Eva Kaili: a pivô

Eva Kaili é ex-vice-presidente do Parlamento Europeu

Formada em Arquitetura, nunca exerceu a profissão, optando por estudar Relações Internacionais e Jornalismo. Tornou-se a deputada mais jovem do Pasok, mas ganhou destaque ao apresentar telejornais. É agora suspeita de liderar uma quadrilha minada pela corrupção.

Vice-presidente do Parlamento Europeu detida por suspeita de corrupção e lavagem de capital, destituída de imediato de todos os cargos, expulsa do partido pelo qual foi eleita, o Pasok, Eva Kaili é considerada pela Polícia Federal Belga a cabeça de uma quadrilha dedicada ao crime organizado, corrupção e lavagem de dinheiro. A grega, de 44 anos, salta para as primeiras páginas e arrasta com ela para a prisão o pai e o companheiro, o italiano Francesco Giorgi, antigo assessor parlamentar do ex-eurodeputado Antonio Panzeri, outro dos detidos.

Em 12 de dezembro de 2022, a Autoridade Grega de Combate à Lavagem de Dinheiro anuncia o congelamento de todos os ativos de Kaili e dos familiares próximos: contas bancárias, cofres, empresas, com particular interesse numa imobiliária recém-criada no distrito de Kolonaki, em Atenas. A bela helénica torna-se o rosto do Catargate, escândalo que respinga toda a instituição europeia, resultado de uma investigação bem-sucedida à atividade ilegal de um lobby catari, destinado a influenciar decisões políticas do Parlamento Europeu.

Catar, que acusado por ONGs de desrespeito aos direitos das mulheres e de centenas de milhares de operários migrantes da Ásia e da África, merece a Kaili elogios rasgados. “O país é líder em direitos dos trabalhadores”, declara quando ativistas dos direitos humanos pedem o boicote ao Campeonato do Mundo FIFA 2022. Membro da delegação destinada a desenvolver as relações da União Europeia com a península árabe, Kaili viaja para o Catar pouco antes da prova. É então que conhece Ali bin Samikh Al Marri, ministro do Trabalho, e surgem os primeiros elogios “ao país cujas reformas inspiraram o mundo árabe”.

Nascida em 26 de outubro de 1978, em Salónica, a segunda maior cidade da Grécia, Eva Kaili está em Bruxelas desde 2014. Em janeiro de 2022, garante uma das vice-presidências do Parlamento Europeu. Considerada “uma estrela em ascensão” da política grega, representa a ala mais conservadora do Pasok-Kinal. A deputada é vista por alguns socialistas como “um cavalo de Troia” da Direita no poder. “Benefícios são para preguiçosos”, declara em 2019, criticando a ajuda social distribuída pelo Syriza para lidar com a crise económica.

Formada em Arquitetura pela Universidade Aristóteles de Salónica nunca exerceu a profissão, optando por estudar Relações Internacionais e Jornalismo. Dá os primeiros passos na política em 1998, ainda estudante, ao ser eleita vereadora da cidade, já como militante do Pasok. Mas é como pivô da Mega, uns principais canais privados gregos, que se torna figura pública. Tem 26 anos. Com a mesma idade é eleita para o Parlamento grego e assim se torna a deputada mais jovem do Pasok.

Sete anos depois, é eleita para o Parlamento Europeu no grupo dos Socialistas e Democratas (S&D), mandato que mantém nas eleições europeias de 2019. Em Bruxelas conhece Francesco Giorgi, ex-assistente parlamentar, especialista em direitos humanos e relações exteriores, sete anos mais novo. Juntos há cinco, têm uma filha de dois, Ariadne. Em entrevista à revista “OK”, Kaili fala sobre maternidade e família. Dividido entre Bruxelas e Atenas, o casal passa férias em Milão. Dias a velejar e a experimentar “algumas receitas italianas, mas sobretudo todas as receitas gregas demoradas”.

A instituição europeia foi rápida a destituir Kaili de todos os cargos. Os socialistas gregos e europeus reagiram de imediato. Pedro Marques, vice-presidente da bancada socialista, diz sentir-se “enjoado”. A grega declara-se inocente.

Eva Kaili
Cargo:
ex-vice-presidente do Parlamento Europeu
Nascimento: 26/10/1978 (44 anos)
Nacionalidade: Grega