Texto de Pedro Emanuel Santos
“Olho para os prémios como a Igreja olha para os santos: servem para apontar exemplos. E os melhores santos são os que fazem disparates.” É desta forma quase desconcertante que Adão da Fonseca reage quando lhe recordam ter sido o primeiro português a receber o Excellence Award for Civil Engineering, atribuído no ano passado pelo Conselho Mundial dos Engenheiros Civis.
“Claro que é uma honra ser distinguido. Mas friso sempre que o prémio assenta num trajeto profissional de obra feita e na perspetiva de ter sempre exercido a profissão de uma forma social”, resume Adão da Fonseca, nascido em Lisboa há 71 anos, mas portuense desde os sete dias de vida.
Do vasto currículo fazem parte projetos que ficaram para a história da engenharia em Portugal. Como a Ponte do Infante, no Porto, a Ponte Pedro e Inês, em Coimbra, ou o Pavilhão do Conhecimento e o Oceanário, ambos pensados para a Expo 98 e hoje obrigatórios na paisagem urbana de Lisboa. Adão da Fonseca também deixou marca internacionalmente, em trabalhos que idealizou para cidades como Florença (Itália) ou Cabo Frio (Brasil).
“Olho para os prémios como a Igreja olha para os santos: servem para apontar exemplos. E os melhores santos são os que fazem disparates.”
Carreira recheada, feita de milhares de projetos em diferentes geografias. Com criatividade, trabalho e humildade na hora de a resumir. “O comboio apareceu na estação e entrei nele. A sorte tem que ser agarrada, foi o caso”, admite com humildade.
Simultaneamente, Adão da Fonseca deu aulas durante 39 anos na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde se jubilou enquanto professor catedrático de Pontes. “Só me reformei porque Portugal estava então em crise e achei que devia dar a vez a outros”, confessa.
Os prémios, esses, parecem destinados a não parar por aqui. Adão da Fonseca foi distinguido recentemente, em conjunto com o arquiteto Eduardo Souto de Moura, com o galardão “Excelência”, na gala dos prémios Construir 2018.
“As pessoas devem tentar aprender, porque só aprendendo é que se é cada vez mais competente. E perguntar, perguntar sempre que não se saiba alguma coisa”.
Mais um sinal de reconhecimento por uma carreira ímpar, tantos os projetos bem-sucedidos. Sempre com um lema claramente definido e que pode, até, servir de mote a todas as gerações de profissionais da área: “As pessoas devem tentar aprender, porque só aprendendo é que se é cada vez mais competente. E perguntar, perguntar sempre que não se saiba alguma coisa”.
Conselho de melhor engenheiro do mundo. Que, mesmo assim, garante “não ser exemplo”. Como os santos da Igreja que só se querem rebeldes.