Trombose: doença silenciosa, assintomática, repentina, grave

Para os profissionais, é determinante tomar medidas para reduzir a morbilidade e mortalidade dos doentes com trombose associada ao cancro

A causa está na formação de um coágulo sanguíneo numa veia, sobretudo nos membros inferiores do corpo. Inchaço, dor, calor e vermelhidão localizada são os sintomas mais comuns. É um problema de saúde muito sério.

Uma em cada quatros mortes no Mundo acontece devido à trombose, mais especificamente devido a complicações relacionadas com o tromboembolismo venoso (TEV). É uma doença silenciosa e grave e o Grupo de Estudos de Cancro e Trombose continua a chamar a atenção para este grave problema de saúde, suas causas, fatores de risco e sintomas, e a fomentar o conhecimento em torno da prevenção, diagnóstico e tratamento. Um dos primeiros passos é perceber como esta doença se manifesta no corpo. E saber como preveni-la.

A formação de um coágulo de sangue numa veia está na origem de uma trombose e essa circunstância nas veias mais profundas das pernas, virilha ou braços, causa uma trombose venosa profunda que, se não for prevenida ou diagnosticada rapidamente, pode levar à rutura do coágulo que pode chegar aos pulmões e provocar uma embolia pulmonar.

Inchaço da perna, pés ou tornozelos, dor, aumento da temperatura da perna, sensação de pele esticada, rigidez dos músculos na região onde se formou o trombo, vermelhidão localizada, são sintomas de uma trombose venosa profunda. Como prevenir? Evitar muito tempo sentado sem movimentos, praticar exercício físico regularmente, investir numa alimentação equilibrada, manter o peso, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Em viagens longas, utilizar sempre roupas e sapatos confortáveis e usar meias elásticas, caso haja algum histórico pessoal ou familiar de formação de coágulos sanguíneos.

A trombose verifica-se nas três maiores causas de morte por doenças cardiovasculares: enfarte, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e tromboembolismo. As estimativas indicam que a doença afetará duas em cada mil pessoas por ano

“Para que um coágulo de sangue se forme dentro de uma veia são necessárias algumas condições, a que os médicos chamam de fatores de risco. A imobilidade (sedentarismo, imobilidade após doença médica aguda, trauma ou cirurgia) é um dos principais fatores de risco, bem como a presença de patologias como doenças inflamatórias e oncológicas”, adianta Joana Augusto, especialista em Oncologia Médica. Uma hospitalização, procedimentos cirúrgicos que possam interferir com os vasos sanguíneos, tal como alguns fármacos, também podem aumentar a probabilidade de um tromboembolismo venoso. “A história familiar de TEV, a obesidade, o tabagismo e o uso de alguns tipos de contracetivos são fatores de risco relevante (embora com menor peso no risco)”, acrescenta a médica.

O TEV incluiu a Trombose Venosa Profunda e a sua maior complicação é a Embolia Pulmonar. Uma condição médica perigosa e potencialmente mortal. Pode ocorrer sem qualquer sinal de aviso e pode passar despercebido. O risco para desenvolver TEV na população com cancro é 3.2 vezes superior ao da população sem cancro, o que corresponde à segunda principal causa de morte nos doentes oncológicos. Segundo Joana Augusto, “a doença oncológica constitui, assim, um fator de risco independente e relevante para o desenvolvimento de TEV, facto associado à sua capacidade de desequilibrar o sistema de coagulação do organismo, desviando-o no sentido ‘pró-coagulante’ – formação de coágulos.”

O tratamento pode contemplar anticoagulantes para impedir que os coágulos sanguíneos se desloquem para os pulmões e meias de compressão para melhorar o edema causado pela trombose

No doente oncológico, o risco varia consoante fatores relacionados com o doente, com a doença, e com o próprio tratamento. A idade avançada, o sedentarismo e a obesidade são fatores de perigo. “Na doença, o tipo e estadio do tumor apresentam impactos – o cancro do pâncreas e ginecológicos, bem como a doença avançada estão associados a maior risco para TEV. No tratamento, as cirurgias, internamentos por intercorrências como infeções e ainda os fármacos utilizados, nomeadamente quimioterapia, todos aumentam o risco para TEV”, sustenta a especialista em Oncologia.

A quimioterapia, a radioterapia, a hospitalização e a imobilidade aumentam o risco de um TEV. Por isso, para os profissionais, é determinante tomar medidas para reduzir a morbilidade e mortalidade dos doentes com trombose associada ao cancro, contribuindo assim para aumentar a sobrevida, a qualidade de vida, e reduzir os custos para o sistema de saúde e para a sociedade.

“O aparecimento de TEV no doente oncológico pode levar à hospitalização por maiores períodos de tempo e levar a atrasos ou descontinuação da quimioterapia, podendo não só comprometer a qualidade de vida do doente, bem como a sua sobrevivência”, avisa Joana Augusto. Em caso de TEV, confirmado por ecografia com doppler e ou um TAC, deve ser iniciada, imediatamente, terapêutica anticoagulante que se deve prolongar no tempo, idealmente entre três a seis meses. Todo o cuidado é pouco.