Umas andaram anos a tentar, vezes sem fim, o desânimo a desarmá-las a cada má notícia, elas a recusar desistir. Outras desafiaram as probabilidades, foram deixando sempre para depois, e mesmo assim tiveram direito ao tão almejado final feliz. Seis histórias de mulheres que engravidaram tardiamente.
Sónia ainda traz aquelas horas de aperto cravadas na pele. Era início de maio, não dormiu, passou o dia a trabalhar, de coração embrulhado, uma ansiedade desconcertante, ela pouco otimista, a tentar preparar-se para a eventualidade de as notícias voltarem a arruinar-lhe o sonho da maternidade. “Foi um dia de muito sofrimento. Só dizia a mim mesma que acontecesse o que acontecesse não podia voltar a ficar triste.” E a voz treme-lhe, o choro a querer soltar-se, como se por momentos fosse outra vez aquele mirabolante 5 de maio. Sónia, Magalhães de apelido, nascida em Angola mas residente em Portugal desde os 11 anos, conhecia demasiado bem aquela dor das notícias que se esperam boas, mas saem invariavelmente más. Três fertilizações in vitro (FIV), todas fracassadas. “Era sempre uma frustração muito grande, fartava-me de chorar.” Ao cabo da terceira, já com 50 anos, decidiu que bastava. “Toda a carga emocional, toda a despesa, achei que era altura de parar.” Mas depois vieram os confinamentos. E a ideia reemergiu como desígnio de vida. “Eu nasci para ser mãe”, ouvia em surdina.
Decidiu tentar outra vez, uma última vez, desta vez seria mesmo a última, custasse o que custasse. Contactou uma clínica espanhola, com sucursal em Portugal, exames atrás de exames e Sónia, atualmente a viver em Lisboa, a dizer à médica que à mínima coisa que não estivesse bem preferia parar por ali. Não foi o caso. Os exames estavam ótimos. A 26 de abril deste ano, avançou então para a quarta FIV. Dez dias depois, o teste que lhe poderia mudar a vida para sempre. E ela num sufoco, horas e horas de uma angústia infernal e solitária, porque quis guardar aquele ténue fio de esperança só para ela. “Achava que não ia conseguir. Ainda por cima das outras vezes tinha colocado dois embriões, desta vez só um.” Até que foi buscar o resultado do teste de gravidez (de sangue). E viu que o resultado [da hormona Beta-HCG] era 97. “Antes era sempre zero vírgula qualquer coisa.” Sentiu-se num turbilhão. “Fiquei toda baralhada. Chorava compulsivamente. E só pensava: ‘97? Mas então eu estou grávida?’.” Ao fim de anos de esperança e desesperança, a ideia não lhe entrava. Até que falou com uma amiga médica, que confirmou a boa-nova. Ela desabou. De alegria, pois. “Tinha as mãos a tremer e não conseguia parar de chorar, parecia que estava finalmente a libertar-me do sofrimento daqueles anos todos.” Quando contou à família, acharam que era brincadeira. Foi preciso ela começar a mandar as ecografias para acreditarem. Mas não lhe falham no apoio.
Com o resto das pessoas, a história nem sempre é tão aprazível. No salão de cabeleireiro onde trabalha (agora já a meio-gás), apanha um pouco de tudo. “Já ouvi muitos comentários desagradáveis. Que vou morrer e vou deixar o meu filho pequeno, que não o vou ver crescer, que foi um ato de egoísmo, que não devia ter ido tão longe.” Mas também tem as que acham piada e ficam muito curiosas. “Costumamos brincar e especular sobre se vai ser africano ou asiático. A mim tanto me faz, só quero que seja saudável.” Essa é a outra parte da história. Sónia sempre quis ser mãe, mas não demasiado cedo. Teve um aborto espontâneo com vinte e poucos anos e só voltou a casar já depois dos 30, mas não conseguiu engravidar. Entretanto, separou-se e não voltou a ter uma relação estável. Aos 45, inspirada pelo exemplo de Cristiano Ronaldo, decidiu que também ela havia de ser mãe independente. Recorreu, por isso, a um banco de esperma e nada sabe sobre o dador. Nem importa, diz. Só lhe interessa que a gravidez continue a correr de vento em popa como até aqui. “Sinto aquelas coisas normais: vomito muito, tenho azia, os pés muito inchados, mas nada relacionado com a idade.” Com uma alegria arrebatadora, a fazer-se nossa também, Sónia até já imagina como vai ser quando o seu Júlio for catraio. “O meu filho vai ser muito orgulhoso da mãe e, onde quer que formos, eu serei a mais jovem lá do sítio. Vou acompanhá-lo em tudo”, prognostica, bem-disposta, como quem não faz caso dos 52 anos que traz às costas.
