Texto Maria Espírito Santo | Fotografias Sara Matos/Global Imagens
Colocar alguns post-its pela casa ou deixar um calendário grande e visível na parede da cozinha ou da sala pode ser um primeiro passo. Mas há muito mais que é possível fazer para tornar a casa um espaço confortável para doentes com demência. Coisas tão simples como criar contrastes de cores entre as paredes e o chão ou, através de símbolos ou fotografias, indicar o que está dentro de armários ou gavetas – como um pacote de cereais ou uma panela desenhados sobre os armários da cozinha.
As táticas podem parecer óbvias mas fazem a diferença. A palavra de ordem é autonomia. Uma casa protótipo em exposição na Alzheimer’s Global Summit, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, apresenta estas e outras ideias – assim como objetos ou outras tecnologias – que tornam o dia-a-dia mais fácil para quem está a lidar com uma demência.
«Mostrar como uma pessoa se pode manter no seu lar por mais tempo. É essa a ideia. E também garantir a sua segurança para que possa continuar a realizar as atividades que já fazia anteriormente.» É a especialista Cristina Larraz que faz a visita guiada. É a responsável pela área de arquitetura do Ceapat (Centro de Referência Estatal de Autonomia Pessoal e Ajudas Técnicas), que nasce do Imserso, Instituto de Seniores e Serviços Sociais, em Espanha, uma instituição que ajuda a dar respostas para a acessibilidade, tanto em edifícios públicos como particulares.
«A cozinha e a casa de banho são os espaços mais importantes. Porque têm bastantes riscos de quedas ou de queimaduras.» Cristina aponta para o fogão: uma placa de indução é sempre melhor do que gás, já que é menos propícia a acidentes. E para que os armários não estejam sempre abertos para se poder ver o que têm lá dentro, a sinalética (símbolos em cada porta e gaveta) ajuda a esclarecer sobre o interior. O lava-louça poderá ter um escorredor com rampa: para facilitar a lavagem de pratos, legumes ou o processo de escorrer a massa, por exemplo. Os pratos e individuais antiderrapantes permitem uma refeição mais descansada e também há talheres indicados para pessoas com dificuldades de mobilidade: têm cabos mais grossos e pesados para combater os tremores, se for o caso.
Pelos corredores ou outros espaços vazios, há sempre fotografias: da família, amigos ou da cidade onde a pessoa vive. Funcionam como um mapeamento das pessoas, relações e sítios.
Na casa de banho, as barras de apoio são importantes, tanto junto à sanita como na zona do duche. E mais: há objetos que podem ajudar na higiene diária – um corta-unhas com uma lupa integrada ou um pente com um cabo mais longo.
Já no quarto, a organização deve ser simples e, tal como no resto da casa, com espaço de passagem livre para permitir uma rápida e fácil movimentação. A altura da cama é importante: não deve ser demasiado alta. O ideal é uma cama de altura regulável para permitir que a pessoa se deite e se levante facilmente.
Finalmente, a sala: deve continuar a ser um espaço de encontro, com mobiliário confortável mas ergonómico, que obriga a pessoa a ter uma postura correta. Para ser uma zona de convívio para todos, também deverá sofrer algumas alterações – uma mesa de altura ajustável, por exemplo, permite que qualquer pessoa se sente com facilidade, mesmo quem está em cadeira de rodas.
Em qualquer divisão, é importante manter o contraste de cores, entre o chão e as paredes, entre os balcões e portas, para ajudar a distinguir lugares e objetos. As cores da casa assim como a temperatura ambiente ou o nível de ruído são fatores importantes para criar um ambiente seguro, tranquilo e confortável – e ajudar a que a pessoa se sinta mais relaxada – o que contribui para que fique mais apta, também intelectualmente.
“Falamos de uma casa adaptável e não de uma casa adaptada” lê-se nas paredes. Estas não são as únicas soluções e nem todas se adequam a todos os doentes. Primeiro devem identificar-se as necessidades da pessoa e só depois pensar em alterações, em como moldar os espaços às limitações. O Ceapat, que em Espanha também visita casas particulares para apresentar soluções, está disponível para tirar dúvidas, independentemente do país onde viva, lembra Cristina Larraz.
Consulte o site para mais informações: www.ceapat.es.