Uma palavra para 2018: inteligência natural

Notícias Magazine

Até 2017 muito poucos tinham ouvido falar de inteligência artificial e das suas consequências para a vida da humanidade – a coisa estava numa elite atenta. Mas neste ano o tema massificou-se, dominou os media e todas as áreas da atividade humana, dos bancos à economia, saúde, viagens. Falou-se de algoritmos com capacidade de aprendizagem e bots vários, não dos robôs que habitualmente associamos à ideia de futuro, com parafusos nas articulações e ecrãs em vez de olhos, mas de fórmulas imateriais que circulam no ciberespaço.

Falou-se de máquinas, reais ou virtuais, que aprendem. E tomam decisões muito mais informadas e com menos erros do que os cérebros humanos. Todos estes termos tomaram conta do nosso dia-a-dia, tanto mais que estamos cada vez mais embrenhados e envolvidos em tecnologia. Por isso, de certa forma, 2017 foi o ano do futuro – o ano em que ele chegou ao nosso presente.

Esse suprassumo da tecnologia trouxe também todos os medos que lhe estão associados e não são nada tecnológicos, são aliás profundamente antropológicos. Do domínio das nossas consciências à falta de emprego, as questões que nos vão mudar o nosso futuro começaram a colocar-se. Mas uma análise mais atenta poderá rapidamente verificar que o nosso problema, já hoje, não é a inteligência artificial, mas a natural. Ou a falta dela.

E o recente episódio com a lei do financiamento partidário é apenas um pequeno exemplo disso. Na época da vigilância total que representam as redes sociais, há políticos, deputados eleitos, que julgam poder passar nas sombras. Isto depois de várias polémicas cujos rastilhos foram ateados no Facebook e nos media. Ou mesmo depois de já todos termos percebido que a crítica social é agora feita em soundbytes, por vezes injustos, mas certeiros e analíticos. Isto depois de vários leaks que não podem senão ter deixado todas as pessoas com uma vida pública, ou dependente da coisa pública, completamente alerta.

Pois neste ano de 2018 proponho algo diferente: a recuperação da inteligência natural. Aquela que é esperta e viva mas não menospreza a dos outros. A que faz perguntas, as certeiras, e quer mesmo ouvir as respostas. Aquela que não embandeira em arco, ou parte de presunções, pré-julgamentos e preconceitos, mas que está mesmo disponível para aprender. Aquela que percebe as emoções tanto quanto os raciocínios, e que usa ambos para fazer crescer o conhecimento. A inteligência da palavra certa na altura certa. E do olhar que percebe e suporta o outro olhar.

Estava a pensar nisto enquanto via mais uma das performances do périplo de Marcelo Rebelo de Sousa pelo país queimado neste Natal. No fundo, é o que é esta sua presidência: um hino à inteligência natural, também conhecida como bom senso. Afetos à parte, é exatamente isso.