Heidi Martins: a porta-voz dos filhos dos emigrantes

Após terminar com sucesso um percurso académico que passou por Suíça, Portugal, Luxemburgo e Bélgica, Heidi Martins deseja continuar a trabalhar na área da investigação. (Foto: DR)

Texto de Sara Oliveira

Nasceu e viveu toda a infância na Suíça. Até se chama Heidi como a personagem dos desenhos animados que cresceu nos Alpes, somando o apelido Martins no nome como prova da nacionalidade e herança portuguesas.

Filha de emigrantes, mudou-se para Chaves aos 11 anos, onde sentiu algumas barreiras na adaptação. Nessa altura, apenas falava francês com uma outra menina, que tinha vindo da Bélgica, e, em casa, com o irmão. “De um momento para o outro, deixei de lado o francês, mas continuei a ser uma criança muito isolada, pois tudo era diferente, não era só a língua”, recorda, agora, já com todas as ferramentas para se exprimir.

Com a idade, veio a maturidade e a licenciatura em Sociologia, na Universidade do Minho, em Braga, que terminou em 2007. De seguida, começou a trabalhar. Foi secretária num escritório de advogados, esteve num call center, mas sempre desejou ser investigadora.

Esgotada com o ambiente diário das chamadas telefónicas, avançou para mestrado e Erasmus. Sem dinheiro e sabendo que a bolsa tardaria, optou pela Universidade do Luxemburgo, onde tinha uma amiga que a ajudou nos primeiros tempos. Corria o ano de 2012. Trabalhou em restaurantes e como assistente de professores. “Tinha de me sustentar”, vinca.

Determinada em aprofundar conhecimentos, não ficou por aí. Seguiu-se o doutoramento. Mas, como não o conseguiu de imediato, apostou em fazer um outro mestrado, na Bélgica.

“Estava por minha conta e trabalhei sempre, mantendo o vínculo com a Universidade do Luxemburgo num projeto de investigação”, conta. A conclusão desse segundo mestrado coincidiu com a vaga de doutoramento no Luxemburgo. Estavam lançados os dados para quatro anos de um trabalho intenso.

Ouviu inúmeras histórias de filhos de emigrantes portugueses no Grão-Ducado que serviram de base a uma tese sobre a questão de identidade e sentimentos de pertença. Escrita em francês, foi apresentada a 22 de janeiro, merecendo um “muito bom”. A par disso, ajudou a exteriorizar a relação dos lusodescendentes envolvidos “com o país de origem dos pais e que, muitas vezes, já não é o deles”. Era fundamental ajudar a libertar os filhos dos emigrantes de eventuais sentimentos de culpa por assumirem que o Luxemburgo é o único país a que sentem pertencer.

Agora, ver a tese publicada em livro é o desejo de Heidi Martins, enquanto procura trabalho, pois, aos 34 anos, está desempregada. “Gostava de continuar na área da investigação, de preferência no Luxemburgo, mas tudo dependerá de onde surgirem oportunidades que me enriqueçam”, assume, mantendo, religiosamente, as viagens a Chaves, onde ainda tem os pais.