Chegadas com a primavera, as ervilhas e favas frescas estão agora no seu melhor. Não só no sabor, mas também em nutrientes. Ricas em fibras, minerais e vitaminas amigas da imunidade e do sistema nervoso, são uma fonte de saúde. Descubra estes tesouros verdes.
O mais certo é já as ter visto na última visita ao mercado, mas só de pensar no trabalho que teria a retirar-lhes as sementes, adiou a compra. Talvez quando souber quanto ervilhas e favas frescas têm para lhe oferecer se acabe, de vez, a preguiça de as despir da casca verde na qual a natureza as embrulha para nos presentear todas as primaveras. Apesar dos seus sabores distintos, uma e outra têm mais a uni-las do que a separá-las. Sendo ambas leguminosas, destacam-se as proteínas vegetais, indispensáveis na construção dos tecidos orgânicos e consideradas mais saudáveis do que as de origem animal, mas não só. Dentro destas vagens, agora no seu melhor momento, há muitos outros nutrientes essenciais ao bom funcionamento do organismo.
Se tanto ervilhas como favas são ricas em vitaminas protetoras do escudo imunitário, como as antioxidantes A e C, nas versões saídas da horta salienta-se, porém, a dose generosa de vitaminas do complexo B, fundamentais à vitalidade do sistema nervoso. Neste grande grupo, destaca-se a tiamina ou vitamina B1, na qual as ervilhas são mesmo campeãs, bastando pouco mais de 150 gramas destas pérolas verdes para garantir praticamente metade da dose diária aconselhada a um adulto. Um feito importante se tivermos em conta que a carência deste nutriente, cada vez mais vulgar entre as populações modernas sujeitas ao stress e adeptas de uma alimentação à base de produtos processados e refinados, traz problemas de sono, cansaço crónico, falta de concentração e desalento. Afinal a natureza sabe o que faz ao colocar-nos no prato, nesta altura do ano, estas leguminosas frescas – favas e ervilhas são uma poderosa arma natural contra a debilitante astenia primaveril. A ter em conta é também a sua riqueza em ácido fólico ou vitamina B9, essencial para a produção e manutenção de novas células, sobretudo em períodos como o crescimento ou a gravidez.
Dentro destas vagens humildes há, no entanto, outros tesouros. Ambas oferecem variados minerais ao organismo, alguns com funções antioxidantes. Nelas destacam-se o fósforo e o magnésio, o cálcio e o zinco, não esquecendo o ferro e o cobre. Depois, tanto favas como ervilhas são fartas em fibra, o que significa que contribuem para o bom funcionamento do sistema digestivo, prevenindo a obstipação e facilitando o trânsito intestinal. Outros benefícios? Há quem fale papel destas leguminosas frescas no combate às doenças cardiovasculares, nomeadamente no controlo do chamado mau colesterol e da pressão arterial. Mas há mais: favas e ervilhas ajudam ainda à saúde óssea, a evitar anemias e a manter à distância depressões. E, graças à sua mistura nutricional, trazem–nos um bónus vaidoso, contribuindo para cabelo, pele e unhas saudáveis.
Contra elas têm, porém, uma acusação de peso nesta época em que todas as calorias contam: possuem uma boa dose de hidratos de carbono. No entanto, em sua defesa podem chamar a tal riqueza em fibra, que lhes garante uma absorção mais lenta pelo organismo, ou seja, menores altos e baixos de glicose e uma maior saciedade, durante mais tempo e mesmo com pouca quantidade no prato. Um truque para consumir estas leguminosas sem lhes acrescentar mais peso calórico é cozinhá-las de forma simples, apenas em água e sal, servindo-as como acompanhamento ou em saladas, ao natural e plenas de sabor ou perfumadas com ervas aromáticas e um fio de azeite. Se, no entanto, sofre de digestões difíceis, prefira as ervilhas às favas, já que as pérolas verdes são mais leves e fáceis de trabalhar pelo estômago.
NO SEU MELHOR
[DICAS PARA APROVEITAR AO MÁXIMO ERVILHAS E FAVAS]
_COMPRAR
Nos mercados tradicionais e feiras biológicas é fácil encontrá-las da chegada da primavera aos primeiros dias de verão. Há quem as venda em bruto e também quem as tenha já descascadas em saquinhos. Vale a pena, no entanto, apostar nas vagens. O sabor e frescura nutricional serão mais acentuados. E se tiver crianças, elas vão divertir-se a tirá-las da casca. Tome nota: 3 kg destas leguminosas ao natural darão apenas cerca de 1 kg descascadas.
_ ESCOLHER
Bem verdes e quebradiças é garantia de frescura. Rejeite os exemplares partidos ou rasgados, escurecidos ou manchados. O pedúnculo deve ser firme e viçoso. O tamanho também importa: prefira as vagens pequenas e médias, indicadoras de ervilhas e favas novas e macias.
_ CONSERVAR
O ideal é consumi-las logo após a colheita, pois quantos mais dias passarem menor será a frescura e o sabor. Além disso, tendem a tornar-se rijas e, no caso das favas, até a amargar. Se tiver de colocá-las no frigorífico, opte por deixá-las com a casca protetora. Use um saco perfurado, permitindo a respiração das vagens.
_ COZINHAR
As ervilhas frescas cozem rapidamente, pelo que devem ser adicionadas nos minutos finais, e as mais pequenas e tenras podem comer-se cruas. O seu sabor adocicado vai bem sozinho, mas combina também com carnes brancas, peixes magros, moluscos como chocos e lulas, e até pratos exóticos, não esquecendo, claro, os ovos e o arroz. Há quem seja ainda seu fã em saladas, empadas e quiches. Diz-se que esta leguminosa aprecia especialmente a companhia da hortelã e do manjericão. As favas frescas precisam de mais de tempo ao lume, porém não devem cozinhar em excesso – ficam enrugadas e acastanhadas. Quando são novas podem comer-se com a pele, mas se já tiverem o ponto de germe negro, o melhor será pelá-las, pois essa casca interna estará demasiado dura. Além dos pratos tradicionais, como as célebres favas com chouriço, esta leguminosa é saborosa em saladas simples e exóticas, cremes e sopas e receitas de arroz. E, além de coentros e salsa, gosta da companhia da hortelã.