Texto de João Tomé
Estávamos em novembro de 2007, Al Gore tinha sido distinguido umas semanas antes como Nobel da Paz, Harry Potter ia no quinto filme e a revista norte-americana Forbes fazia do sucesso da cada vez mais gigante Nokia o tema de capa. O título em tom de pergunta não podia ser mais irónico há distância de uma década: «Mil milhões de clientes – há alguém que consiga apanhar o rei dos telemóveis?»
Na altura, o iPhone era vendido há pouco mais de quatro meses nos Estados Unidos e era desprezado e mesmo ridicularizado pelos bastiões da indústria.
Na altura, o iPhone era vendido há pouco mais de quatro meses nos Estados Unidos e era desprezado e mesmo ridicularizado pelos bastiões da indústria. Mal eles sabiam. Steve Jobs tinha apresentado já em janeiro o aparelho com ecrã tátil multitoque que combinava «três aparelhos num só: um telemóvel, um iPod com ecrã wide e o melhor aparelho móvel com internet de sempre». Ninguém na indústria ficou convencido, bem pelo contrário.
Os (muitos) descrentes
As primeiras críticas centravam-se no preço, a rondar os 500 dólares – algo quase impensável na altura para um telemóvel que queria chegar a mais pessoas do que os milionários. A ausência de teclado físico foi outra das críticas ferozes, ainda para mais porque o ecrã não tinha o chamado stylus.
A previsão mais célebre foi de Steve Ballmer: o CEO da Microsoft riu-se, em tom de gozo, numa entrevista, quando lhe falaram no iPhone, sentenciando: «500 dólares por um telefone!? É caríssimo e não apela aos utilizadores. Não há hipótese nenhuma de ter quota de mercado relevante».
Não foi o único. O site de tecnologia TechCrunch apelidou o ecrã tátil multitoque de «inútil» e afirmou que a maioria das pessoas que o iriam comprar depressa voltariam para o seu Blackberry.
A Nokia achou que, por ser dominante, não precisava de mudar com a chegada de um rival que mudou por completo a forma como se utilizavam os telemóveis e isso fez toda a diferença.
O especialista em tecnologia e reputado colunista John Dvorak previu a derrocada do iPhone em pouco tempo num mercado dominado pela Nokia e Motorola: «este tipo de telefones vão ficar fora de moda muito cedo e mesmo que vendam alguma coisa no início, em três meses já farão parte de um passado esquecido».
Na Forbes de novembro de 2007, o CEO da Nokia, Olli-Pekka Kallasvuo, que figurava na capa de sorriso estampado enquanto segurava o novo Nokia 6086 (telefone «flip») e dizia com a segurança de quem tem mais de metade do mercado de telemóveis vendidos no mundo: «a entrada do iPhone não muda em nada o nosso conceito nem a nossa estratégia».
A Nokia achou que, por ser dominante, não precisava de mudar com a chegada de um rival que mudou por completo a forma como se utilizavam os telemóveis e isso fez toda a diferença.
Tudo mudou em 10 anos
Uma década depois da capa da Forbes, o orgulho da Finlândia, Nokia, já foi desmantelada e tenta agora, a pouco e pouco, renascer com alguns lançamentos de smartphones – precisamente com as caraterísticas e o estilo que o iPhone de 2007 fundou.
O finlandês Kallasvuo assistiu em apenas três anos à derrocada épica de um império que parecia intocável. De metade do mercado de telemóveis em 2007 a Nokia passou para 30% em 2010 (de acordo com o Financial Times), o ano em que Kallasvuo saiu da empresa que era agora bem mais pequena e em declínio.
Uma década depois, o iPhone é o mais popular e reconhecido smartphone no planeta e os seus principais rivais seguem todos a receita traçada por Steve Jobs em 2007.
Uma década depois, o iPhone é o mais popular e reconhecido smartphone no planeta e os seus principais rivais (os asiáticos Samsung, Huawei e companhia) seguem todos a receita traçada por Steve Jobs em 2007.
Hoje é a Apple a ser criticada por já não ser a primeira a colocar inovações no seu iPhone. Apesar disso, a companhia norte-americana continua a ter sucesso. Exemplo disso é o iPhone X (lê-se 10), comemorativo da década de longevidade do gadget mais conhecido no mundo e que atirou o preço base nos Estados Unidos para os 1000 dólares (1.179€ em Portugal).
Esgotou no primeiro dia em que foi posto à venda e, apesar do preço, superou na primeira semana no mercado as vendas do mais barato iPhone 8. Outra das ironias do artigo de 2007 da Forbes é um dos temas com menos destaque que também figurava na capa, intitulado «11 gadgets que amamos», não incluir o iPhone que estava à venda há poucos meses (só chegou a Portugal em maio de 2008).
Embora o sistema operativo mais utilizado no mundo seja de forma esmagadora o Android, da Google, o IOS é também muito relevante.