No nosso país, o cancro do intestino mata 11 pessoas por dia. Prisão de ventre ou diarreia, perda de sangue, desconforto abdominal, são alguns sinais de alerta. E há um exame que indica o que se passa em tempo real. A prevenção supera o desconforto?
A colonoscopia é um exame que existe para a deteção precoce, a tempo de curar ou estabilizar uma doença grave. O cancro colorretal é o tumor maligno com maior incidência, todos os anos surgem 7500 novos casos, há mais de 80 mil doentes ativos, e 50% da população desconhece os sintomas da patologia. Um dos grandes problemas são os mitos associados a esse exame clínico.
“Há um tabu de processo invasivo, medo de perfurações intestinais, de mau paladar dos produtos de preparação, mas é um exame muito eficaz e que se consegue visualizar o intestino em tempo real, bem como retirar no mesmo ato os pólipos existentes que seguirão para análise e assim resolver precocemente uma doença de muito mau prognóstico”, adianta Vítor Neves, presidente da Europacolon – Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo.
A falta de vigilância leva a um diagnóstico tardio, precisamente por não haver sintomas na fase inicial da doença. As primeiras etapas do cancro do intestino, por norma, não causam dor. E, mesmo sem qualquer sintoma, a partir dos 50 anos recomenda-se fazer o despiste, já que a progressão da doença é silenciosa. Se for detetada a tempo, poderá ter cura em 90% dos casos. A colonoscopia é então essencial no combate ao cancro colorretal.
A maioria dos cancros do cólon e reto desenvolve-se a partir de lesões no intestino grosso – os pólipos, formações que surgem na camada que reveste a mucosa do intestino grosso
Perda de sangue nas fezes, dores abdominais constantes, perda de peso e cansaço sem razões aparentes, sensação de que o intestino não esvazia completamente, diarreia ou obstipações constantes, são sinais de alerta. Se esses sintomas persistem então é preciso contactar o médico assistente para despistar a causa.
“Estudos clínicos provaram que a obesidade está diretamente relacionada com o cancro colorretal”, sublinha Vítor Neves. O estilo de vida também é importante. Alimentação rica em gorduras, fritos, açúcar, carnes vermelhas, carnes processadas, e pobre em fruta, legumes e hortaliças, não ajuda. Bebidas alcoólicas em excesso, tabagismo e sedentarismo também não aconselháveis.
Um estudo europeu, realizado recentemente, avaliou a atitude das pessoas em relação à realização da colonoscopia, o conhecimento relativamente ao procedimento e a informação sobre o exame. Foi feito um inquérito a dois grupos distintos: quem nunca fez o exame e quem fez nos últimos cinco anos. “As conclusões permitiram desmistificar as expectativas que as pessoas têm em relação a este exame, face ao que é a realidade”, refere Vítor Neves.
A maior parte dos inquiridos (94%) considerou o procedimento melhor ou igual ao expectável, apenas 6% considerou pior. O exame em si é a pior parte do processo para aqueles que nunca fizeram o exame (38%), enquanto os que já foram submetidos a uma colonoscopia salientam a preparação intestinal como a pior fase (47%).
Apesar da experiência da realização da colonoscopia ter sido considerada melhor do que o expectável, dois em cada cinco adultos ainda ficariam envergonhados de fazer novamente o exame. No grupo dos que nunca realizaram o exame, 59% referem que seria uma situação desconfortável e 43% das pessoas que já realizaram continuam a sentir o mesmo constrangimento como se fosse a primeira vez.
Pessoas com historial de doenças inflamatórias no intestino (colite ulcerosa e Doença de Crohn) têm risco acrescido de terem cancro colorretal
A maioria das pessoas pretende consultar um médico para obter informações sobre o que é a colonoscopia (80%) do que pesquisar informação na internet. O conhecimento sobre a quantidade de líquido a ser ingerido para a preparação do exame, por exemplo, não corresponde à realidade. A maior parte pensa que o líquido de preparação para o exame tem um litro ou menos (67%) e apenas 12% pensa que terá dois litros.
Segundo o presidente da Europacolon, “a colonoscopia está fortemente associada ao diagnóstico de uma doença intestinal ou cancro e, por isso, acaba por ser menos vista como um procedimento preventivo ou terapêutico, causando maior resistência por parte da população”.