir. Os palcos, esses, ficaram para trás em decisão sem retorno. “Dei folga à voz. Os mais novos estão aí para me suceder, há que os apoiar”, salienta.

Inspiração que veio do Brasil

A Casa do Artista foi formalmente inaugurada a 11 de setembro de 1999, numa cerimónia que teve honras de Estado. A fita foi cortada pelo então presidente da República, Jorge Sampaio, sob os sorrisos felizes dos mentores Armando Cortez, Raul Solnado, Carmen Dolores, Manuela Maria. E tantos outros, os que sempre recusaram interromper o objetivo de conquistar um espaço que pudesse acolher dignamente os dias finais de quem tanto deu aos portugueses em forma de cena e deles recebeu aplausos eternos. Também dos outros, os que o público pouco conhece mas que tanto contribuíram, os que estiveram por trás do pano e tanto deram de trabalho invisível mas inestimável, os tais que não se veem mas que estiveram sempre lá e fizeram acontecer.

À data da inauguração já lá havia, desde 5 maio, os primeiros hóspedes, os que deram honras de debute a uma instituição que Portugal nunca vira e que um conjunto de homens e mulheres não deixara cair até que se tornasse mais do que sonho feliz e se fizesse obra real, palpável, realizável, duradoura e útil. “Na Europa, só em Itália é possível encontrar um espaço tão grande assim para artistas em final de carreira”, asseguram os responsáveis. Outras do género há em Inglaterra, a Brinsworth House, mais pequena, apenas 36 quartos, inaugurada em 1911, e a Denville Hall, mais recente, de 2004, onde, por exemplo, residiu até à sua morte o ator e realizador Richard Attenborough (1923-2014), também ela mais modesta em termos de espaço do que a Casa do Artista, ambas nas imediações de Londres. Em França, faz honras desde 1903 a Maison de Retraite des Artistes, em Seine-et-Marne, a 50 quilómetros de Paris, com 60 quartos e um Museu do Teatro a servir-lhe de montra ao público.

Rafael Cardoso, primeiro artista de rua em Portugal, ainda sai regularmente para trabalhar nas movimentadas artérias da baixa de Lisboa

No resto do Mundo, o Brasil fez escola ao lançar a primeira do género no continente americano. Batizada de Retiro dos Artistas, ainda hoje é referência. Abriu portas em 1918, no Rio de Janeiro, e nunca mais as fechou. Tem teatro próprio, como a portuguesa Casa dos Artistas tem o seu Teatro Armando Cortez, cinema e meia centena de espaços que são casa para atores reformados. Foi nela que Raul Solnado, depois de uma temporada artística no Brasil, se inspirou para construir uma do género em Lisboa. Após regressar a Portugal, em 1965, logo começou a espalhar a ideia e a angariar uma legião de colegas que lhe quisessem seguir o sonho. “O Raul sempre falou no Retiro dos Artistas com muito carinho. Dizia que era possível transpor o modelo para cá. E nunca desistiu nem deixou que outros desistissem. Pelo contrário, foi garantindo cada vez mais apoios entre os atores, e não só, para que a ideia se fizesse realidade”, conta Manuela Maria.

