Mas porque é que os biquínis são, por definição, brasileiros, se nós, em Portugal, temos tanta praia, tempo e culto dela? Esta era uma pergunta que não tinha resposta. Mas, nos últimos anos, algo começou a mudar. Quem estivesse atento podia começar a ver nas notícias, nas revistas, nos press releases, sinais acumulados desta nova tendência, a do verão made in Portugal. Em português. Este novo negócio já não eram apenas as esplanadas de praia que cobravam a sombra dos seus chapéus, os restaurantes de preços inflacionados do Algarve ou, sequer, essa velha tendência, de novo na moda, das bolas-de-berlim de praia. Não eram coisas banais. Quando a Alexandra Tavares Teles partiu para esta reportagem reparou que o verão estava diferente. Mais divertido, mais colorido. Mais imaginativo. Com acessórios e objetos, roupas, biquínis, toalhas de praia, e, até, chapéus-de-sol. E todos imaginados, criados, feitos e vendidos em Portugal.
Partimos para o terreno com uma dimensão económica em vista – ou, vá lá, de uma moda. Falámos com mais de 15 empresas – todas muito diferentes, das mais bem-sucedidas às de «vão de escada». E acabou por nos surgir um cenário socioeconómico que é causa e consequência da tendência – e, também, o reflexo óbvio quando se faz um trabalho de jornalismo. A Alexandra não se limitou a falar de padrões, formas e cores. Foi mais longe. E descobriu que a maior parte destes negócios – que são sempre, inevitavelmente, pequenos negócios – nasceram a partir de situações de desconforto ou incerteza.
Relembramos aquela frase chinesa que associa crise a oportunidade quando verificamos que foi o desemprego o rastilho que impeliu muitos destes pequenos empreendedores a iniciar um negócio próprio. Fossem outros os tempos, de vacas gordas, empregos fartos e ordenados chorudos e estaríamos todos ainda a tomar banho em biquínis brasileiros, com óculos made in China, por debaixo de chapéus-de-sol made in Vietname, levando toalhas de praia made in USA, em sacos made in Morocco, com alpercatas made in Spain. Todos estes negócios nasceram neste tempo e não noutro qualquer e isso deve-se muito ao advento do online, e do enorme mercado virtual que está à disposição. Como sabe quem sabe de gestão, o canal, a distribuição e mais de dois terços de caminho andado – e foi esse o percurso que fizeram os fundadores da grande maioria destas empresas. Caminho, aliás, que continuam a fazer, agora no sentido da internacionalização.
Estes negócios de verão são também o sinal de que Portugal mudou, sim, de vez, e está disponível para assimilar de vez a ideia de que o que é nacional é bom. Se ouvissem falar de biquínis feitos pela atual empresária dos negócios digitais que era a costureira de bairro que apenas fazia arranjos nos fatos de banho brasileiros que não se adaptavam aos bumbuns das portuguesas, os portugueses dos anos 1980 e 90 talvez franzissem o nariz. Agora, experimentam-nos com orgulho, num patriotismo comercial que pode dar frutos. O que todos estes pequenos empresários tiveram, como em todas as histórias de sucesso nesta área, foi o timing certo. Assimilaram o ar dos tempos, a favor deles. É disso que se faz a tão gasta palavra: empreendedorismo. E que tanta falta continua a fazer.
Publicado originalmente na edição de 17 de agosto de 2014