Há duas décadas, em 2001, um caso semelhante agitou o país – em particular, a imprensa cor-de-rosa. Depois de longos 27 anos a tentar, com 16 fertilizações in vitro fracassadas e outras tantas viagens a Londres, Paris, Roma, Valência, aonde quer que lhe acenassem com a promessa de poder cumprir o sonho de ser mãe, a socialite Maria Manuel Cyrne, hoje com 69 anos, conseguiu, por fim, engravidar. De gémeos. Duas décadas depois, ainda tem bem presentes a dureza dos tratamentos e o desânimo que se seguia a cada má notícia. “Fisicamente era muito duro. As hormonas, aqueles comprimidos todos, uma injeção diária, a modificação do corpo. Tive de ser operada, tirei partes dos ovários, até ficar só com um sétimo de um ovário, arrisquei a minha vida várias vezes. Não tinha descanso. De cada vez que corria mal desanimava, ia ao fundo do poço.” Mas a vontade nunca esmoreceu. Mal acabava um tratamento, marcava outro. A vontade de ser mãe perseguia-a como sina. “Nunca perdi a esperança, nunca aceitei essa derrota, sabia que se desistisse o desgosto ia comigo para a cova. Tinha necessidade absoluta de ter uma família.” Até que a boa notícia chegou. Hoje, mãe babadíssima, não se cansa de falar dos “bons meninos” e dos “filhos maravilhosos” que tem, da “ajuda preciosa” que são. “Volta e meia, pergunto ao meu marido: ‘O que seria de nós sem os meninos?’ Eles são a nossa alegria de viver.” Também por isso faz questão de incentivar todas as mulheres que se deparem com dificuldades em engravidar. “E porque sei o que sofri.” Garante que as pessoas ainda a reconhecem na rua, ainda a abordam e lhe perguntam carinhosamente pelos gémeos. “Foi um assunto muito badalado. Na altura não era comum, foi um fenómeno.”
Hoje, não se pode dizer que seja comum, mas é seguro afirmar que se vai tornando menos invulgar. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística permitem perceber que, no ano passado, foram feitos 45 partos a mulheres com 50 ou mais anos, ainda que só se tenham registado 28 nascimentos, o que se traduz numa preocupante taxa de perda gestacional de quase 40%. Mas o crescendo dos números é inegável. Em 2015, tinham nascido 11 bebés, filhos de mães com 50 ou mais anos, e em 2011 (último ano disponível) apenas um. Se alargarmos os registos a outras faixas etárias o aumento também é exponencial. Entre os 45 e 49 anos, passámos de 166 nascimentos em 2011 para 450 no ano passado e, entre os 40 e os 44, passámos de 3702 para 6307. O último relatório divulgado pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (PMA), referente a 2018, também ilustra o recurso substancial a estas técnicas, mesmo em idades avançadas. Nesse ano, houve, ao todo, 713 mulheres com 45 ou mais anos a recorrer a técnicas de PMA, com o número a aumentar para as 804, na faixa etária entre os 43 e os 44 anos, e a disparar para os 2427 entre os 40 e os 42.
