Texto de Cláudia Pinto
Há erros que cometemos durante as férias. Considerar que a utilização de um protetor solar com elevado índice bloqueia totalmente a radiação ultravioleta é um deles. “Nenhum protetor solar tem essa capacidade e não deve substituir os cuidados a ter”, defende Daniela Cunha, médica dermatologista no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade, ambos em Lisboa.
Nunca é de mais lembrar que não se recomenda a exposição solar entre as 12 e as 16 horas. Por outro lado, não nos devemos esquecer de usar vestuário de proteção e, nas áreas não protegidas, aplicar o protetor solar com índice adequado, replicando-o a cada duas horas e após os banhos.
Há quem considere que a utilização de cremes pós-solares, que aliviam os sintomas de queimadura solar, também diminuem os efeitos nefastos da radiação. Não é verdade. “Os pós-solares apaziguam os sintomas da pele queimada, mas não eliminam os riscos de cancro da pele associados à queimadura solar.”
“O calor, o vento, o cloro ou o sal originam desidratação e irritação, e as agressões ambientais abrangem também os cabelos, tornando-os secos e quebradiços, e as unhas, que ficam mais frágeis”, alerta Eugénia Matos Pires, também médica dermatologista nas unidades hospitalares acima referidas.
É sabido que a exposição solar, quando bem doseada, tem efeitos benéficos, mas, de igual modo, “a imersão prolongada em água produz uma progressiva remoção da barreira lipídica da nossa pele, deixando-a seca e descamativa. As águas salgadas e as de piscina têm sais na composição que acentuam essa perda da barreira lipídica e, portanto, agravam a secura da pele”, adianta Daniela Cunha. Motivos mais do que suficientes para que tenhamos alguns cuidados com a pele após o verão. Aliás, durante todo o ano, além da atenção que deve ser dada à fotoproteção, devemos manter a pele bem hidratada.
Que produtos escolher?
Atualmente, existem inúmeras opções no mercado para a época pós-verão e com variedade de preços. Eugénia Matos Pires sublinha que as campanhas de marketing na área de cuidados com a pele “são agressivas e nem tudo o que é mais caro é necessariamente de melhor qualidade”, sugerindo prudência na escolha dos produtos adequados.
“Estes geralmente contêm agentes humectantes, oclusivos e emolientes e, adicionalmente, podem incorporar agentes antioxidantes, tais como vitaminas E, C (ou derivados), que bloqueiam os danos causados pelos radicais livres e espécies reativas de oxigénio na pele, que resultam dos efeitos da radiação solar”, diz. Alguns cosméticos incorporam também “agentes como retinoides, antioxidantes, péptidos ou fatores de crescimento que ajudam a reparar a pele do dano solar”.
Além de ser recomendado que se tome um duche de curta duração, com água pouco quente e recorrendo a produtos adequados ao tipo de pele, Daniela Cunha sublinha que “os óleos de banho promovem a higiene da pele, conservando a barreira cutânea, e que os cremes emolientes (hidratantes) após o banho também ajudam a restituir o revestimento lipídico e o seu equilíbrio”.
Para além desses cuidados, no consultório médico é possível realizar procedimentos minimamente invasivos que permitem corrigir os danos provocados pelo sol, como, por exemplo, rugas, manchas, flacidez e desidratação.
“Dentro desses procedimentos, estão disponíveis as técnicas de resurfacing e os procedimentos injetáveis. As primeiras melhoram sobretudo a textura da pele (linhas de expressão, irregularidades da tez, poros, vermelhidão e pigmentação) e incluem os peelings químicos (superficiais, médios ou profundos), a luz intensa pulsada, os lasers e a radiofrequência. Os últimos corrigem as rugas e/ou modelam o rosto e/ou aportam hidratação e incluem a mesoterapia, a toxina botulínica e o plasma rico em plaquetas.” Sempre que necessário, recorre-se à combinação de diferentes métodos para a otimização dos resultados.
Eugénia Matos Pires desaconselha os métodos caseiros, 100% naturais ou biológicos que estão atualmente disponíveis para variadas doenças de pele. “Nenhum é recomendável, pois não são isentos de químicos e a sua composição não é conhecida. Muitos desses métodos agravam patologias existentes e, como tal, devem ser evitados.” A dermatologista defende que deve imperar o bom senso, com uma alimentação variada, ingestão de água, prática de desporto e um padrão de sono regular, bons aliados para uma pele saudável.
Uma chamada de atenção para os idosos que são mais suscetíveis de sofrer desidratação quando expostos a temperaturas elevadas. “Um dos motivos para tal é o facto de terem uma barreira cutânea menos eficaz, conduzindo a maiores perdas de água”, explica a médica.
Cuidados ao longo do ano
A saúde da pele deve ser uma preocupação diária e não exclusiva da época balnear, ainda que o verão propicie outros cuidados a ter, como os que se relacionam com o banho, que deve ser curto e com água pouco quente. “Devem ser utilizados produtos de banho suaves e, sempre que necessário, aplicar creme emoliente após o banho. Em especial, as pessoas com tendência alérgica devem evitar os produtos perfumados”, sugere Daniela Cunha.
A aplicação de protetor solar (com fator igual ou superior a 30) nas áreas fotoexpostas (incluindo lábios e orelhas) deverá fazer parte da rotina diária dos cuidados da pele, não sendo exclusiva do verão.
Os cuidados de fotoproteção têm de ser iniciados na infância e prolongar-se ao longo da vida. Com o envelhecimento natural, as necessidades de hidratação vão mudando e as preocupações devem ser adaptadas a cada faixa etária. Por outro lado, a origem racial também tem influência na pele – mais clara ou escura.
“As pessoas com a pele mais escura têm maior quantidade de melanina, que confere cor à pele e que a protege da radiação ultravioleta (minimizando os efeitos nocivos). No entanto, a melanina não impede que as pessoas de cor escura também sejam suscetíveis ao dano solar, embora com menor intensidade. Além disso, têm mais tendência a desenvolver problemas de pigmentação, que resultam em manchas escuras na pele”, destaca Eugénia Matos Pires.
As diferenças hormonais entre homens e mulheres espelham igualmente diferenças entre a pele feminina e masculina. “A hormona masculina, em particular a testosterona – que também é produzida nas mulheres, mas em pequenas quantidades – determina que o homem tenha barba e que a sua pele seja mais espessa e mais oleosa do que a da mulher. Idealmente, os homens devem optar por hidratantes e protetores solares com textura mais ligeira e menos oclusiva”, acrescenta a médica.
No que respeita aos cabelos, Daniela Cunha sugere “a utilização de produtos de lavagem suaves e de máscaras reparadoras que auxiliam na recuperação do equilíbrio capilar”, e as unhas devem manter-se curtas e recorrendo a “cremes emolientes que auxiliem à sua reparação”, uma vez que o verão as torna mais quebradiças e secas.
Quando recorrer a um dermatologista
– Sempre que se identifique uma alteração na pele, qualquer que seja a altura do ano. “Alguns dos efeitos da exposição solar e da época balnear podem ser semelhantes a algumas doenças da pele, não devendo ser desvalorizados”, salienta Daniela Cunha.
– A necessidade de avaliação dermatológica após o verão é variável. “Em algumas situações é recomendada, como, por exemplo, se houver patologia prévia que possa ter sido agravada no verão, como melasma, acne, rosácea, ou se surgirem sinais de novo e/ou alteração de sinais prévios”, especifica Eugénia Matos Pires.
– Recomenda-se a avaliação de feridas que não cicatrizam e das manchas, rugas e flacidez (a chamada avaliação fotodano).