Luís Montenegro: Filipe na família, Ervilha na escola

Foto: Mário Cruz/Lusa

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Em vésperas do Conselho Nacional do PSD, que decidiria o destino próximo do partido – e o seu -, começa por falar de futuro. “Assumi agora uma responsabilidade, sei que há um caminho natural, mas logo se verá como vai ser”, diz. “Não tenho um plano pessoal.”

Poucos acreditarão. Desde logo o amigo antigo José Carlos Santos, membro da comissão política distrital de Aveiro, relacionamento nem sempre pacífico, por isto: “O Luís tem muita ambição, por vezes desmedida como agora ficou provado. E está a prejudicar o partido”. Diz mais. “Ainda há meia dúzia de dias jurava, numa conversa comigo, que não iria afrontar Rui Rio nem pedir as [eleições] diretas.” Não é novo: “Há uns anos, jurou-me que não ia candidatar-se à Câmara de Espinho e avançou. E perdeu”.

“O Luís tem muita ambição, por vezes desmedida como agora ficou provado. E está a prejudicar o partido” (José Carlos Santos)

Miguel Relvas, ex-ministro, descreve-o “corajoso e leal”. Conheceram-se na política há mais de 20 anos. “Quem o julga de grupos, engana-se. É um solitário.” Montenegro revê-se na descrição. Que não é dado a seguidismos, diz. “Já estive contra muitos amigos, quase todos.” Rui Gomes da Silva, ex-ministro, concorda. Lembra o reconhecimento de Luís Filipe Menezes ao empenho de Montenegro na vitória sobre Marques Mendes (2007) e, depois, o apoio “do Luís a Santana Lopes, apoio que deixaria cair no congresso de Guimarães” (2008).

José Pereira da Costa, ex-deputado do PSD, atual militante do partido Aliança, descreve um parlamentar “muito empenhado e dedicado”. Conviveram na Assembleia de 2002 a 2010. Inveja-lhe a “serenidade” demonstrada nos últimos dias. Partilha com o amigo o portismo e a tertúlia dos tempos da Assembleia da República, com reunião marcada às quintas-feiras num restaurante de Campo de Ourique (Lisboa).

Montenegro, apreciador da boa mesa e autor de um elogiado arroz de marisco, descreve a refeição ideal. “Camarões de Espinho, sopa de peixe (especialidade minha) e leitão da Bairrada.” A acompanhar, “um tinto do Douro e um Porto antigo”, tradição familiar. O amigo José Carlos Santos aproveita a deixa, reconhecendo “a tendência para a culinária e para os aventais”. Montenegro reclama: “Nunca fui, nem sou, da maçonaria”.

“Quem o julga de grupos, engana-se. É um solitário.” (Miguel Relvas)

“Adora relógios, é um grande entendido”, diz Relvas. O amigo, admite, “tem um bom domínio do tempo”. Há um ano, defendeu a candidatura deste à liderança do partido, contra Rui Rio. Porém, entendeu a recusa. “Não queria ser herdeiro de Passos [Coelho].”

O ex-primeiro-ministro conhece de perto o “seu” presidente do grupo parlamentar. Mas, nesta fase do partido, e à semelhança de outros, mede as palavras: “Noutras circunstâncias teria muito gosto em pronunciar-me. Nestas, não quero nem devo”.

Filho e neto de advogados, Luís Montenegro nasceu no Porto, mas é uma das caras de Espinho, onde vive desde bebé. Filipe, no ambiente familiar – Filipinho para a mãe, economista de profissão -, nunca quis ser outra coisa que não fosse seguir Direito.

Tem no desporto e na atividade física outra paixão. Conhecido na escola por “Bilha”, simplificação de “Ervilha” (“por ser redondinho e ter olhos esverdeados”) conquistou medalhas no minitrampolim, foi nadador-salvador nas praias de Espinho, jogou futebol federado no clube local (sempre a ponta-de-lança).

Aos 18 anos, inscreveu-se no PSD. Aos 22, iniciou a atividade política no poder autárquico. Durante 16 anos, foi deputado na Assembleia da República. Presidiu ao grupo parlamentar do partido (2011 a 2017). Aos 45, quer a presidência do partido.