Texto de Ana João Mamede
Já não é a primeira vez que a empresa americana Amazon é acusada de destruir produtos quando é incapaz de os vender, mesmo que esses se encontrem em perfeitas condições. Foi, na Alemanha, no ano passado, que a comunicação social local descobriu que quantidades astronómicas de artigos como telefones, telemóveis e frigoríficos eram incinerados ou deixados em aterros sanitários. Desta vez, a denúncia surgiu em França.
Um jornalista do programa “Capital”, do canal de televisão M6, trabalhou, durante alguns dias, à paisana, fingindo ser funcionário do armazém da Amazon. E captou imagens, através de uma câmara secreta que trazia consigo, de um dos cinco depósitos de lixo situados em Orléans, arredores de Paris. Apesar de a prática ser lícita, a companhia americana que se dedica ao comércio eletrónico em França foi alvo de duras críticas.
Guillaume Cahour, o jornalista que liderou a investigação, afirmou que essa conduta por parte da Amazon “é um completo desperdício de meios e uma aberração ecológica, económica e social”. A equipa que auxiliou o jornalista tem ainda provas de que essa realidade ocorre também noutros países, como nos Estados Unidos e no Reino Unido.
A investigação concluiu que 300 mil produtos em perfeitas condições foram destruídos em apenas três meses. Porém, a Confederação Geral do Trabalho francesa estima que esse valor possa atingir os três milhões, unicamente, no espaço de um ano.
A Amazon defende-se, dizendo que faz todos os possíveis para diminuir o número de produtos que necessitam de ser devolvidos a fornecedores externos à empresa. “Para evitar que os artigos sejam revendidos, trabalhamos com organizações como a Solidarity Giving e o Food Bank, de forma a que sejam entregues a pessoas que de facto necessitam”.
A empresa americana argumenta, também, que o destino das mercadorias é da responsabilidade dos utilizadores da plataforma e não da empresa. Vários economistas indicam que seria impossível à empresa doar todos os artigos que não consigam vender, já que teria de pagar impostos por doação.
Ainda segundo a investigação do canal francês, os fornecedores desfazem-se dos produtos devido aos elevados custos que lhes seriam exigidos para os manter nos depósitos da Amazon e porque também não é vantajoso devolvê-los ao país de origem.
O jornalista conseguiu imagens que mostram os funcionários a deitar caixas inteiras de brinquedos ou pacotes de fraldas ao lixo. O programa emitiu, também, imagens recolhidas através de drones, onde se veem artigos a irem diretamente para fornos incineradores ou aterros sanitários.
Não passaram muitas horas para o governo se pronunciar. Brune Poirson, secretária de Estado do ministro da Transição Ecológica, confessou estar “chocada” com a acusação e anunciou que o Parlamento permitirá a criação de uma lei que proíba esse tipo de procedimento. “Empresas como a Amazon não vão ser capazes de se descartar de produtos que ainda podem ser usados”, afirmou Brune, realçando que qualquer companhia de vendas deve “assumir a responsabilidade pelo destino dos produtos que oferece”.
Ainda em França, no passado mês de novembro, a Amazon foi acusada por entidades ambientais e ecológicas de se livrar de produtos eletrónicos deficientes e por não implementar medidas e políticas de reciclagem. Contudo, o atual presidente francês, Emmanuel Macron, está a promover uma proposta para que a União Europeia aplique um imposto sobre o lucro de empresas com poder tecnológico elevado, como a Amazon, uma vez que uma grande parte da receita da empresa americana na Europa é gerada em França.