Meter as mãos e o coração na terra

Há uma nova geração de empreendedores frutícolas. Jovens empresários, com diferentes áreas de formação, que investem no negócio por gosto, dispostos a respeitar o tempo da Natureza. A modernização de braço dado com o biológico. Apostam forte na eficiência energética e no digital. Muitos a partir do interior do país. Celso, Gil, Carlos, Sónia e Luís são alguns desses exemplos.

A felicidade de Celso Freitas tem nome. Quem o conhece sabe. Mas são poucos os que o deslindam tão bem quanto a sua mãe. De quando em vez, Maria Luísa deixa escapar o que lhe vai na alma, já resignada: “Andei eu a criar um filho, a dar-lhe estudos, para ele se meter na agricultura e andar sujo”. É Celso quem conta, divertido, antes de revelar as traquinices que aos 44 anos ainda apronta. “Ela costuma responder-me isso quando lhe mando fotografias com as mãos e a roupa cheias de terra.” No final do dia, representa trabalho ou lazer? “As duas coisas.” Quando adentra pelos terrenos, o passo é firme. O rasto deixa uma indubitável certeza. “É isto que me faz feliz.” E os olhos não podiam ser mais transparentes. O agricultor biológico, é assim que se apresenta, tem a agenda preenchida. É, além disso, professor universitário, na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu. Empresário e consultor agrícola, com enfoque na fruticultura e na transformação. “Gosto muito de dar aulas e de dar formação. Faço consultoria com gosto. Mas os momentos que passo na agricultura são mentalmente muito mais sãos.” O portuense que a vida instalou em Águeda, lugar onde pretende centralizar os negócios, tem por ali terrenos cultivados e por cultivar. “Estou a tentar reunir nesta zona as explorações que giro e possuo em alguns pontos do país.”

A engenheira civil trocou a profissão pelos frutos vermelhos. O desafio é grande. Sónia Brito não se arrepende
(Foto: André Vidigal/Global Imagens)

Ao mirtilo, à amora, à framboesa e à groselha de Águeda, junta as hortícolas de Vagos e Soure, os pés de maracujá de Aveiro e as maçãs de Moimenta da Beira. Ainda se dedica à distribuição domiciliária de cabazes, de Braga a Pombal. “Comecei com familiares e amigos e depois fui alargando a carteira de clientes.” Mas chegou o momento de se focar. “Está na hora de não perder tanto tempo em viagens.” Os terrenos de Águeda consegue visitar todos os dias. “Alimento os animais – cães, galinhas, patos, ovelhas -, vejo se está tudo bem e aproveito para dar um passeio higiénico.” Foi o que o safou durante a pandemia, confessa. Um tempo que aproveitou para organizar ideias. A paixão pela terra foi o primeiro produto que cultivou, não sabe bem como. Mais fácil é identificar quando lhe tomou o gosto, quando começou a dar frutos. Mais ou menos em 2013, dava ele aulas sobre solos e climas. Lembra-se da moda dos frutos vermelhos, da procura por parte dos agricultores já instalados, mas também dos jovens que se aventuravam. Como ele. Uma vez que já fazia consultoria na área específica dos pequenos frutos, interessou-se. “Tinha visto os erros dos outros e sabia o que fazer.” Na primeira produção teve mirtilos, groselhas e fisális. Depois vieram as hortícolas, abóbora e pimentos picantes (habaneros). Com a mulher divide a tarefa das podas. Na altura das colheitas recorre a mão de obra nacional, e também estrangeira. A família é chamada a ajudar. “Pago-lhes com mirtilos e com uma almoçarada.” A última fruta a colher é usada nas compotas e noutros produtos que vende na sua loja online. “Durante a pandemia deu-nos muito jeito. Tenho um mercado interessante em Coimbra, maioritariamente de médicos e enfermeiros. Gente informada, que está por dentro das vantagens do biológico.” A vertente agrícola do presente e, garante Celso, do futuro.

