É um aumento de gordura armazenada nas células hepáticas e que afeta pessoas que bebem pouco ou nenhum álcool. Um terço dos diabéticos tem esta doença. E a prevenção começa com um estilo de vida saudável.
Antes de tudo, convém destacar a sua extrema importância. O fígado é um órgão que tem funções decisivas na regulação da homeostasia da glucose. Trata do armazenamento da glucose que, em jejum, é libertada para poder servir de substrato energético ao cérebro, bem como a outros órgãos. Além disso, é um regulador dos níveis da insulina, essencial para promover a captação da glucose para dentro das células. E a maior parte das células do organismo precisa da insulina para captar a glucose.
“Em pessoas saudáveis, tais mecanismos fisiológicos funcionam de forma equilibrada e harmoniosa. Nos indivíduos que têm fígado gordo e diabetes, esse equilíbrio está comprometido, originando níveis mais elevados de açúcar (glucose) e a um aumento de gorduras (lípidos) no sangue. Essas alterações promovem maior risco de doença hepática avançada”, explica Paula Macedo, investigadora da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e professora da NOVA Medical School. Ter um fígado gordo não é nada recomendável, portanto, e o álcool não é para aqui chamado, entenda-se.
“O Fígado Gordo Não Alcoólico (NAFLD) é um termo usado para uma variedade de condições hepáticas que afetam pessoas que bebem pouco ou nenhum álcool e que apresentam aumento de gordura armazenada nas células hepáticas”, refere a especialista.
Cerca de dois terços das pessoas com diabetes tipo 2 em Portugal têm fígado gordo, condição que compromete e condiciona a eficácia do tratamento da doença
O fígado gordo pode ter várias origens associadas a alterações genéticas ou ao estilo de vida relacionado com dietas hipercalóricas, assim como, por exemplo, ao elevado consumo de refrigerantes com alto teor de frutose. A vida sedentária também é uma causa. “No caso da diabetes, as populações que maioritariamente apresentam fígado gordo não alcoólico são as que têm um estilo de vida com maior consumo de açúcares e gorduras.”
É uma doença de diagnóstico difícil e que pode agravar as complicações de saúde que as pessoas com diabetes já têm habitualmente. Pode evoluir para fibrose, cirrose ou até cancro hepático. Em pessoas saudáveis e com pré-diabetes, o fígado gordo é um fator acelerador da doença. Um estudo nacional, realizado pela APDP, em 2014, mostra que mesmo em pessoas sem diabetes nem pré-diabetes, um em três indivíduos tinha fígado gordo. A prevenção passa por um estilo de vida mais saudável.
Há dados que apontam para que as pessoas com fígado gordo e diabetes tenham entre três a quatro vezes maior risco de desenvolver cirrose ou carcinoma hepático
Na generalidade, a doença é silenciosa até uma fase mais avançada. Não há ainda a perceção de que o fígado gordo deve ser avaliado com assiduidade. “Os métodos de diagnóstico mais precisos são onerosos e requerem imagem, sendo que o método de excelência é invasivo (biopsia).” “Se as pessoas tiverem uma alimentação saudável, fizerem exercício e permanecerem assim ao longo da vida é óbvio que a probabilidade de ter fígado gordo é reduzida. A questão é saber durante quanto tempo é que se consegue manter esse estilo de vida”, refere Paula Macedo.
É necessário mudar culturas, modos de pensar e o diagnóstico precoce e apoio à luta contra o excesso calórico alimentar e a obesidade são importantes. “No caso de já haver fibrose hepática ainda não existem fármacos estabelecidos para a sua resolução. No entanto, existem alguns fármacos usados em indivíduos com diabetes tipo 2 que parecem ter um efeito positivo no fígado gordo não alcoólico”, adianta a investigadora.