Albertina Dias bem evita olhar para trás, mas não consegue. «E agora? », perguntou-se aos 34 anos, quando uma lesão na perna a parou quase à força. Nem os médicos nem ela sabiam por que razão ficava tão negra, apenas que lhe afetava a performance. «Tiraram-me o tapete, foi uma perda profunda. Fiquei à deriva, sem plano B», lembra a antiga atleta olímpica (Seul 1988, Barcelona 1992 e Atlanta 1996).
Aos 37 teve de abandonar o atletismo. A carreira na alta competição acabou, mal tinha dinheiro para viver. No ano seguinte perdeu Bernardino Pereira, marido e treinador, para um cancro. A filha tinha 4 anos, Albertina teve de ser forte pelas duas. E agora? É o que se pergunta ainda hoje, com 51 anos, tentada a emigrar para França por uma vida mais digna.
«Nessa altura comecei a limpar casas a cinco euros por hora», diz a partir de Château-Thierry, arredores de Paris, «à espera de legislação que tardava em chegar, a receber uma pensão de sobrevivência ridícula. Era impossível viver», diz a ex-fundista e única campeã mundial portuguesa de corta-mato (Espanha, 1993), corredora dos dez mil metros nos jogos de Seul e Barcelona (1988 e 1992) e da maratona em Atlanta (1996). «Estava a ficar muito apertada, a desesperar pela minha filha.» Não tinha clube, nem ajudas, nem perspetivas. No centro de emprego do Porto escolhiam gente com mais habilitações: Albertina tinha apenas o 12º ano feito à noite quando corria.
Conheça, na íntegra, esta e outras histórias de ex atletas olímpicos, na próxima edição da NOTÍCIAS MAGAZINE (28 de agosto).