Da farmácia para a fruticultura. O salto de Gil Silva foi grande. Em todos os sentidos. A sua exploração de mirtilos é, provavelmente, a que está a maior altitude no país, 900 metros. A mudança na sua vida é recente, explica o jovem de 31 anos, que estava longe de imaginar que um dia se envolveria em tamanha empreitada. A semente estava lá. “Sou do Porto. E, apesar de viver numa zona urbana, sempre gostei e tive contacto com a terra.” Uma tendência transversal a muitos jovens, garante. “Pessoas de diferentes áreas que decidem investir na agricultura.” Aos poucos a ideia ganhou corpo e germinou. As conversas entre família, com os pais e o irmão, deram condições para que o projeto se desenvolvesse. Alinhados, começaram a procurar o terreno certo. “Andámos alguns meses em várias zonas do país.” Até que houve consenso. “Encontrámos um que tinha uma escala interessante, bons acessos à exploração e boas condições hídricas.” E assim foram parar à vila de Penedono, em Viseu, tomando posse de uma propriedade que no passado já tinha sido afeta à agricultura, mas que estava abandonada. Estávamos em 2015. Um diamante em bruto com 16 hectares.

Celso Freitas é professor, consultor e agricultor biológico
(Foto: Artur Machado/Global Imagens)

No mesmo ano, Gil concorreu ao Programa de Desenvolvimento Rural, o principal instrumento de apoio ao desenvolvimento de projetos agrícolas em todo o território do continente, no âmbito do quadro comunitário 2014-2020. Um programa que integra o Portugal 2020, um acordo de parceria estabelecido entre o país e a Comissão Europeia para a aplicação dos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, cujos princípios assentam no crescimento sustentável do setor agroflorestal em todo o território nacional, tendo por base três objetivos estratégicos: o crescimento do valor acrescentado do setor agroflorestal e rentabilidade económica da agricultura; a promoção de uma gestão eficiente e proteção dos recursos; e a criação de condições para a dinamização económica e social do espaço rural. Gil e a família delinearam uma estratégia a que estão a dar seguimento. “Penedono pertence à denominação de origem protegida da castanha martainha e esse foi um dos motivos que achámos interessantes para ali adquirir a exploração.” Olhos postos no futuro. Mas a castanha demora alguns anos a dar retorno. “Então, em paralelo, decidimos que queríamos outra cultura e elegemos o mirtilo.” A família não caiu no erro de pôr a carroça à frente dos bois. Os quatro puseram as cartas em cima da mesa. Gil é farmacêutico, o irmão da área de gestão. O pai vem da engenharia e a mãe da educação. Só havia um caminho. “Empenhámos as aprendizagens que cada um de nós tem e munimo-nos do conhecimento necessário para termos a certeza dos passos que íamos dar.” Entre a literatura e os conselhos de boca, passando pelas conferências, Gil acabou no centro de frutologia da Compal. Uma academia que aposta no reforço das competências técnicas e de gestão da nova geração de fruticultores. Com uma forte componente prática, dá destaque aos conhecimentos que suportam o cultivo sustentável da fruticultura, divulga práticas no âmbito da produção e gestão agrícola e promove o networking, incentivando a colaboração e a criação ou o reforço de parcerias no setor. Um aliado de peso para Gil, que em 2016 ainda estava numa fase embrionária e nem tinha sequer plantas no terreno. “Foram tempos interessantes e enriquecedores.” A bolsa que a academia lhe atribuiu, no valor de 20 mil euros, tornou-se uma ajuda importante para alavancar o projeto nessa fase. Volvidos quatro anos, o terreno já tem outro aspeto. Para o ano, a família conta fazer a primeira campanha na exploração que tem algumas variedades de mirtilo.

