Otelo Saraiva de Carvalho: «O 25 de Abril não foi uma vitória operacional, foi psicológica.»

Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia Pedro Aperta

Passam vinte minutos do início do dia 25 de abril de 1974. A contrassenha está dada: na Rádio Renascença ouve-se Grândola, Vila Morena. Duas horas antes tinha ecoado E Depois do Adeus nos Emissores Associados de Lisboa.

O golpe estava em marcha e, a partir do posto de comando instalado clandestinamente no Quartel da Pontinha, Otelo Saraiva de Carvalho sustinha a respiração. Era agora.

Na Guiné, Otelo tinha estado no regimento de Assuntos Civis e Ação Social. «Mesmo que tenha sido um estratega do golpe, eu sabia que as guerras se ganham mais com psicologia do que com planeamento.»

Às três da manhã, quando recebeu a notícia de que os principais meios de comunicação social estavam tomados e que o governo não tinha como falar com os portugueses, respirou finalmente. A liberdade tinha chegado.

Era por isso essencial assegurar que, além dos pontos-chave militares, o MFA controlasse rapidamente a RTP, a Emissora Nacional e o Rádio Clube Português.

«Para silenciar o regime e impedi-lo de amedrontar o país. Sem este acesso aos microfones nunca poderíamos dizer que esta era uma revolução democrática. E sem isso não teríamos convocado o entusiasmo da população, que sai para a rua e serve de muralha ao MFA. Por isso o 25 de Abril não foi uma vitória operacional, foi psicológica.»

Às três da manhã, quando recebeu a notícia de que os principais meios de comunicação social estavam tomados e que o governo não tinha como falar com os portugueses, respirou finalmente. A liberdade tinha chegado.

UMA VIDA EM NÚMEROS

44 – DEMOCRACIA
A liberdade faz anos nesta semana. A ditadura caiu há 44 anos.

16,5 – ELEIÇÕES
Foi a percentagem de votos que obteve nas presidenciais de 1976. No distrito de Setúbal o valor foi de 41,8 por cento.

81 – ANOS
Otelo nasceu a 31 agosto de 1936, em Lourenço Marques, hoje Maputo.

2 – SENHA
O sinal de que a revolução estava em marcha foi dada por duas canções: E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, e Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso.

5 – PRISÃO
Os anos que passou em prisão preventiva por acusação de liderar nos anos 1980 o movimento terrorista FP 25, da qual seria amnistiado.