Texto de Sofia Teixeira
Aos músicos e cantores sempre foi concedida uma espécie de imortalidade alcançada através da obra que deixam e da memória dos que ficam. Mesmo depois de partirem, as suas canções continuam a ser ouvidas, as letras a ser sabidas de cor e os maiores fãs recordam os concertos mais emblemáticos através de DVD ou via YouTube.
Acontece que o conceito de imortalidade está a ampliar-se e a era da pós-morte a chegar ao mundo do espetáculo. Roy Orbison (1936-1988) esteve em tour pelos Estados Unidos no final do ano passado. Maria Callas (1923-1977) passou pela Europa e segue em breve para uma digressão na América do Sul. Amy Winehouse (1983-2011) será a próxima a regressar durante este ano para uma série de concertos.
Em cima do palco estão os seus hologramas hiper-realistas que dão aos espectadores a possibilidade de fingir que estes artistas estão vivos, em vez de se contentarem com gravações.
A primeira performance deste tipo foi feita no festival de Coachella, em 2012, quando, durante uma atuação de Snoop Dogg, foi projetada em palco uma imagem do rapper americano Tupac Shakur, assassinado em 1996.
Em 2014 foi feita uma experiência semelhante, durante os Billboard Music Awards, recriando uma atuação de Michael Jackson. Estas duas experiências recorreram a uma técnica de ilusionismo com centenas de anos chamada Pepper’s Ghost, na qual através de placas de vidro e iluminação é refletido à frente do espectador um objeto que está posicionado atrás dele, o que acaba por resultar numa imagem meio transparente e algo fantasmagórica.
Pelo contrário, nas digressões de Roy Orbison, Maria Callas e, futuramente, de Amy Winehouse, todas promovidas pela empresa americana BASE Hologram, a tecnologia é de ponta: envolve duplos para a captação dos movimentos corporais que são projetados e imagens gravadas dos cantores que são depois fundidas em computador para recriar a figura completa, além da projeção de um holograma tridimensional a laser, do som de gravações originais remasterizadas e de orquestras ao vivo.
O resultado, diz quem viu, é uma sensação altamente realista, que inclui uma ilusão de interação do artista com o público, ao agradecer em resposta aos aplausos. Sabe-se que Roy Orbison e Maria Callas não estão ali, mas bem podiam estar. De resto, Alex Orbison, filho de “The Big O” e presidente da Roy Orbison Music, teve oportunidade de ver o holograma do pai em palco, antes de o espetáculo chegar a público, e disse que foi uma forte experiência emocional para toda a família.
Dos fãs de Amy Winehouse, cuja digressão holográfica está programada para este ano, ainda sem datas, as reações foram contraditórias. Alguns estão ansiosos pela possibilidade de voltar a vê-la em palco, outros criticam o espetáculo e a exploração da imagem de Winehouse, apesar de o espetáculo ter a aprovação da família e parte das receitas reverterem para a Winehouse Foundation, que apoia a prevenção do abuso do consumo de álcool e drogas.
Em Portugal, para já, ainda não estão agendados espetáculos deste tipo.