Celso Freitas desdobra-se em ofícios, mas é a terra que mais o realiza
(Foto: Artur Machado/Global Imagens)

“Apostámos na certificação da nossa fruta. É muito importante.” A qualidade e a sustentabilidade são dois grandes pilares. “Estamos empenhados no recurso a energias renováveis e numa agricultura de precisão, que nos ajude na automatização das atividades e beneficie o meio ambiente.” Um trabalho que só tem funcionado por jogarem numa equipa coesa. “Estou à cabeça do projeto, mas sozinho não conseguiria. Entre os quatro, temos conseguido gerir.” O segredo está na motivação. “Faço um horário normal no meu trabalho, durante a semana. Os fins de semana são destinados à exploração.” O resto da família articula-se. “Dá gosto ver o quanto evoluímos e o crescimento das plantas.” E uma das melhores partes é “o contacto com a Natureza”. A família apoia-se no lado bom, para não desanimar perante o inevitável lado menos bom. “A carga administrativa e burocrática é pesada. É exigente a nível de processos e certificações.” Mas há alguns riscos. “Muitas plantas morrem, não é matemático, há sempre condicionantes que não estavam previstas. A despesa adicional que aparece aqui e ali.” E assim se aprende muito sobre frustração e resiliência. “Porque a agricultura não se faz num dia, por muita vontade que tenhamos, é mesmo preciso esperar para ver os frutos nascerem. Mas é por tudo isso que é tão desafiante e nos motiva tanto.”

Esse clique, que leva a mente a desejar o contrário daquilo que o corpo faz, nem sempre pode ser colocado com precisão na tabela cronológica dos dias. É o caso de Carlos Matos, 39 anos, que durante 20 anos trabalhou quase exclusivamente como técnico de som. Do Barracuda, no Porto, para Alcongosta, no Fundão. De repente, alterou os ciclos biológicos e passou a levantar-se à hora a que antes se costumava deitar. Hoje, orgulhosamente, produz cereja em sistema biológico, recorrendo aos princípios da permacultura. Antes, algures no tempo, sem se dar conta, cresceu nele um desejo de mudar de área, de vida. “Estava cansado, queria algo que me permitisse viajar e respirar ar livre.” A companheira, Filipa, tinha um gosto especial pela cereja. Foram investigar. O Fundão é por excelência a capital do fruto. A procura pelo terreno demorou, mas deu-lhes tempo para irem investindo em formação. Também Carlos terminou no Centro de Frutologia da Compal, onde já fez duas formações e onde obtiveram duas bolsas. A segunda, em 2019, serviu de apoio à instalação de um projeto com galinhas. Já lá vamos. Antes disso, e quando o terreno já estava assegurado, começaram o projeto da atual empresa, a Miraculous Jungle. “Aproveitámos meio hectare das árvores que já estavam plantadas, fizemos uma plantação nova de dois hectares e este ano estamos a plantar três hectares.”

Gil Silva saltou da farmácia para a agricultura. Possui uma exploração de mirtilos na vila de Penedono
(Foto: Tony Dias/Global Imagens)

No decorrer fez uma formação em produção biológica e foi assim que teve contacto com técnicas de permacultura. “Uma delas é ter animais para ajudar na produção.” Escolheu as galinhas e justifica com um exemplo. “A mosca da cereja é uma espécie de praga. Pica o fruto, onde depois vai crescer uma larva. Depois de o comer, cai ao chão para hibernar em forma de pupa. E é nessa altura que são comidas pelas galinhas, evitando assim a contaminação do terreno.” Mas fazem mais. “Durante o dia, enquanto andam, estão quase sempre a estrumar e como raspam constantemente a terra, promovem o arejamento do solo.” Nessa vida sem esforço lá põem os seus ovos, que são certificados como biológicos. “Mais um produto que podemos comercializar.”A primeira experiência de venda mais a sério de cereja só aconteceu este ano. “Tudo que colhemos vendemos.” E se a cereja por si só já é muito procurada na sua época, a biológica é ainda mais difícil de encontrar. “Foi bom para a venda. Só tivemos pena de não ter mais quantidade.” Culpa do clima. “Temos de estar preparados para isso. É a realidade da agricultura. Contudo, nós somos bastante otimistas. Da próxima será melhor.” O jovem agricultor não deixou totalmente a antiga profissão. “À semana estou no Fundão. Ao fim de semana ainda vou ao Porto.” Descansar ou trabalhar, como técnico de som. Uma rede para o caso de as coisas não correrem como o esperado. “São entre cinco e dez anos para reaver o investimento que fizemos com as cerejas. E este ano, também por causa da covid, foi atípico. Confiamos. Lá chegaremos. Devagarinho.” E entre as duas profissões arranja sempre tempo para se atualizar. Não faz grande esforço, na verdade. “A partir do momento que descobri a agricultura, percebi que gosto muito desta área e que quero sempre aprender mais.” Haverá quem ache muito arriscado. Carlos não. “Todas as mudanças têm os seus prós e contras. Ainda assim, não estou nada arrependido. Pelo contrário, estou até cada vez mais motivado.” Muito por culpa da nova paisagem. Pano de fundo que lhe trouxe outra cor aos dias.

