Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Gonçalo Villaverde/Global Imagens
O Dia Mundial do Animal Abandonado acontece todos os anos no terceiro sábado de agosto. E não é por acaso que é num mês de verão. Todos os anos, o assunto volta às páginas dos jornais por esta altura e a conclusão é sempre a mesma: o número de animais abandonados continua a aumentar.
Maria do Céu Sampaio, presidente da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais não fala em percentagens porque «não há estatísticas a nível nacional», mas confirma este aumento em 2016 e 2017. «Percebemos isso sobretudo através dos inúmeros telefonemas com denúncias ou pedidos de ajuda que recebemos diariamente».
À Casa dos Animais de Lisboa chegaram este ano cerca de 1400 animais, diz Marta Videira, a diretora clínica. «De momento, temos 320 cães e gatos para adoção, um número difícil de combater. Chegam-nos animais todos os dias. Todos.»
«Na CAL, oferecemos o microchip grátis com a vacina da raiva que custa apenas cinco euros. Não há desculpa para não terem.»
Maria do Céu e Marta Videira apontam a adoção de medidas preventivas como a única solução para este problema. «Esterilização em massa. É urgente. Não podemos permitir que continue a haver tantas ninhadas, que os animais andem nas ruas sem estarem esterilizados. Só assim vamos conseguir pensar num futuro próximo com mudanças», diz a diretora clínica da CAL.
Outra das medidas que ambas defendem é o aumento da fiscalização. «A polícia tem de intervir diretamente se assiste a uma violação dos direitos dos animais. É contra a lei.» Em 2008, entrou em vigor uma lei que ajuda nessa fiscalização. Todos os cães nascidos após esse ano têm de ter um microchip instalado com toda a informação dos donos. «Na CAL, oferecemos o microchip grátis com a vacina da raiva que custa apenas cinco euros. Não há desculpa para não terem.»
«Como é possível que se cobre IVA de 23% na comida dos animais? É um absurdo», diz a presidente da LPDA.
Os encargos relativos aos cuidados com os animais são uma das razões mais apontadas para o abandono. «Como é possível que se cobre IVA de 23% na comida dos animais? É um absurdo», diz a presidente da LPDA. «Toda a gente quer os gatinhos e cãezinhos pequenos, mas quando começam a crescer e precisam de mais atenção, de tratamentos clínicos, começam a ser um problema.»
Antes levar os animais para casa há que ponderar a decisão a longo prazo. Maria do Céu diz que «tem de ser uma decisão de toda a família. É uma responsabilidade enorme. Ter um animal não pode ser mais um capricho das crianças a que os pais acedem sem pensar».
A nível nacional, há cerca de 200 associações zoófilas e cerca de metade desse número tem abrigos para animais. «Criar mais abrigos para animais abandonados é um disparate. Quantos mais houver, mais animais na rua vai haver», defende Maria do Céu. «As câmaras municipais têm de ter mais verbas para poderem trabalhar em conjunto com as associações certificadas já existentes. »