Já sabe o que vai fazer no próximo fim-de-semana? Nice é o segundo destino francês mais visitado depois de Paris, a segunda cidade com maior número de museus e tem os segundos aeroporto e porto de recreio mais movimentados de França. Mas a capital da Côte d’Azur, com uma aura artística única e 300 dias de sol por ano, pode muito bem ser a primeira escolha para umas miniférias de Páscoa.
Pensar na Côte d’Azur é pensar em sol e praia, mas também em luxo e excentricidade. As palavras de Renato Reno, dono da Compagnons de la Grappe, uma enoteca no centro de Nice, mostram-no. «Tenho clientes que bebem Pêra-Manca com Coca-Cola. É assim que deve beber-se? Não, mas eles é que sabem. Se me pedirem para encher uma piscina com champanhe, eu encho.» E não estará a falar de um champanhe qualquer, afinal tem à venda garrafas de 18 mil euros, lado a lado com vinhos como Petrus ou Mouton Rothschild, verdadeiras raridades com rótulos desenhados por nomes como Dalí, Miró ou Picasso.
Nice também é isto, não há como escondê-lo, mas não só. O facto de a capital da Riviera francesa ser o segundo destino mais procurado do país logo a seguir a Paris – recebe quase cinco milhões de visitantes por ano – deixa igualmente perceber que os seus encantos vão muito para além das festas milionárias. Se, por exemplo, nas vizinhas Saint-Tropez e Cannes são ainda muitas as praias privativas, aqui a areia é do povo e para o povo; enquanto esta última se orgulha de ter o mais conceituado festival de cinema da Europa, que se realiza no mês de maio, Nice reclama para si uma relação umbilical com a arte ao longo de todo o ano, só «perdendo» para a capital no número de galerias e museus. Aqui nasceu o artista Yves Klein, aqui pintaram Matisse e Chagall, por aqui passaram nomes como Rodin ou o escritor F. Scott Fitzgerald. (Foi também aqui que, em 2018, nasceram os gémeos de Brad Pitt e Angelina Jolie, local escolhido em homenagem à mãe da atriz, de ascendência francesa.)
E porque procuravam todos eles a cidade? Pelo ambiente cultural e boémio fervilhante, já se sabe, mas também em busca da inspiração e de uma serenidade que a sua geografia, história e clima sempre potenciaram, e que ainda hoje continua presente. Afinal estamos a falar de uma cidade situada na baía dos Anjos, banhada pelas águas do Mediterrâneo e protegida por uma espécie de anfiteatro de colinas que se estende até aos Alpes Marítimos. Tudo isto com 300 dias de sol por ano e a 20 quilómetros de Itália. Se Paris é a Cidade-Luz, Nice é a cidade-sol.
Não é inocente a referência a Itália. Nice foi italiana e, de certa forma, continua a sê-lo. Na arquitetura, no ambiente, nos costumes. Aliás, é nesta harmonia (e às vezes conflito) entre as das personalidades que reside muito do seu encanto. A gastronomia é disso um bom exemplo. Uma cozinha – cuisine niçoise, a única no país, a ser conhecida pelo nome da cidade – baseada num enorme respeito pelos produtos locais, entre eles as ervas aromáticas e o azeite. A azeitona de Nice, que cresce nas suas encostas, tem inclusive uma designação certificada. As mesmas – encostas Bellet – que fazem que seja desde 1941 a única cidade francesa a ter uma zona vinícola de origem controlada dentro do seu território. Sim, porque está longe de ser segunda em tudo.
Um destino fácil de explorar – tem apenas 350 mil habitantes –, ideal para um city break de 48 horas, a que os portugueses parecem estar agora mais atentos, tendo-se verificado um gradual aumento de visitas. Algo para o qual terão contribuído as três ligações diárias e diretas da easyJet, companhia de baixo custo que, desde abril do ano passado, voa a partir de Lisboa às segundas, quintas e sábados, com tarifas desde 31,24 euros. Em 2014, foram 5118 os turistas lusitanos que pernoitaram na cidade. Esta Páscoa chegarão, com toda a certeza, mais alguns.
ONDE COMER
É difícil comer mal nesta cidade. E não necessariamente a preços proibitivos, sobretudo na parte velha. No topo de qualquer lista está o Acchiardo (Rua Direita, 38), restaurante de uma família de origens italianas há quase um século mas que serve comida niçoise. Uma casa em que tanto cabem turistas como locais. O Attimi (www.attimi.fr), que vai buscar o nome e os sabores a um ingrediente com o mesmo nome (uma base do género da foccacia à base de farinha biológica) é uma excelente opção para quem quiser um italiano puro. Já o Aphrodite (www.restaurant-aphrodite.com), a cargo do irreverente chef David Faure, está apenas ao alcance de carteiras mais abonadas e de adeptos cozinha molecular.
A NÃO PERDER
» Há duas experiências (quase) obrigatórias na cidade: passear por Cours Saleya, uma rua onde todas as manhãs se realiza o mercado das flores, e comer socca, a maior das especialidades locais. Uma iguaria próxima da panqueca, com uma massa feita à base de farinha de grão-de-bico, com azeite e muita pimenta. Onde encontrar? Em Cours Saleya. Às segundas, o mercado de flores é substituído pelo mercado de antiguidades. Ali ao lado, a Maison Auer (www.maison-auer.com), a fazer chocolates desde 1820, é outra morada obrigatória. Diz-se que era onde a rainha Vitória se abastecia.
» São inúmeros os museus e as galerias, mas há três deles que sobressaem: o Museu Matisse, o Museu Marc Chagall e o Museu de Arte Moderna e Contemporânea, que não só é uma referência em termos de arte contemporânea como tem também uma sala com duas dezenas de obras dedicada a Yves Klein, um filho da terra.