Carlos Matos tem um pomar de cerejas onde inova com os princípios da permacultura. É aí que entram as galinhas
(Foto: Filipe Pinto/Global Imagens)

Uma realidade que Sónia Brito conhece bem. A história que conta, e que se funde com a do marido, levou-os a trocar o cinzento do betão pelas cores da framboesa, que cultivam sob o sol algarvio de Lagoa. Há oito anos, em plena crise económica, viraram a vida do avesso. Do principio. Ela e ele, engenheiros civis com quase uma década de experiência, prestes a embarcar para São Paulo, enviados pela empresa onde ambos trabalhavam, por altura dos Jogos Olímpicos do Brasil. Aguardavam apenas o nascimento da filha, para fazerem a viagem. Porém, as malas ficaram por fazer. A menina nasceu com alguns problemas. Teve uma luxação, uma das pernas estava desencaixada na anca. O problema implicava deslocações semanais a Lisboa e fisioterapia diária. “Não íamos mudar de país com uma criança a precisar de cuidados médicos. Tivemos de repensar.” Nessa altura, durante a licença de maternidade, percebeu que os frutos vermelhos no Algarve, onde vivia, tinham ótimas janelas de produção. Sónia não matutou muito na ideia. “Entrei em contacto com uma empresa que garantia escoamento da fruta e todo o apoio técnico.” A jovem mãe, que apenas tinha 30 anos, explicou a situação. “Ficaram reticentes porque não tínhamos antecedentes na agricultura. Pediram referências aos nossos chefes e acabaram por nos chamar para uma reunião.” Apertaram-se mãos e Sónia e o marido lá se aventuraram entre os morangos e as framboesas. Começaram com um hectare. Passaram a hectare e meio. Andaram à procura de outros terrenos. Encontraram um com 11 hectares. Por transpor os seus conhecimentos de engenharia civil para a agricultura, aliando os princípios da sustentabilidade, Sónia ganhou, o galardão de melhor jovem agricultora, em 2015. “Não havia prémio monetário, havia era benesses, então avançamos para a construção desse tal novo terreno que havíamos encontrado.” Cientes que o facto de não serem da área os poderia prejudicar, valorizavam os conselhos de quem percebia da poda. “Era a nossa receita mágica.” Hoje, têm 5,6 hectares de framboesa e amora plantados. “O que é muito!” A que juntam também a produção de dióspiros-maçã. Resultado: reformaram-se da engenharia civil. “Era impossível conseguir levar as duas áreas. Temos duas quintas, muita responsabilidade. Sete dias por semana. Todos os dias. A rega que as plantas recebem é estudada diariamente. Na época de campanha temos mais de cem trabalhadores. Não dava para mais.” E Sónia afirma: “Eu era muito feliz como engenheira civil”. Parte dessa alegria vinha de um salário alto e certo. “Agora, tudo depende de nós. Quando as coisas começam a desviar-se do caminho, ficamos mais aflitos, mas dá-nos outro prazer trabalhar no que é nosso.” Por isso, não voltava atrás. “Não há sequer tempo para baixar os braços.”

Os meses de julho, agosto e setembro são mais calmos. Mas não, não dá para grandes férias. É preciso preparar com tempo a colheita seguinte. Além disso, há outras preocupações. “Temos sempre de picar o ponto. Se faltar a luz, por exemplo, a estufa deixa de funcionar. Se a temperatura sobe, temos um problema. Não dá para irmos para longe.” O esforço compensa por outro lado. Em 2018, a SR Berry ganhou um prémio de empresa do ano. O volume de faturação de 2019 é de 1 milhão e 38 mil euros. 95% da produção é exportada para os mercados do norte da Europa. “Estamos em constante atualização. A nossa empresa é certificada. Esta semana tivemos uma auditoria. Trabalhamos muito, mas sinto que somos recompensados.” Como casal complementam-se. “Cada um tem a sua função. Ele não se mete nas minhas, nem eu nas dele”, diz Sónia a sorrir. E há outro ponto que também já está acertado entre ambos. Pelo menos para já. “Quando me perguntam quantos filhos tenho, respondo sempre que dois. A Ana Carolina, que hoje está bem, e que já tem oito anos, e o fruto vermelho. Não consigo ter um terceiro.”