“Eu ia para uma festa”
Inês Redondo, designer gráfica de 48 anos, mãe de gémeos, é uma dessas orgulhosas mães que foram até onde a esperança alcança. A sua história é “um clássico”. “Casei com 33 anos e comecei a pensar ter filhos. Andei dez anos sem conseguir engravidar, de médico em médico, experimentei tudo e mais alguma coisa, no público, no privado, com toda a violência hormonal que está envolvida nestes tratamentos. Gastei para cima de 20 mil euros, zero apoios do Estado, a única ajuda que tivemos foi dos meus pais, que me emprestaram mil euros.” E as boas novas que nunca chegavam. Até que uma amiga a aconselhou a recorrer ao Centro de Estudo e Tratamento da Infertilidade, no Porto, e a história virou. “Fui à primeira consulta em maio [de 2014], em junho comecei a fazer as análises e os exames, em novembro já estava grávida.” Não de um bebé, mas de dois. Lembra-se do telefonema da ginecologista, da felicidade a tomar-lhe conta do corpo, dela a tentar gerir expectativas, porque continuava a haver “um monte de imponderáveis”.
Mas nenhum deles quis nada com ela. A gravidez correu lindamente, ela foi “super feliz”, viu séries, passeou, almoçou com as amigas, dormiu, dormiu muito, sobretudo no princípio, e ainda arranjou tempo para ir escrevendo a tese de doutoramento (que haveria de terminar ainda antes de os gémeos terem um ano). Por ter uma prótese na coluna e uma hérnia enguinal, optou por agendar uma cesariana, para as 41 semanas de gravidez. Lembra-se que no fim de semana anterior ainda foi à praia, feliz da vida, que tomou banho no mar e as ondas lhe andavam ali a bater na barriga como bom prenúncio, que ainda comeu uma bola de Berlim e tudo. E que no dia toda ela era otimismo e resplandecência. “Maquilhei-me, perfumei-me, fui ao cabeleireiro. Eu ia para uma festa!” Chegou ao bloco, pôs música brasileira, houve piadas e alto astral durante todo o trabalho de parto. “Foi tudo perfeito, não podia ter sido melhor.”
Já em casa, com dois bebés a cargo, nem sempre foi fácil. “Foi desgastante, claro. Agora já ultrapassei aquele cansaço, já encaro a situação de outra forma, mas nos primeiros tempos as hormonas não ajudaram nada, chorei bastante, sentia que não tinha tempo para mim. E não tinha. Quando alguém me ia visitar, aproveitava e pedia para tomarem conta dos bebés para eu tomar um banho”, conta, divertida. Valeu-lhe sobretudo o marido, Gualter. Quanto ao impacto da idade mais avançada na experiência da maternidade, vê os dois lados da moeda. “Por um lado, notei na falta de paciência. Quando começavam os dois a chorar ao mesmo tempo com as cólicas, eu chorava com eles, ficava desesperada.” Por outro, agradeceu a maturidade, o lado mais pragmático. “Ser mãe nova é o Adamastor”, atira com graça. Se pudesse escolher, talvez tivesse sido “um bocadinho mais cedo”, mas só para poder equacionar ter mais filhos com outro à-vontade. Mesmo assim, e apesar dos 48 anos que já tem, a ideia não está totalmente descartada. “O meu marido já me disse: ‘Vamos fazer as meninas?’ Mas agora tenho mais medo.”
A forma leve e descomplexada como Inês partilha a sua história contrasta com o estigma que ainda resiste em alguns destes casos, sobretudo quando se associam a questão da idade avançada e o recurso às técnicas de procriação medicamente assistida. Lúcia, 44 anos, mãe de dois bebés (um com dois anos e meio e outro com dez meses) dá-nos conta disso mesmo. O nome é fictício, o rosto mantém-se bem longe das câmaras. Preferiu sempre guardar para ela a opção de recorrer aos tratamentos e, portanto, prefere não se expor. A decisão baseou-se no conselho de uma colega que teve uma péssima experiência. “Recebeu comentários muito desagradáveis. Coisas do género ‘estás a brincar com a Natureza’, ‘se não aconteceu agora é porque não era para acontecer’. E estamos a falar de alguém que se movimenta na área da saúde. Disse-me que nunca pensou receber comentários daqueles, sobretudo naquele contexto, e aconselhou-me a evitar contar, para me defender.” Lúcia seguiu o conselho. Nem à mãe contou. Mas revela que conta individualmente a sua história, sempre que vê que pode ajudar a dar esperança a outras mulheres mais velhas que queiram ser mães.
