Pedro Nuno Santos, o sonho do menino

Sem papas na língua, come pouco e ambiciona alto. Desde muito novo que revelou, sem disso fazer segredo, querer ser primeiro-ministro.

“Não quero um país a arrastar os pés”, disse Pedro Nuno Santos, durante o discurso em que celebrou a vitória na corrida a secretário-geral do PS, que ganhou (62%) a José Luís Carneiro (36%). E não foi a arrastar os pés que fez carreira política. A caminhada foi (quase) sempre a passos de estrondo, tal o impacto mediático causado. A liderança do PS é apenas mais um degrau na corrida ao topo do seu cargo de sonho: ser primeiro-ministro.

“Desde jovem mostrou tendência para a política e assumiu que gostaria de liderar o Governo”, recorda Rodolfo Andrade de Oliveira, um dos amigos de sempre de Pedro Nuno Santos. “Tinha já um forte perfil de liderança”, reconhece o também presidente da Junta de Freguesia de São João da Madeira, terra natal do novo líder socialista. Foi lá que começou a dar nas vistas quando cedo tirou a carta de condução e teve carro, no qual dava boleia a toda a gente, inclusive nas férias. “Íamos para a Costa Nova ou acampar para a Serra da Freita, também para o Algarve”, rebobina o autarca.

Filho de Américo Augusto dos Santos, empresário do grupo Tecmacal – empresa de máquinas de calçado onde Pedro Nuno Santos tinha 1% de participação e da qual se desfez recentemente -, e de Maria Augusta Leite de Oliveira Santos, foi aluno sem mácula da professora Cremilde na Escola Primária das Fontainhas e também cumpriu sem sobressalto o percurso escolar até ao 12.º ano. A primeira vez que ganhou uma corrida eleitoral aconteceu quando concorreu à liderança da Associação de Estudantes (AE) da Escola Secundária N.º 1 de São João da Madeira.

Aos 18 anos, rumou a Lisboa para se licenciar em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), onde pertenceu à AE e presidiu à Mesa da Reunião Geral de Alunos, integrando ainda o Senado da Universidade Técnica. “Vinha aos fins de semana a São João da Madeira para estar com a família e rever amigos, como ainda agora faz, embora com menos frequência”, diz Rodolfo Andrade de Oliveira. A rotina manteve-se quando partiu para os Países Baixos para fazer Erasmus na cidade de Roterdão.

Pedro Nuno Santos saltou para a ribalta política quando, em 2004, foi eleito líder da Juventude Socialista, ao fazer ganhar uma moção intitulada simplesmente “Uma JS”. Cumpriu dois mandatos e pelo meio, em 2005, foi pela primeira vez deputado à Assembleia da República. Mas foi em 2011, durante os anos da troika e de Governo PSD/CDS com Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro, que o seu nome ganhou destaque imenso. “Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida. Se o fizermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem”, disse então durante uma intervenção em Castelo de Paiva gravada apenas por uma rádio local. “Já demonstrava que não tinha medo de cortar a direito, sempre foi corajoso e detesta os meios-termos”, diz um deputado do PS, que prefere não ser identificado.

Alto – 1,88 metros -, barba grisalha bem aparada, fato aprumado, nem sempre com gravata, Pedro Nuno Santos foi depois o artífice dos acordos da “geringonça” – termo de que já disse não gostar -, nomeadamente nas negociações dos Orçamentos do Estado com o PCP e o BE durante o primeiro Governo de António Costa (2015-2019), do qual foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. “Era paciente, mas determinado. Um negociador que tinha sempre em mente o interesse do Governo e do país, e que não vacilava”, aponta outro deputado do PS. Nos outros dois governos de Costa foi ministro das Infraestruturas e Habitação, até ser enredado na teia do caso TAP/Alexandra Reis e apresentar a demissão.

Casado com Catarina Gamboa e pai de Sebastião, de nove anos, continua com um hábito de sempre, o de não ligar a comida. “Come pouco e muito devagar. Quando os outros finalizam o prato principal, o Pedro não tem terminada a sopa”, brinca Rodolfo Andrade de Oliveira. “Gosta de estar à mesa, mas para conversar”, sublinha. E para deitar o olho à televisão se estiver a dar um jogo do seu F. C. Porto.

Pedro Nuno de Oliveira Santos
Cargo: Secretário-geral do PS
Nascimento: 13/04/1977 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (São João da Madeira)