Caminho das pedras com final feliz

Foram precisas quase duas décadas, porém, até que o primeiro esboço da Casa do Artista deixasse o caminho singular e delicado da utopia e se transformasse em algo que poderia, enfim, tornar-se cimento forte. Em 1983, foi assinado o direito de construção do espaço. Um salto até 1986 e dá-se o ato formal de criação da APOIARTE – Associação de Apoio aos Artistas, associação que serve de plataforma base da Casa do Artista e que tem como missão, como dizem os seus estatutos, “apoiar e dignificar aqueles que exercem ou tenham exercido funções relacionadas com o setor artístico e cultural”, sustentada em valores como o “afeto, a ética, a qualidade, a solidariedade, a tolerância e a intergeracionalidade”. Não tardou um ano até que se realizasse o primeiro grande evento de angariação de fundos, um espetáculo no Teatro da Trindade, em Lisboa, que contou com a presença, por exemplo, de Amália Rodrigues, do Duo Ouro Negro, de José Mário Branco, Nicolau Breyner, Tony de Matos, até de elementos do Circo Chen. Mas foi preciso esperar até 1996 para que do papel se passasse à primeira pedra que deu toque ao arranque da construção da Casa do Artista, na Pontinha, num descampado enorme que, reza a lenda contada pelos residentes, foi guardado fielmente por caravanas circenses que dali não arredaram pé enquanto as obras não arrancaram, por receio que o terreno, cedido pela Câmara de Lisboa, pudesse, por desgraça do destino, ter outros fins que não os prometidos pelos políticos aos autores do projeto que tanto tempo por ele aguardaram com paciência infinita e amor aos seus parceiros de profissão que não queriam ver desvalidos na hora da retirada.

“Sinto-me livre”

O ator António Évora, 82 anos, não fez parte do grupo inicial que inaugurou a Casa do Artista mas nela reside com orgulho. E com memórias, muitas memórias. As paredes do seu quarto são prova disso mesmo. Estão preenchidas por dezenas de fotografias, qual álbum imenso onde recorda um trajeto feito no teatro, na televisão, no cinema. Sobretudo, lembram as amizades fortes que ficaram para trás, como a que António manteve com Amália Rodrigues. “É uma das mulheres da minha vida, juntamente com a Simone de Oliveira e a Isabel de Castro”, orgulha-se. Frequentou a casa da fadista, na lisboeta Rua de São Bento, participou nas famosas tertúlias que se prolongavam noite dentro e que duravam até à madrugada se despedir e dar as boas-vindas ao sol e em que participavam figuras ilustres da canção, da poesia, da pintura. “Foram tempos muito felizes e gratos”, diz. Como o são, acrescenta logo, os tempos que agora vive na Casa do Artista, onde veio encontrar “companheirismo” entre os seus. “Uma família.” Inseparável e sempre com “algo novo para contar” e viver.

António Évora, ator desde a década de 1960, tem nas paredes do quarto fotografias que relatam uma vida rica em amizades fortes, como a que manteve com Amália Rodrigues

Ao lado, habita o produtor de cinema Óscar Cruz. Ainda é novato na Casa, só há pouco mais do que um par de meses lá reside. E tem um segredo, ele que conviveu com os grandes nomes do Cinema Novo, na década de 1960, o agora octogenário recusa dar rastilho ao acelerar dos dias. “Procuro sempre manter a mente ativa. Trabalhando-a, não se morre tão cedo. E na Casa do Artista há sempre algo novo a descobrir, todos os dias e várias vezes ao dia”, afiança. “É isso que faz com que goste imenso de aqui estar. Sinto-me livre.”

Luísa Afonso, bailarina de teatro, sai todos os dias pelas sete da manhã para um passeio solitário, por vezes até à praia

Livre sente-se também Luísa Afonso, 78 anos, ex-bailarina de teatro, transmontana de Boticas que se apaixonou pela revista do Parque Mayer e nela fez vida até ao corpo lhe dizer que era hora de se retirar de cena. “Todos os dias pelas sete da manhã vou dar a minha volta a pé. E no verão, também a essa hora, apanho um autocarro e sigo para a praia. Sempre sozinha”, detalha confiante de uma independência de que faz regra. “Tenho liberdade total, refresca-me a alma”, suspira. Quando aterrou na Casa do Artista, Luísa sentiu que estava a regressar aos seus. E jamais olhou para trás com tristeza. “Estar aqui é como se nunca tivesse deixado o teatro. Nunca imaginei que nesta idade pudesse ter essa sensação tão reconfortante”, comove-se.