E ao contrário das outras histórias já contadas, não passou anos a tentar. Simplesmente, sempre adorou viajar, ter a liberdade dela, ter filhos nunca foi propriamente o sonho de uma vida. Uma eventual paternidade até já tinha sido assunto entre ela e o companheiro, mas foram-se deixando andar. “E acabámos por deixar passar um bocadinho o tempo.” Foi já com 40 anos que se decidiram. Ainda tentaram uns meses sem ajuda, mas nada aconteceu. Então não perderam o tempo. E as boas notícias vieram naturalmente. À primeira fertilização in vitro, a boa nova desejada. Por ter problemas de hipertensão, Lúcia ainda se assustou. Mas teve uma gravidez santa. Aos 42 anos, foi mãe pela primeira vez. E de repente, o instinto que durante anos andou ali acabrunhado, meio que esquecido, emergiu em força. “Lembro-me que, uns dias antes de marcarmos a data do parto, o meu marido perguntou ao médico: ‘E se quisermos ter outro?’.” Ele sugeriu que falassem sobre isso mais tarde. “Foi tudo tão fácil. Tanto a parte do parto [por cesariana], como a parte de tomar conta do bebé. Calhou-nos um bebé tão calmo que nem hesitámos em marcar a segunda consulta e o segundo tratamento.” Nove meses depois, lá estavam eles a fazer a segunda FIV, com o mesmo final feliz. “Por termos adiado tanto, sempre achei que se conseguíssemos ter um já era uma sorte, dois parecia-me impossível.” E aquela decisão tardia (ou decisões) acabou por ser a melhor que fez na vida. Ao ponto de ter chegado a ponderar um terceiro rebento.”Mas o médico disse-me para me sentir bafejada pela sorte.” E ela sente. “Nunca achei que fosse gostar tanto.”
Por já ter mais de 40 anos, quando decidiu recorrer à PMA, Lúcia não teve alternativa a recorrer ao privado. E a abrir os cordões à bolsa. Essa tem sido uma das questões em cima da mesa. É que, como destaca Cláudia Vieira, presidente da Associação Portuguesa de Fertilidade (APF), “o apoio à fertilidade no Serviço Nacional de Saúde, para tratamentos através de FIV ou de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), só é possível até aos 40 anos”. No privado, a idade pode ir até aos 50 anos, mediante situações clínicas muito específicas. Por isso, a APF tem pedido o aumento do limite de idade no setor público até aos 45 anos. Até porque, volta e meia, chegam à associação contactos de mulheres com mais de 40 anos que pretendem engravidar. “Estes casos podem dever-se ao adiamento pela mulher por não ter encontrado um companheiro para constituir família, devido à carreira profissional ou mesmo à instabilidade económica. Há ainda casos de mulheres que por não terem encontrado um companheiro tentam iniciar o seu projeto monoparental.” Após os 45 anos, o cenário altera-se. “O nosso papel é acima de tudo explicar que apesar da idade, neste caso acima dos 45 anos, é possível uma gravidez bem-sucedida, mas que as probabilidades de os tratamentos resultarem podem diminuir devido à resposta do corpo da mulher, à maturidade do seu aparelho de reprodução, e, em última instância, após algumas tentativas sem se chegar a um resultado positivo”, explica a dirigente.
João Bernardes, presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, lembra que “o ideal é que a gravidez seja tão precoce quanto possível”, sublinhando que “a altura ótima para engravidar é entre os 20 e os 30 anos”. “Isto em termos biológicos. Em termos sociais, há toda uma outra problemática.” Admitindo que a idade apontada para as chamadas gravidezes tardias tem vindo a ser esticada dos 35 para os 38 anos, o especialista frisa que a regra fundamental nestes casos é procurar os cuidados médicos adequados, que muitas vezes ajudam a mitigar eventuais complicações que possam surgir, seja através da prevenção, com o ácido fólico, por exemplo, que ajuda a prevenir as malformações, ou de um diagnóstico pré-natal adequado. E recorda, sem entrar em alarmismos, os riscos que podem estar em causa. “No caso da mãe, a hipertensão, a diabetes, a obesidade, eventualmente doenças associadas ao consumo de tabaco e doenças osteoarticulares que se podem complicar durante a gravidez. No caso dos fetos, as malformações e as cromossomopatias, como síndroma de Down.”
