No meio dos negócios imobiliários, o empresário português Kiko Campos Costa, radicado nos EUA, ficou amigo de Gianni Russo, um ator mítico que entrou em O Padrinho.
Um jovem português de 30 anos com negócios em Nova Iorque. Uma lenda viva da Big Apple, conhecido pelas suas canções românticas, pelas participações nos dois primeiros filmes da trilogia O Padrinho, por uma juventude na máfia e por negócios ligados ao mundo das joias. A relação dos dois talvez não desse um filme. Mas já deu origem a uma parceria.
Kiko Campos Costa e Gianni Russo não tinham nada em comum até se tornarem amigos no luxuoso restaurante Nello, em Manhattan. De repente, Campos Costa tornou-se «afilhado» de um homem com muitas histórias da máfia, de Nova Iorque e do showbiz italo-americano. Uma amizade improvável que poderá dar ao português direito a uma estreia em Hollywood, já que Gianni Russo está à procura de financiamento para um filme sobre as suas histórias do crime organizado e o português poderá ser um dos produtores.
«Quando me tornei amigo do Gianni e a ouvir as histórias dele, comecei também a ler sobre a máfia e divirto-me imenso com os relatos daquela época», diz o empresário natural do Porto, com um sotaque orgulhosamente tripeiro. «Ele fala-me bastante da vida privada de grandes personalidades que eu admiro e com quem ele conviveu, como Marilyn Monroe, Frank Sinatra, Elvis Presley, Steve McQueen, Sammy Davis Jr, Gregory Peck, Grace Kelly, Robert Kennedy, Francis Coppola ou Zsa Zsa Gabor, etc… Sou mesmo fã de O Padrinho. Desde pequeno que tenho um enorme fascínio pela história da família Corleone, que, no fundo, caracteriza uma época onde a máfia estava instalada em Manhattan e Brooklyn, dominando toda a política, o negócio de casinos, álcool e todo o crime organizado, que até passava pela minha área: o negócio do imobiliário.»
Kiko (Francisco) Campos Costa chegou aos EUA há três anos. Depois de concluir uma licenciatura em Gestão Comercial na London College of International Business Studies, trabalhou no Dubai como diretor comercial de uma empresa ligada ao imobiliário. E, como o negócio de venda de metros quadrados luxuosos o atraiu, rumou, naturalmente, à Big Apple. O português e o americano conheceram-se nesse ano de 2011. «Foi o próprio Nello, o dono do restaurante, que nos apresentou», diz o empresário. «Disse que era “o Carlo Rizzi, d’O Padrinho.” Nesse almoço, o Gianni levantou-se, com o restaurante a rebentar pelas costuras, e começou a cantar. Foi um espetáculo, porque estavam lá outras celebridades. De repente, estávamos num show da Broadway. Ele depois ficou ao meu lado e conversámos a tarde inteira.» As palavras são de um fã embevecido mas, de facto, Gianni Russo é uma figura incontornável desse imaginário, apesar de o «seu» Carlo Rizzi dos dois primeiros filmes da trilogia realizada por Francis Ford Coppola não ser protagonista. Seja pela pinta verdadeira de «espertalhão fura-vidas», seja pelo rosto marcante. Consta até que o realizador o escolheu à primeira num casting, mesmo sabendo que Russo nunca tinha representado antes. Reza ainda a lenda que terá sido a própria máfia a exigir a sua presença. A verdade é que Coppola terá ficado entusiasmado pelo carisma deste ex-mafioso que depois dos dois primeiros filmes da trilogia ganhou o gosto e desempenhou pequenos papéis de mafioso em filmes como Hora de Ponta 2, Golpe no Paraíso ou O Caloiro da Mafia, em que voltou a contracenar com Marlon Brando. Isto enquanto mantém uma carreira de cantor crooner, que nos anos 1960 chegou a partilhar palcos em Las Vegas com Elvis, Sinatra e tantos outros.
«Quando conheci o Kiko, fiquei impressionado com a sua energia e charme», diz Gianni. «Devo dizer que chegou mesmo a fazer lembrar-me de mim próprio na juventude. Temos agora uma amizade que prezo verdadeiramente… E até já conheci a família dele e posso dizer que são gente boa. Ele não é exceção…» As palavras proferidas pelo homem de 73 anos saem com um tom italo-americano que podia estar num filme de mafiosos. De facto, a fama cola-se-lhe à pele de forma única. E as histórias que conta também ajudam a traçar o imaginário de filmes de negócios, gangsters e uma vida bem vivida.
Como aquela de, em criança, ter sido moço de recados para um mafioso, Frank Costello, em Nova Iorque. Ou de ter tido um restaurante e clube noturno em Las Vegas, onde atuava. Ou de o amigo Frank Sinatra ter sido padrinho de um dos seus nove filhos. Ou aquela outra, em que entrou em conflito com Pablo Escobar, tendo mesmo chegado a ir à Colômbia para enfrentar o traficante de droga, depois de problemas com um primo do criminoso colombiano. E aí quase terá perdido a vida. O episódio está na base de um projeto para cinema que, segundo Gianni, deverá ser produzido por Brett Ratner (envolvido em O Caça-Polícias 4) e David O. Russell, realizador de Guia para Um Final Feliz e Golpada Americana, que este ano esteve na corrida para os Óscares.
Kiko Campos Costa está empenhado em ajudar o amigo neste projeto pessoal que pode resultar num filme de grande orçamento de Hollywood. Se os milhões forem reunidos, o nome do português surgirá na ficha técnica como «produtor executivo». Mas a vida de Gianni tem muitas e muitas reviravoltas.
Gianni Russo está também a lançar um vinho. Chama-se Il Padrino, é produzido com uvas da Califórnia e tem o rosto do ex-ator no rótulo. Por enquanto só está à venda nos EUA, mas, se chegar à Europa, deverá ser com a ajuda de Kiko e dos seus conhecimentos na área da distribuição. E em breve haverá uma vodca de gama alta, com uma garrafa «vestida » com um smoking e com o nome Godfather.
O AFILHADO VAI AO ESPAÇO
Nem só de vénias ao universo de O Padrinho vive Kiko Campos Costa. À parte das suas operações numa empresa de promoção imobiliária sediada em Nova Iorque, e que se foca mais no mercado residencial, Kiko tem outra meta: chegar ao espaço. A par do empresário Mário Ferreira, proprietário da Douro Azul, Kiko poderá ser um dos primeiros tripulantes do projeto de turismo espacial de Richard Branson, a Virgin Atlantic. «Quando era pequeno queria ser astronauta, e, quando tive a oportunidade de comprar uma viagem para ir ao espaço, não hesitei. Infelizmente a viagem está a demorar mais tempo do que era previsto. Comprei-a em 2008 [por 200 mil euros] e desde então tenho estado à espera. Vou com regularidade aos eventos organizados pela Virgin para estar a par dos acontecimentos. Este ano fui, pela segunda vez, ao deserto Mojave, na Califórnia, para ver a nave por dentro. Estive a ver os banco e o interior em bruto da nave. O ano passado observei ainda um voo teste experimental. Acredito que para o ano esteja pronta!» Enquanto isso, entre o Porto e Nova Iorque vai continuar a cruzar-se com gente da moda, cinema e do futebol ao mesmo tempo que fecha negócios de imobiliário nos mais procurados e caros metros quadrados do mundo. O espaço pode esperar em grande estilo…