O produtor de cinema Óscar Cruz faz do quotidiano na Casa do Artista um desafio permanente, o de manter a mente ativa para não a deixar envelhecer

Comovido fica também Rafael Cardoso, que se apresenta, brioso, como o primeiro artista de rua em Portugal. Andou pela baixa de Lisboa como homem-estátua, como mimo, como artista que transformava balões em figuras infinitas. Correu a Europa, também. “Há dois anos fui despejado da casa onde vivia. Se não fosse a Casa do Artista, não sei o que seria da minha vida”, agradece. Não desiste das suas artes e de quando em vez vai matar saudades. “Ainda vou trabalhar. Sempre na Rua Augusta ou na Rua do Carmo”, afirma no intervalo de uma conversa com outros residentes. Porque o bichinho continua nele, como nunca deixou deixou de estar.

Museu de tesouros únicos

Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) abrangida pela Lei do Mecenato, a Casa do Artista é formalmente gerida pela APOIARTE. Os seus órgãos sociais integram figuras de topo da cultura nacional, como o ator José Raposo, que preside à direção, da qual também fazem parte, entre outros, as atrizes Sofia Grillo e Natália Luiza, ou a cantora lírica Helena Vieira e o cantor Rui Veloso. A Assembleia Geral (AG), essa, tem como vice-presidente Simone de Oliveira e conta com o cantor Carlos Alberto Moniz como segundo secretário. E também com o realizador de cinema e encenador Frederico Corado, que, além de membro da AG, é dedicado organizador daquela que é a autêntica sala de memórias da Casa do Artista. Chama-se Centro de Documentação Carmen Dolores (1924-1921), homenagem a outra das altas figuras do teatro português e desde a primeira hora uma das grandes inspiradoras do que é hoje a grande residência dos companheiros de cena. Quem o espreita primeira vez, deixa-se tomar pela enganadora sensação que se trata de um pequeno cubículo fechado, sem janelas, onde se amontoam anárquicos montes de papéis, jornais, revistas, discos, caixas, documentos, uma infinidade de preciosos objetos. Nada disso, desenganem-se os desatentos, aquilo é museu em estado puro e em permanente estado de atualização, de onde saem do meio do nada, quais tesouros inauditos, como a caixa de maquilhagem usada por Vasco Santana, que Frederico segura nas mãos e dá a mostrar com o carinho de quem carrega no colo filho pequeno.

O realizador e encenador Frederico Corado é o responsável pelo Centro de Documentação Carmen Dolores, autêntico museu vivo e em permanente atualização da história da representação em Portugal

“Um dia vou conseguir organizar isto tudo”, desabafa em tom de promessa Frederico Corado. Nesse dia, garante, aquela sala “será de todos e para todos, aberta ao público”, para que se possa ver olhos nos olhos as relíquias que fazem parte da história do espetáculo em Portugal. E que são, também elas, espetáculo à parte de tão raras que são. “Tudo o que aqui temos são autênticos documentos históricos doados pelos próprios artistas ainda em vida, ou por eles deixados em testamento. E há, ainda, o caso de familiares que os cedem à Casa do Artista”, descreve. Estão lá espólios de figuras como António Silva, Laura Alves e de centenas de outras, das mais populares às menos mediáticas. Arquivos inteiros, bens pessoais, recordações várias, arquivos inteiros, tudo o que se possa imaginar e o que possa ir para além do expectável. É a Casa do Artista no seu estado mais puro, o da riqueza que transporta em si um património inestimável, o do legado de um património material e imaterial que guarda a história dos palcos e de quem os pisou. É a arte e quem a fez e faz. É a vida que fica dos que já partiram, é o testemunho dos que ainda cá estão e recusam despir as muitas peles que protagonizaram. Porque ali, é lembrado a toda a hora, não é permitido envelhecer, apenas olhar em frente com imenso orgulho do que ficou para trás. Sem medo de nada. Porque para eles, os residentes, as cortinas do palco jamais se encerrarão e o som das tábuas ecoará sempre como combustível de inspiração para um futuro feliz.