Sergey Lavrov: estrela vermelha

Sergey Lavrov é ministro das Relações Exteriores da Rússia

Desde que, em 2004, assumiu o cargo de ministro das Relações Exteriores da Rússia conheceu sete secretários de Estado dos EUA e seis homólogos franceses. Tal como Putin e o astronauta Yuri Gagarin, tem direito a t-shirts vendidas em lojas de souvenirs moscovitas.

Frio, duro, insensível. Afável e caloroso, quando menos se espera. “Muito cansativo” – passa de negociador brutal a adversário bem-humorado em poucos minutos -, “aterroriza” ou “seduz”, dizem colaboradores e adversários, de acordo com a necessidade. É um diplomata de mão cheia e com muita experiência: “Às vezes vamos até ele, mesmo quando não temos certeza se podemos confiar. Então conversamos e, no final, percebemos que dissemos mais do que queríamos”, diz um de seus parceiros africanos.

Da sua fortaleza (27 andares, 28 elevadores e dois mil escritórios), um dos sete arranha-céus estalinistas construídos pelo antigo líder soviético para desafiar o mundo ocidental, Sergey Lavrov avista a Praça Smolenskaya-Sennaya, em Moscovo, e o Mundo, marcado pela multilateralidade em contraste com a Guerra Fria, em que cresceu. Desde 2004, ano em que assumiu o Ministério das Relações Exteriores, tem como prioridade e obsessão devolver à Rússia o poder e a influência perdidos com o desmoronar da URSS, como comprova o conflito com a Ucrânia.

Todas as manhãs, é sempre um dos primeiros a chegar, exigindo pontualidade. Não é, porém, um “rato” de chancelaria. Antes, um homem de ação, que passa a vida em aviões, sem demonstrar cansaço, admirador de Andrei Gromiko, de quem herdou a intransigência negocial e o título de “Senhor Niet”, confirmado, por exemplo, quando, de expressão ameaçadora, tão peculiar nele, se opôs à intervenção na Síria. Porém, distinguem-no do antigo ministro soviético, a capacidade de comunicação e os fatos italianos, as férias em Vermont, o bom uísque escocês, a música de Sinatra, a paixão por Nova Iorque, centro do capitalismo e sede do Waldorf Astoria, de que é cliente assíduo. Na megametrópole, foi primeiro secretário da embaixada da URSS entre 1981 e 1988 e conselheiro-chefe da representação permanente da URSS na ONU por sete anos. Vigiado de perto pela KGB, aprendeu o modo de vida dos EUA, preservando a “alma” russa.

“É um personagem único”, define quem o conhece. Nascido em 1950, filho de um arménio de Tbilissi (Geórgia) e de uma russa, frequentou o elitista Instituto de Relações Internacionais do Estado de Moscovo, demonstrando talento para as línguas estrangeiras. Liderava Leonid Brejnev, e o jovem Sergei, fumador inveterado e adepto fervoroso do Spartak de Moscovo, era um patriota ardente. Poliglota, teve o seu primeiro posto no Sri Lanka, não imaginando ainda que se tornaria o rosto da diplomacia russa por quase 18 anos e uma estrela diplomática – é uma das poucas figuras, juntamente com Putin e o astronauta Yuri Gagarin, com direito a t-shirts vendidas em lojas de souvenir na Praça Vermelha.

Passou por sete secretários de Estado dos EUA e seis ministros franceses das Relações Exteriores desde que assumiu o cargo. Sentou-se à mesa com Xi Jinping, Trump e Macron. Figura muito próxima de Putin, que poder tem de facto este homem, discreto no que toca à vida pessoal – sabe-se que tem uma filha, que a ensinou a conduzir e que costuma oferecer-lhe músicas por ele compostas -, frequentemente fotografado de mãos entrelaçadas e testa franzida? Rex Tillerson terá dito em 2017, enquanto secretário de Estado dos EUA: “Não se pode dançar tango com Lavrov porque ele não tem permissão para dançar”. lm

Sergey Viktorovich Lavrov
Cargo:
ministro das Relações Exteriores da Rússia
Nascimento: 21/03/1950 (71 anos)
Nacionalidade: Russa