Do estatuto da realeza à inovação dos chineses: eis a história do guarda-chuva

Texto de Filomena Abreu

No princípio era uma sombrinha. Uma espécie de guarda-sol. Feita de madeira, bambu e tecido. Servia para manter as peles claras, sinónimo de status – o bronzeado resultava do trabalho braçal e “inferior”. Uma necessidade cultural que dava uma aura de divindade a quem se abrigava. Protegiam a realeza e os nobres. Eram seguradas pelos servos.

A prática terá começado na Ásia, no século VI a.C.. Foi assim que evoluiu para os atuais guarda-chuvas. O engenho, cujo criador nunca ninguém descobriu, é um dos mais velhos objetos do Mundo, a que ainda hoje se atribui grande utilidade, além de se ter tornado um adereço importante de moda, feminina e masculina. Isto a propósito de estar a chegar o tempo em que não saímos de casa sem ele.

Há registo de sombrinhas na Mesopotâmia (atual zona do Iraque e do Kuwait), há mais de 3 400 anos. No antigo Egito também há referências. Ainda na Antiguidade, foram encontradas alusões às sombrinhas na América pré-colombiana e na Grécia e Roma antigas. Na maioria desses casos, o objeto era simples e não era retrátil.

Não se sabe ao certo quando é que a sombrinha se converteu em guarda-chuva, mas terá sido pelas mãos dos chineses. A quem também é dado o crédito de ter tornado o acessório mais comum entre a população e também mais polivalente. Ao cobrirem a sombrinha com cera e verniz, conseguiram que ela impermeabilizasse e assim passou a ter uma dupla função: proteger do sol e da chuva. Além disso, o objeto passou a dobrar e tornou-se mais funcional.

Não se sabe ao certo quando é que a sombrinha se converteu em guarda-chuva, mas terá sido pelas mãos dos chineses.

Foi pela Rota da Seda que o guarda-chuva chegou longe. Na Europa, passou a ser um bem indispensável, principalmente a Norte, onde se registam os climas mais chuvosos. Mas, mais uma vez, o guarda-chuva só estava ao alcance das pessoas com posses. Geralmente mulheres. Os homens não compravam a ideia de andar com mais um adereço.

Os chapéus e até os jornais bastavam para correr entre os pingos da chuva. E se a tempestade fosse grande bastaria recolher a um abrigo ou, em último caso, nem sequer sair de casa. Apesar de caro, no século XVIII, o objeto ainda era sinónimo de baixo estatuto social. Só o usava quem não tinha posses para andar de carruagem ou mesmo ter uma carruagem.

Apesar de caro, no século XVIII, o guarda-chuva ainda era sinónimo de baixo estatuto social

Até que, por volta de 1750, o escritor britânico Jonas Hanway reverteu a situação. Não sem antes sofrer com isso. Ao andar sempre munido de um guarda-chuva sujeitou-se a ser ridicularizado por muitos. Mas foi com ele que o objeto realmente se popularizou. Nomeadamente entre os homens, que passaram a ver um acessório digno de um cavalheiro.

E quando, em 1830, abriu em Londres a James Smith & Sons, a primeira loja de guarda-chuvas, já nada voltaria a ser igual. Depois, deu-se a evolução natural dos materiais. Guarda-chuvas mais leves e sofisticados, acessíveis economicamente e giros. Mais: todos os anos as grandes marcas não se esquecem que são um dos melhores anúncios publicitários. Basta colocar um logótipo visível para chamar a atenção. E rezar, para que as varetas aguentem os vendavais.

No Cinema:

Mary Poppins
A britânica Julie Andrews interpretou, em 1964, a conhecida personagem criada pela escritora Pamela Lyndon Travers. Mary Poppins, cujo filme tinha o mesmo nome, era uma ama com poderes mágicos que conseguia voar com a ajuda de um guarda-chuva.

Gene Kelly
O ator americano Gene Kelly será sempre recordado como o jovem de guarda-chuva na mão que canta “I’m singing in the rain”, enquanto salta entre poças de água, no filme “Serenata à chuva”, de 1952.

Danny DeVito
O ator americano Danny DeVito deu vida a Pinguim, no filme “Batman Regressa”, de 1992. A personagem, inimiga do herói, tinha sempre uma arma à mão: um guarda-chuva, que tanto era uma espada, como expelia fogo ou até balas.