Determinada e com muita vontade de fazer política desde miúda, afirma quem a conheceu com 18 anos. Estava-se em 1993 e as maiorias do PSD destinavam ao PS o caminho das pedras. “Parecia que o partido nunca mais seria governo”, lembra Rui Pedro Soares. “Porém, nada que desmotivasse a Jamila”, acrescenta de imediato. Filha de Luís Filipe Madeira, dirigente socialista com peso à época, ainda de menor idade, mas já presidente da associação de estudantes da escola secundária, em Loulé, combatera Cavaco Silva, juntando-se à revolta estudantil contra a Prova Geral de Acesso (PGA). E, “porque já concordava com a ideologia socialista”, filiara-se na JS, depressa se fazendo notar. De tal modo que em 2000, no congresso destinado a escolher o sucessor de Sérgio Sousa Pinto, joga a grande cartada numa candidatura, protagonizando com a adversária Ana Catarina Mendes a maior cisão de sempre na jota socialista, com repercussão no partido. A guerra fratricida assenta já em duas linhas antagonistas. Ana Catarina Mendes segue a de António Costa; Jamila Madeira a de António José Seguro. A algarvia ganha por um voto. Ana Catarina considera o resultado suspeito e pede novo congresso. “Por um voto se ganha e por um voto se perde”, responde Jamila, demonstrando a tal natureza determinada, mas não só. Marcos Perestrello, que pertencia ao secretariado nacional de Sérgio Sousa Pinto, explica: “A Jamila tinha apoios muito fortes, de gente mais velha e experiente. Não aguentou aquilo tudo sozinha. Houve um grupo de dirigentes mais velhos que vendo nela potencial deram músculo político à candidatura”. Fala de Luís Pedro Martins, Afonso Candal, António Galamba e Ricardo Castanheira.
Entre as duas candidatas esteve Rui Pedro Soares, que acabaria por desistir a favor de Jamila. Hoje, recorda: “A Jamila não é pessoa de pressionar para ter apoios. Quem quer estar com ela, está, quem não quer, não está”. De resto, acrescenta, “sendo o pai influente no PS, a filha nunca misturou as coisas”. Descreve uma mulher de “centro-esquerda, sempre muito determinada, resiliente, das poucas pessoas que conseguia conciliar a atividade política com as obrigações académicas”. Em que medida a contenda lhe traçou o destino dentro do partido? “Creio que esse episódio foi ultrapassado. Basta dizer que ela foi reeleita”. A verdade, porém, é que não foi possível obter declarações de figuras próximas da atual secretária-geral adjunta, sobre Jamila ou sobre o famoso congresso.
Miguel Rodrigues, braço direito da secretária de Estado, conheceu a economista apenas no governo. “Uma mulher simpática e determinada, alguém que assume os objetivos do governo, com grande preocupação quanto aos recursos que estão a ser postos à disposição da população que utiliza o Serviço Nacional de Saúde.” Para o técnico, “nos meses de emergência, foi sempre uma parte na resolução de contrariedades”, recordando os dias piores, “aqueles em que se temeu que a pandemia tivesse em Portugal uma evolução semelhante à de Espanha ou de Itália”.
Miguel Rodrigues afirma que nunca a viu irritada. Nem sem relógio. Lamenta que não ligue o ar condicionado no verão. Talvez não saiba que o nome é a homenagem paterna a Djamila Boupacha, a estudante argelina nascida em 1938, militante da Frente de Libertação Nacional, presa e torturada pelos franceses em 1960.
Jamila Bárbara Madeira e Madeira
Cargo: secretária de Estado da Saúde
Nascimento: 17/07/1975 (45 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Loulé)