A chegada do tempo ameno pede alimentos mais frescos e refeições mais leves. Desafiámos quatro amantes de alimentação e cozinha e preparar farnéis práticos e coloridos, em sintonia com a estação.
Entre doces e salgados, fotografia e aulas de cozinha, a comida é uma constante na rotina de Rui Ribeiro. A paixão por tachos e panelas começou com apenas oito anos, quando cumpria as ordens da mãe e preparava o arroz para o almoço. Quase 30 anos depois, é chef e autor de “Faz e Come”, um dos blogues de culinária mais populares do país.
Na correria quotidiana, sobra pouco tempo para planear refeições para o dia seguinte. “Normalmente as minhas marmitas são restos”, confessa, entre risos. A chegada da primavera e do bom tempo permite reciclar refeições e utilizá-las em saladas, práticas e fáceis de preparar.
Desafiado pela “Notícias Magazine”, Rui Ribeiro idealizou uma marmita descomplicada e sem segredos. O chef de Monção reaproveitou o frango assado do jantar anterior, juntou rabanetes e tomates-cereja “que estavam a precisar de ir”, cozeu um arroz integral e adicionou uma generosa quantidade de rúcula.
Às saladas deve acrescentar-se, sempre que possível, os alimentos da estação. “Do ponto de vista económico, é importante saber em que época do ano estamos e que produtos temos.” Os morangos e as cerejas voltam em força e, quando o tempo aquecer, o melão e a melancia.
Além da fruta, que traz um colorido forte aos pratos, os legumes da primavera podem ser alternativas interessantes. Isabel Zibaia Rafael, autora de vários livros de culinária, não dispensou as ervilhas na preparação da marmita para a NM. “Preparei uma salada colorida e feliz. É uma receita para aqueles dias em que não queremos nem carne, nem peixe.” Às ervilhas juntou manga, queijo feta, agrião e quinoa.
Apaixonada pela cozinha, Isabel deixou o ensino para se dedicar a tempo inteiro ao blogue “Cinco Quartos de Laranja”, que criou há 13 anos. “Partilhar uma refeição é estabelecer laços. Refeições boas criam memórias boas. É isso que valorizo e tento transmitir”, explica a autora lisboeta.
Por privilegiar a variedade de texturas e sabores, aconselha a fazer pré-preparações ao fim de semana para facilitar os dias de trabalho. “Rentabilizamos o dinheiro porque utilizamos aquilo que temos no frigorífico.” Assar um tabuleiro de legumes, fazer uma grande panela de sopa ou cozer ovos pode ajudar na hora de preparar a marmita.
Além disso, a comida deve ser transportada em recipientes de vidro fechados hermeticamente, sobretudo se for necessário aquecer. O tempero das saladas deve ser feito apenas na altura do consumo. O mais importante é, acima de tudo, o equilíbrio.
Adepta da organização e do equilíbrio é também Eva Neves de Carvalho. A nutricionista divide o trabalho entre o grupo Cerealis e a Clínica Médica da Foz, mas apesar dos dias corridos, a escassez de horas não pode servir de desculpa. “A ideia é tentar facilitar e gerir o tempo da melhor forma. Cozer mais massa ao jantar pode ser uma ajuda para a refeição do dia seguinte.”
Com mais de dez mil seguidores no Instagram, a nutricionista do Porto dá dicas de alimentação, explora novos alimentos e, quando possível, esclarece as dúvidas dos internautas. “Mostro refeições com produtos de fácil acesso, mas claro que também tento arrojar um bocadinho. Procuro sempre partilhar a noção de que o equilíbrio é a base. Os extremismos podem bloquear e dificultar quem quer alcançar objetivos”, elucida Eva.
Para a NM, a receita que preparou não poderia ser mais rápida. Cozeu massa integral, com hidratos de carbono mais complexos, juntou uma lata de atum, alface, tomate-cereja e cenoura e finalizou com noz. “Esta é uma das refeições que costumo levar para a praia”, confessa.
As saladas são as eleitas da estação. E se considera este prato demasiado básico, desengane-se: tudo depende da imaginação. “As saladas podem ser muito mais do que uma taça de folhas verdes”, esclarece Márcia Gonçalves.
A autora do blogue vegetariano “Compassionate Cuisine” preparou, para a NM, um combinado de legumes assados, arroz e feijão branco, ao qual juntou ervas aromáticas, cebola e azeitonas. Como nutricionista, alerta para as questões de conservação. “O tempo quente obriga a cuidados redobrados na conservação dos alimentos, pois ficam mais suscetíveis à deterioração”, frisa. O ideal é transportar a marmita numa bolsa térmica e guardar no frigorífico do local de trabalho, para que a hora de refeição tenha mesmo os tons da primavera.