Margarida Rebelo Pinto

Até já, Big Apple


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Durante a semana que se seguiu ao abjeto ataque do Hamas a Israel, o topo do Empire State Building iluminou-se de azul, a cor da estrela de David da bandeira israelita. O Empire State Building foi o edifício mais alto do Mundo durante 40 anos e continua a ser um dos mais importantes símbolos dos Estados Unidos. Embora prefira o Chrysler, por ser uma joia, desde o lobby da entrada até ao topo, entendo a mística do Empire State. Construído durante o período da Grande Depressão, depois do colapso da Bolsa de Nova Iorque, deu trabalho a emigrantes famintos e foi concluído no período recorde de 410 dias. Foram precisos 20 anos para que se tornasse rentável.

Nova Iorque é famosa pelos seus arranha-céus. Os edifícios que parecem tocar as nuvens sempre foram uma resposta às grandes crises e catástrofes. No lugar das Torres Gémeas, ao lado do Memorial construído para que a tragédia de 11 de Setembro nunca seja esquecida nasceu a Torre da Liberdade. Não muito longe dali, o Staten Island Ferry é um passeio obrigatório para que visita a Grande Maçã. É gratuito e oferece uma vista maravilhosa do Financial District, bem como da Estátua da Liberdade, oferecida pela França à cidade.

Do alto da arrogância, a Europa velha e instalada, não resiste à tentação de criticar e de troçar do Novo Mundo. Em Portugal, meu país maravilhoso, mas cuja escala asfixia o crescimento e a inveja é mais forte do que a vontade de vencer, a franja da população mais favorecida nunca conseguiu disfarçar o seu desdém pelos emigrantes. Contudo, é graças a eles que temos uma imagem digna e séria no Mundo. Aqueles que se atiram sem medo para uma nova vida num país desconhecido, para fugir à fome e à pobreza no tempo do Antigo Regime, ou agora, porque não se contentam em viver num país em que o ordenado mínimo não chega para pagar a renda da casa, são o que temos de melhor. Em Nova Iorque, o senhor Carlos, português, sapateiro, começou o seu negócio com uma pequena oficina. Hoje, a Leather Spa é um fenómeno de sucesso, com lojas nas zonas mais chiques da cidade. Carlos e o filho David Mesquita são uma das muitas histórias de sucesso de portugueses além-fronteiras. Somos bons a exportar vinhos e pastéis de nata, azeite, minérios e metais, latas de sardinha, maquinaria, químicos e borracha, mas somos ainda melhores, para nossa desgraça, a exportar a nossa mais-valia: os portugueses. Somos trabalhadores, educados, adaptamo-nos com facilidade e somos tolerantes.

A América, terra de emigrantes por excelência, imperialista por natureza (basta pensar no nome do seu edifício mais famoso), também se tornou arrogante, do alto do seu sucesso e da sua prosperidade. Mas Nova Iorque continua a ser uma das cidades mais vibrantes e estimulantes do Mundo, à qual vale sempre a pena voltar, porque está sempre a mudar, a evoluir, postal ilustrado de um país que admiro.

Até já, Big Apple. Levo comigo uma dose da tua energia incrível, terra de todos os sonhos onde o futuro é sempre possível.