Ketanji Brown Jackson: meritíssima

Ketanji Brown Jackson é juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América

Nasceu em Washington, D.C., mas cresceu em Miami. Na primária, evidenciava-a a capacidade para debater, foi eleita campeã nacional de oratória. “Não deves olhar tão longe”, ouviu do professor a quem disse que queria frequentar Harvard.

Reputação “excelente”, competência “excecional”, caráter “incontestável”, dedicação “inabalável” ao estado de Direito. Formada “magna cum laude” (com grandes honras) na Universidade Harvard, não faltam a esta mulher qualificações nem comprometimento “com a igualdade e a justiça perante a lei” para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal dos Estados Unidos, a mais alta instância judicial americana convocada a tomar posição sobre temas ideologicamente tão sensíveis e com profundo impacto na vida dos cidadãos quanto o aborto, a pena de morte, o casamento homossexual ou o porte de armas de fogo.

Vai, porém, mais além do reconhecimento profissional a confirmação de Ketanji Brown Jackson, a 7 de abril, pelo Senado dos EUA. Veja-se: das 115 pessoas que já serviram o Supremo Tribunal desde a sua fundação, em 1789, apenas três não eram brancos: dois negros, ambos homens (Clarence Thomas, nomeado em 1991, ainda no ativo, e Thurgood Marshall, jubilado em 1991) e a hispano-americana ainda em funções Sonia Sotomayor.

Ketanji será a primeira negra a ocupar uma cadeira em 233 anos de história. Mais: pela primeira vez, entre os nove membros, quatro mulheres servirão juntas.

Ketanji Brown Jackson “significa o Mundo” para todas as jovens negras, declarou uma estudante de Direito afro-americana à BBC, resumindo o alcance da confirmação de uma mulher negra para o Supremo. Um mundo que Jackson conquistou a pulso. “Não deves olhar tão longe”, ouviu do professor do liceu a quem, adolescente, disse que queria frequentar Harvard. A universidade em que se bacharelaria “magna cum laude” em Artes e Gestão Pública e em que, já editora da “Harvard Law Review”, se formaria “Juris Doctor cum laude”.

O Direito e as leis cedo a atraíram. Filha de um casal (advogado e diretora escolar) que sofreu a segregação escolar, recordou, numa palestra em 2007, os momentos em que coloria livros infantis ao lado do pai, enquanto este, estudante de Direito numa universidade tradicionalmente para negros, se preparava para as aulas do dia seguinte, lendo sobre casos e respondendo alto a interrogatórios. “Começou aí o meu amor pelas leis”, afirmou.

Ketanji Onyika Brown nasceu em Washington, D.C., mas cresceu em Miami, na Flórida. Na escola primária, evidenciava-a a capacidade para discursar e debater, a tal ponto que foi eleita campeã nacional de oratória e presidente da Palmetto Junior High. Mais tarde, liderou a associação estudantil da Miami Palmetto Senior High School. Depois de Harvard, trabalhou, primeiro, como assessora jurídica, exercendo depois advocacia sem vínculo a grandes escritórios. Promotora pública, chegaria, finalmente, a juíza.

Vinte anos depois, é dela a assinatura do despacho que nega a Donald Trump o segredo sobre os documentos da Casa Branca relacionados com a invasão ao Capitólio, de há dois anos. Confirmada com o voto de todos os senadores democratas e de três republicanos, o resultado marca, também, uma vitória pessoal e política para Joe Biden, que a indicou para o cargo depois de ter prometido durante a campanha eleitoral em 2020 a nomeação de uma afro-americana.

“Demos mais um passo para fazer com que o nosso mais alto tribunal reflita a diversidade da América”, escreveu, no Twitter, o presidente americano.

A juíza mora com seu marido, Patrick Jackson, e as suas duas filhas, em Washington, D. C. e tomará posse entre junho e julho.

Ketanji Brown Jackson
Cargo:
juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América
Nascimento: 14/09/1970 (51 anos)
Nacionalidade: Americana