Texto de Sara Dias Oliveira
A percentagem de crianças e jovens de 6, 12 e 18 anos com cáries dentárias é de 45,2%, 47% e 67,6%, respetivamente. Esta é a principal conclusão de um estudo que abrangeu uma amostra de 3 710 crianças e jovens de Portugal Continental e Ilhas, que responderam a um questionário que pretendia conhecer os hábitos de higiene oral e alimentares e obter dados sociodemográficos. Verificou-se então que o número médio de dentes atingidos por doença no grupo dos 12 anos é baixa, 1,18 dentes por criança, tendo sido já ultrapassado o objetivo para 2020 definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a prevalência de cáries nesta idade.
O padrão de saúde oral dos jovens de 18 anos revela níveis de doença moderados, abaixo das expetativas dos investigadores. Os resultados demonstram uma diminuição de cáries dentárias comparativamente aos dados do II Estudo Nacional realizado em 2006. A investigação, inserida no âmbito do III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, foi publicada na revista Community Dental Health e, além de avaliar as necessidades de tratamentos dentários nos mais novos, chama a atenção para a importância de se delinearem programas estratégicos promotores de saúde junto deste público-alvo.
Paulo Melo, um dos elementos da equipa de investigação deste estudo da Direção-Geral da Saúde, investigador da Unidade de Investigação em Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, sublinha a importância do programa cheque-dentista, aplicado a crianças e jovens a partir de 2009.
«Sem dúvida que o programa tem um papel relevante nesta matéria, pois permitiu divulgar mais facilmente os cuidados preventivos a ter com a boca e, por outro lado, permitiu que muitas crianças e jovens vissem os seus dentes protegidos contra a cárie através da colocação de selantes de fissura, que é um método comprovadamente eficaz», diz. «Por outro lado, nos casos em que já existiam cavidades de cárie nos dentes permanentes foi possível tratá-los o mais precocemente possível, de forma a não se perderem ou a piorarem a sua situação. Também se sabe que se uma pessoa tiver um dente cariado não tratado dentro da boca, pode, mais facilmente, ficar com outros dentes cariados», acrescenta.
O estudo mostra que 55% das crianças de seis anos não têm cáries, mas que há grandes necessidades de tratamento, o que obriga a repensar formas de intervenção.
Há menos cáries nas bocas de crianças e jovens do que há 10 anos, os valores estão dentro dos encontrados em vários países desenvolvidos, mas nada de baixar os braços. O estudo mostra que 55% das crianças de seis anos não têm cáries, mas que há grandes necessidades de tratamento. E isso obriga a repensar formas de intervenção nas crianças com menos de seis anos. «Os resultados obtidos apontam para excelentes resultados do cheque-dentista, pelo que se deve continuar com este programa, pois as expetativas são que os resultados ainda venham a ser melhores nos próximos tempos».
Para o investigador, o programa deveria ser alargado às crianças até aos seis anos para, sustenta, «poder controlar-se a cárie dos dentes decíduos (de leite) pois a presença de cárie nestes dentes pode prejudicar os dentes definitivos, para além de poder dar problemas complicados às crianças que têm estes dentes cariados.»
Há comportamentos que fazem a diferença. Os pais estão mais atentos à saúde oral dos filhos e insistem na escovagem regular duas vezes ao dia e, além disso, têm cuidado com o que comem. Uma maior divulgação das medidas para prevenir cáries nas escolas e mais informações na comunicação social também ajudam.
Paulo Melo lembra ainda «a disponibilização de um programa público de saúde oral que permite o acesso ao médico dentista e a consultas de medicina dentária, em que se promove a saúde oral, se previnem as doenças orais e se realizam os tratamentos básicos que sejam necessários (programa cheque-dentista).»