Rui Correia: acompanhar eleições nos países em desenvolvimento

Rui Correia é assessor no Ministério da Administração Estatal de Díli, Timor-Leste

Rui Correia mudou-se para Timor-Leste em 2007 para ajudar a organizar o território e aproveita o tempo livre para participar em missões de observação eleitoral noutras latitudes.

Rui Correia era um adolescente quando começaram a chegar a Portugal refugiados timorenses devido à ocupação daquele território pela Indonésia. E ele, “retornado” de Angola, desenvolveu assim uma ligação ao país que dura até hoje.

Em 1987 fundou uma ONG (já desativada) e ao longo dos anos participou em diversas “ações em defesa dos Direitos Humanos e paz” em Timor-Leste, como foi o caso do Lusitânia Expresso, um ferryboat que cruzou os mares em 1992, após o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli.

Mas a sua ação tem sido muito mais ampla, já que ao longo da vida foi aproveitando “as férias e todo o tempo livre” para participar, como voluntário, em missões de observação eleitoral em países em vias de desenvolvimento ou pós-conflito. Já esteve em mais de uma dezena, da Palestina ao continente africano, passando pela América latina, contabilizando largas dezenas de processos eleitorais.

Em 2007 foi convidado a participar na organização das eleições gerais de Timor-Leste e fez as malas, deixando para trás o trabalho como bancário em Portugal. Uma “decisão drástica para abraçar o desconhecido”, da qual não se arrepende.

Em 2013 passou para o Ministério da Administração Estatal daquele país, dando “suporte à área eleitoral e à descentralização administrativa, com a criação dos primeiros municípios do país”. Mas não deixou de acompanhar processos eleitorais noutros países.

A Rui Correia, que pretende começar a escrever as memórias em breve, não faltam episódios marcantes. No Haiti, em 2005, teve de ser evacuado para a República Dominicana, porque o hotel onde estava “foi tomado”. Na Guiné-Bissau, foi apanhado numa manifestação que contestava os resultados. A polícia lançou gás lacrimogéneo. “Avanço sobre o fumo. Alguém ao meu lado caiu, atingido com um tiro na cabeça”, recorda.

Nos países em vias de desenvolvimento ou pós-conflito, explica, os processos eleitorais são “vividos de uma forma muito intensa e imprevisível. Obriga a analisar a realidade sociopolítica do país e entrar em contacto com os atores principais, sejam líderes políticos, religiosos ou da sociedade civil”.

Mas os seus projetos não se esgotam aqui. Para além de ter criado um resort de bungalows e de estar a fazer o “levantamento dos edifícios construídos na altura da administração portuguesa no território”, Rui quer dar a volta ao Mundo de moto.

Em 2015, aquando da comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses a Timor, fez a ligação de Lisboa a Díli. Por estes dias, a sua moto está a ser transportada para o Chile e, “em dezembro ou janeiro”, pretende pegar nela e “fazer, em sentido inverso, a viagem de Fernão Magalhães”.

Foi em cima deste veículo que viveu também muitas experiências. Em 2015, por exemplo, passou a fronteira da Síria e deparou-se com “Alepo a ser bombardeada”. Noutro país, “incursões de talibãs” atiraram sobre ele e uma escolta de guardas. A vida de Rui tem sido uma aventura.

Rui Correia
Localização:
Díli, Timor-Leste 8° 33’ 24.6816’’ S 125° 33’ 37.1160’’ E (GMT +9)
Cargo: assessor no Ministério da Administração Estatal
Idade: 60 anos