Já Sara do Vale, da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, chama a atenção para uma outra nuance, relacionada com a excessiva medicalização do parto. “O que nos chega é a ideia de que, em função dos tratamentos de fertilidade, ou por vezes só pela idade, essa gravidez é logo colocada numa timeline diferente, como se automaticamente fosse uma gravidez de risco. Somos contactadas por pessoas que nos dizem: ‘Estão-me a dizer que tenho que induzir, que tenho que marcar o parto’.” Sara não se conforma. “A gravidez deve ser olhada como inocente até prova em contrário. Claro que quanto mais tardias mais vigiadas devem ser, mas não é necessariamente sinónimo de problemas”, defende, vincando que a tendência de as mulheres serem mães cada vez mais tarde está em linha com o que está a acontecer em toda a Europa.
Susana Mesquita, portuense de 52 anos, mãe de um rapaz de oito, também entra nesta estatística das gravidezes tardias. Curiosamente, desde os 17 que queria ser mãe. “Mas quis o destino que não acontecesse. Nunca era o momento certo. Primeiro, era muito jovem e fui deixando andar. Depois tive um parceiro infértil e chegámos a considerar inseminação ou adoção mas nunca avançámos. Mas, com 40 anos, quando achava que já não ia ser mãe, a vida deu mais uma cambalhota: conheci o pai do Duarte.” Aos 41, já andavam a tentar. E conseguiram-no sem recorrer a tratamentos. Susana sentia-se capaz de rebentar de alegria a qualquer instante. Mas um aborto espontâneo fê-la cair da nuvem. “Nunca se esquece. O que vi na sanita nunca mais me saiu da cabeça.” Não se rendeu, ainda assim. Mesmo com o medo de que a história se repetisse a pairar, voltou a tentar. E a conseguir. Novamente sem tratamentos. “Fiz só medição de temperatura. Costumo brincar e dizer que naquele dia violei o meu marido.” Duarte nascia nove meses depois, de cesariana. Reações negativas nunca teve. E como otimista incurável que é, não se cansa de dizer ao filho que vai viver até aos 100 anos. Só não achou grande piada quando, por duas vezes, uma na creche, outra na praia, se referiram a ela como avó do Duarte.
Há ainda quem engravide tardiamente quase à primeira, sem ajuda e quase sem contar. A prova de que a genética também tem muito que ver com o assunto. É o caso de Susana Barroso, 56 anos, natural de Braga, residente em Leça da Palmeira. A mãe teve nove filhos, a última das quais (ela) aos 45 anos. Susana teve o primeiro aos 30 e andou anos convencida de que ia ficar por ali. Mas aos 40 voltou a casar e o marido não tinha filhos. “Ele não me pressionava minimamente, mas não quis ser a pessoa responsável por ele não ter filhos. Por descargo de consciência, deixei de tomar a pílula, achando eu que com 43 anos, já seria praticamente impossível engravidar.” Não podia ter-se enganado mais. “Nesse mesmo mês estava grávida.” A surpresa foi tal que sentiu o chão a fugir-lhe. “Foi tão rápido que quando soube que estava grávida quase tive um ataque de pânico. O médico disse-me logo: ‘Acalme-se que ainda tem nove meses para sofrer.” Hoje, Susana conta a história entre risos. É que apesar daquele choque inicial, e de os primeiros tempos terem sido difíceis – “sabe que uma noite mal dormida aos 40 não é igual a uma noite mal dormida aos 30” -, não tem dúvidas de que aquela gravidez relâmpago foi “uma coisa maravilhosa”, a melhor que lhe podia ter acontecido. E o pequeno, não estranha? De todo. “Às vezes vou às reuniões e apresentações da escola e noto que sou das mais velhas, mas ele nunca me disse nada. Pelo contrário. Está sempre a dar um reforço positivo, a dizer que eu sou a mais bonita, que não me trocava por nada, que me ama. Isso faz tudo valer a pena. Foi uma boa decisão do universo.” Ou como também ela, que, aos 44 anos, voltou a ser mãe quase por acidente, pode ser um motivo de esperança para tantas outras.