Sobre filhos, Luís Carcau não falou. Mas sobre figos, sim. O jovem de 24 anos vive em Mirandela. No sangue carrega a herança da agricultura. “A minha família sempre teve figueiras e eu, que cresci ligado à terra e aos pomares, vesti a camisola.” O curso de Engenharia Agrónoma, que tirou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, alargou-lhe, ainda mais, os horizontes, que já tinha traçado longínquos. Há dois anos, ainda como estudante de mestrado, começou a colaborar com várias entidades na área da formação profissional. E com a mãe tem dividido a gigantesca tarefa de gerir 16 hectares de terra, onde tem plantadas dezenas de figueiras. “Fomos fazendo os nossos investimentos. Estamos a alterar o sistema de produção, a apostar essencialmente em pomares biológicos, com sistema de rega gota a gota (porque assim temos uma cultura da regadio em vez de ser em sequeiro, como era característico no nosso país), sistemas de rega automatizados, e utilização de tecnologia de precisão, para fazer uso eficiente da água.”

O gosto pelos figos é uma herança de família. Aos 24 anos, Luís Carcau empenha-se por modernizar este setor
(Foto: Leonel de Castro/Global Imagens)

Por esta altura, as árvores estão despidas. A colheita que começou no início de agosto terminou no final de setembro. Não tarda, em janeiro, começam as podas. Segue-se a fertilização orgânica e a manutenção do enrelvamento do solo. “Evitamos as lavouras e optamos por ter o solo revestido com vegetação espontânea.” E a partir de maio inicia-se o regadio, que se estende até ao final da colheita. Uma canseira, é certo. Mas também um enorme prazer, vinca Luís, um jovem disposto a lutar pelo figo em Portugal. “É uma fruta que não tem sido alvo de muita atenção e que tem muito potencial.” O jovem fruticultor constata que esse “abandono” a que o figo foi vetado tem origem na forte concorrência de outros países do espaço europeu, “que conseguem colocar o fruto no nosso mercado a um preço mais baixo.” O que aos poucos levou ao esquecimento da cultura que não se conseguiu modernizar através “de novos processos, novas técnicas de cultivo, embalamento e comercialização”. Mas Luís está disposto a remar contra a maré. Por isso, em 2019, submeteu um projeto na categoria de jovem agricultor para ter apoios de maneira a modernizar ainda mais o pomar. No centro de frutologia da Compal também recebeu formação nas áreas de “e-commerce” e marketplace” para o ajudar a comercializar os produtos nas plataformas online. “A ideia é conseguir entrar com novos produtos no mercado digital. Formar um catálogo online mais vasto, que não só o figo fresco e o figo seco”, das variedades adaptadas à região (pingo de mel, três no prato, bêbera preta). “Apostar em compotas, snacks, etc. E criar uma marca.” O foco na produção biológica e no resíduo zero vai ao encontro dos novos mercados internacionais. “Produzir o figo e manter a sustentabilidade do ecossistema agrícola, a manutenção da paisagem envolvente e segurança alimentar são prioridades.” E, por isso, Luís tem uma lista de batalhas para travar. “As alterações climáticas e a falta de água são problemas que temos de solucionar.” Pesquisar técnicas que existam noutros países e falar com outros produtores são pistas. Tudo isto, a partir de Mirandela. “É importante mostrar que no Interior também é possível fixar jovens e desenvolver projetos voltados para a inovação, sem perder a ligação à tradição da região.” E, mais importante de tudo, mostrar que há resultados. Este ano, Luís conseguiu colher 25 toneladas de figos.