A propaganda ardilosa por detrás da sustentabilidade

(Foto: AdobeStock)

O "Consultório de Sustentabilidade" desta semana, por Joana Guerra Tadeu.

O que é “greenwashing”?
Ana Tomé, pergunta recebida por email

O “verde” está na moda, o “consumo consciente” é uma tendência de mercado e a “sustentabilidade” está na ordem do dia. Ora, aqueles que mais beneficiam do sistema tal como ele é – as maiores empresas, os que nos governam, os mais ricos e poderosos -, por muito que reconheçam a necessidade urgente de uma transição ecológica, estão viciados no jogo que os colocou na mó de cima. E a jogada que lhes garante vitórias a curto-prazo é alterar, antes de qualquer outra coisa mais palpável e consequente, a comunicação.

A expressão “greenwashing” vulgarizou-se nos anos 1990, pela mão da Greenpeace, e refere-se às falsas alegações e ao exagero das verdadeiras por parte de organizações ou indivíduos ao comunicarem compromissos e conquistas de sustentabilidade.

A prática vulgarizou-se na última década. A H&M foi acusada pela Fundação de Alterações de Mercado na União Europeia por apresentar declarações desonestas sobre uma linha de “vestuário sustentável”, a Dasani por alegar que produzia garrafas de água “100% recicláveis” e a Kroger por anunciar que o protetor solar que vende é “amigo dos recifes”. No ano passado, ativistas da Climate Alliance Switzerland apresentaram uma queixa à Comissão de Integridade da Suíça contra as “possíveis promessas injustas de “greenwashing” da FIFA em relação ao Mundial do Catar. A Comissão Europeia descobriu que quase metade das afirmações verdes feitas online por empresas eram exageradas, enganosas ou falsas e as Nações Unidas publicaram um relatório sobre as alegações “verdes” de empresas, instituições financeiras, cidades e regiões, culminando com um discurso do secretário-geral a pedir “tolerância zero ao ‘greenwashing’”.

Como sabemos se estamos a ser enganados? É dificil. A verdade deve ser sustentada com factos e dados comprovados por fontes independentes, enquanto imagens da natureza, tons de verde e alegações com palavras vagas como “natural”, “consciente”, “verde”, “sustentável”, “neutro” devem ser ignoradas. Mas a responsabilidade de identificar esta prática não é dos cidadãos e consumidores, é dos reguladores e legisladores.

A triste verdade é que devemos questionar todos os esforços de sustentabilidade feitos dentro de um sistema extrativista. Sobretudo, quando a maioria das empresas investe mais na verdura da comunicação do que na verdura da operação. É muito fácil parecer bem sem tentar fazer melhor. E isso é “greenwashing”.

Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática e autora de “Ambientalista Imperfeita”

*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, Jardinagem, Saúde, Finanças Pessoais, Sustentabilidade e Sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected].