São atletas, são diabéticos e têm Portugal ao peito

Texto de Sara Dias Oliveira

Bernardo Rodrigues, Bruno David, Celso Freitas, Francisco Patatas, João Carrasco, João Nabais, Leandro Andrade, Luís Metrogos, Pedro Magalhães, Rafael Carias e Sandro Almeida. Estes são os atletas, com idades entre os 21 e os 50 anos, que estão a representar Portugal no Campeonato Europeu de futsal para pessoas com diabetes – Dia Euro, que decorre em Kiev, na Ucrânia, até 26 de julho.

Todos têm diabetes tipo 1, com uma duração variável entre os cinco e os 37 anos, são tratados por injeções diárias de insulina ou por bomba perfusora de insulina. A diabetes tipo 1 é uma doença crónica que se desenvolve quando o pâncreas pára de produzir a insulina de que o corpo necessita e, consequentemente, os níveis de açúcar no sangue sobem. Estes atletas, todos juntos, têm 150 anos de vivência com a diabetes e querem mostrar que ela, quando bem tratada, não é uma barreira para atingir sonhos.

A equipa portuguesa, DiabPT United, é constituída por homens de várias partes do país, da Área Metropolitana de Lisboa, Évora, Mirandela, Peniche, Águeda e Loulé, selecionados em vários treinos ao longo dos últimos meses. São membros do Núcleo Jovem da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (NJA) e da Associação de Jovens Diabéticos de Portugal (AJDP). O que têm em comum? Todos vivem diariamente com a diabetes e querem inspirar a sua geração e a sociedade, rompendo com os preconceitos ligados à diabetes. A equipa portuguesa será um dos 11 conjuntos participantes que juntam mais de 200 jogadores, que vão mostrar que a diabetes não é limitadora de um estilo de vida.

Em 2015, foram detetados, em média, 13,3 novos casos por cada 100 mil jovens com idade até aos 14 anos

“Ao contrário do que se pensa, o desporto ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue e é por isso uma mais-valia para todas as pessoas que vivem com diabetes”, refere Bruno Fuzeiro, treinador da equipa, que neste campeonato está acompanhado pelo técnico-adjunto Rui Simões e pelo enfermeiro Manuel Cardoso.

“É um torneio muito complicado! São cinco dias de jogos seguidos, havendo dias em que fazemos dois jogos. Apesar de estarmos preparados, queremos continuar a mostrar que temos uma excelente equipa. Todos os anos ouvimos dizer que somos muito fortes e a verdade é que no fim os resultados, por uma razão ou por outra, não são aqueles que queremos! Este ano queremos aliar a qualidade de jogo aos resultados desportivos, tendo como objetivo alcançar as meias-finais, e depois tudo pode acontecer”, conta o treinador à NM. E não esconde o seu sonho. “Tenho um desejo grande de ser campeão europeu e especialmente com estes atletas que andam há três anos comigo (muitos há mais tempo) a lutar por esta causa.”

Em Portugal, estima-se que 13,3% da população tem diabetes, mas quase metade dos casos não está diagnosticada

A equipa DiabPT United mostra que, com uma correta gestão da doença, todos podem ser atletas, viajar, competir e representar Portugal a nível europeu, podendo inspirar para rotinas de vida menos sedentárias e mais ativas. Por outro lado, pretendem chamar a atenção para o acesso aos tratamentos, sobretudo quanto à disponibilização de medicação inovadora, mais adaptada às necessidades dos doentes que vivem com diabetes, que continua sem comparticipação.

A diabetes não é um empecilho na vida destes atletas. E por que é que isso acontece? Bruno Fuzeiro responde. “O conhecimento que eles têm da doença, assim como os cuidados diários que têm, faz com que consigam controlar a diabetes. Há três anos que estou neste projeto e nunca tivemos um episódio de hipoglicémia, e apenas uma vez um jogador pediu para não entrar por estar a controlar a diabetes.”

“Se bem tratada a diabetes não é uma barreira para atingir os sonhos de cada um, apesar de ainda existirem muitas necessidades a nível médico para as pessoas que vivem com diabetes. Especialmente no que diz respeito ao acesso aos medicamentos inovadores que se adaptam ao perfil e às necessidades das pessoas que vivem com diabetes”, acrescenta.

Os atletas têm de controlar a glicemia durante e depois dos treinos e aproveitam as pausas entre exercícios para a medir e fazer algum eventual acerto

“A participação da DiabPT United neste campeonato é uma excelente forma de promover o desporto e de mostrar que a diabetes não impede a adoção de um estilo de vida saudável. Para além disso, esta é uma forma de promover a troca de experiências entre atletas nacionais e estrangeiros. Esperamos que Portugal possa chegar o mais longe possível neste campeonato!”, sublinha Paula Klose, presidente da AJDP.

“A realização deste campeonato é muito importante, pois permite que jovens e adultos que vivem com diabetes tenham oportunidade de partilhar experiências com pessoas de outros países que têm a mesma doença e, independentemente do resultado, poder participar num evento desta dimensão é, por si só, uma vitória. Esta é ainda uma forma de fomentarem valores de inclusão, força de vontade e trabalho em equipa”, refere Alexandra Costa, coordenadora do NJA.