JN North Festival. O Douro é palco do regresso de Portugal aos grandes festivais

Depois de dois anos de clausura de concertos e de golpes duros para quem organiza, o JN North Music Festival estreia a época festivaleira, numa estrutura em que a pandemia ainda deixa resquícios. Mas com uma certeza: o público está sedento de voltar.

Estes anos foram tramados para os festivais. Finalmente vê-se a luz.” Jorge Veloso, diretor do JN North Music Festival, quer pôr a pandemia para trás das costas. Com razão. Foi o festival português mais vezes adiado, três, à conta de confinamentos e diretivas constantes da Direção-Geral da Saúde, que punham travão a uma logística gigante e deitavam por terra meses de trabalho. Mas as voltas ao Sol viriam a ditar, numa “coincidência incrível”, que fosse o evento que tem os pés e os olhos no rio Douro a abrir a temporada de festivais de verão, já na próxima quinta-feira e até sábado, na Alfândega do Porto. “Somos o primeiro grande festival do ano, quis o destino que retomássemos o grande circuito das bandas internacionais.”

Um destino que não se desenhou fácil. Manter a palavra dada às bandas foi ponto de honra, mas segurar artistas em função das novas tournés obrigou a redesenhar uma e outra vez o alinhamento. Os prejuízos do que nunca chegou a acontecer “foram enormes”, havia já muita coisa feita na hora dos adiamentos, “desde uma simples lona ao transporte de material de bandas que já cá estava, material de promoção”. Até porque um festival vai muito para lá do cartaz, e a estrutura entrou nos desafios de quem arranca uma máquina enferrujada, parada dois anos, que perdeu o ritmo.

Rui Afonso, coordenador geral de produção, é testemunha viva. “Falta voltar a olear a máquina. Algumas empresas e fornecedores estranharam a antecipação de meses na preparação. Muitos técnicos a quem ligámos já não trabalham na área, tiveram que sair para sobreviver. Há falta de material, os materiais estão mais caros, os preços mudam num ápice. Sinto sobretudo uma grande ansiedade e um medo, será que vai mesmo acontecer desta vez?”, relata. Além de que, do lado do público, “já não se compram bilhetes antecipadamente”.

“As pessoas estão ansiosas, com mais força para fazer tudo o que não fizeram. E a cidade está em polvorosa”, reconhece Jorge Veloso, diretor do JN North Music Festival

As variáveis multiplicaram-se para quem organiza um festival que se estreia no rescaldo de anos de clausura de concertos. Ainda assim, há coisas boas, segundo Jorge Veloso: “Estamos muito mais concentrados, não podemos dar passos em falso. Estamos a recomeçar e temos uma lição, que nos mostrou que em pouco tempo podemos perder uma vida de trabalho. Mas, depois do sofrimento todo, conseguimos estar cá”.

Dez dias de montagens e um público sedento

As montagens na Alfândega do Porto já arrancaram, são dez dias sem parar. A vista para o rio Douro está garantida, não haverá estruturas junto à margem, ou não fosse a localização fator distintivo, com as caves do vinho do Porto em pano de fundo a iluminarem-se à noite. E o espaço aumentou, ocupa mais um parque de estacionamento contíguo ao da Alfândega, cedido pela Câmara do Porto. Quatro palcos: o principal, o sunset, o clubbing (que é interior, em jeito de discoteca, para o final da noite) e os barcos rabelos que vão surfar o Douro em passeios com djs e músicos a bordo. Há um espírito móvel, com muita coisa a acontecer. E mais uma novidade: uma zona VIP, com camarotes. Além de barbeiros, maquilhadores, tatuadores, body painting, wine gardens, zonas de estar, praças de comida.

A organização anda a bulir por estes dias, em contrarrelógio. Para fazer jus a um cartaz eclético que é aposta clara para chegar a um público dos 8 aos 80. O primeiro dia é dedicado ao “let’s rock”, com o rock português a dominar – de Ornatos Violeta, a celebrarem os 30 anos já feitos, a Linda Martini. O segundo segue o lema do “let’s dance”, direcionado para a dance music com nomes como o holandês Don Diablo, sétimo melhor DJ do mundo segundo a DJ MAG Top 100, e o alemão Robin Schulz. Fecha com um dia de “let’s remember”, com bandas icónicas de outras décadas, desde o rock escocês de The Jesus and Mary Chain a The Waterboys ou os incontornáveis portugueses GNR.

O público está sedento, garantia de Jorge Veloso, que espera 40 mil pessoas. “Queremos esgotar o festival, caminhamos para a melhor edição de sempre. Nota-se que as pessoas estão ansiosas, com mais força para fazer tudo o que não fizeram. E a cidade está cheia de turistas, está em polvorosa.” A meteorologia promete bom tempo e o festival jovem, que está na quarta edição, ainda a construir marca, agarra-se a uma diferença notória: não se faz em terra batida, é urbano, central, citadino, junto a um edifício centenário como é a Alfândega do Porto e à beira-rio. Se dúvidas houver, parece óbvio que é hora do regresso à normalidade dos festivais de verão.