O careca mais apetecido do cinema

Texto de Sara Dias Oliveira

Não é propriamente o valor monetário, a rondar os 440 euros, que interessa nesta história. O mais importante é tudo o que a estatueta dourada de Hollywood simboliza nas mãos de quem faz o cinema viver – e os benefícios (leia-se reconhecimento e faturação) que virão depois de tamanha projeção.

O Oscar é pequeno, tem 35 centímetros de altura, pesa quase quatro quilos, é feito de estanho folheado a ouro de 14 quilates, mas agiganta-se na cerimónia que na noite de hoje, dia 24, junta os melhores dos melhores da Sétima Arte numa cerimónia em Los Angeles. É por ele que todos suspiram – e são muitos, homens e mulheres que estão à frente e atrás das câmaras, em várias categorias.

O cavaleiro sem rosto definido, com espada de cruzado, pés num rolo de filme, surgiu materializado em 1929. Primeiro, em 1927, na cabeça do diretor de arte irlandês Cedric Gibbons; depois, nas mãos do escultor George Stanley. Gibbons, um dos fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que morreu em Los Angeles em 1960 e que ganhou 11 estatuetas em 39 nomeações, fez um esboço. Stanley, escultor americano do Louisiana, deu corpo ao desenho de Gibbons. O material de que é feito mudou apenas durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao racionamento de quase tudo, e o estanho foi substituído por gesso pintado com tinta dourada. Depois da guerra, voltou ao original.

E o nome? Aqui não há um único argumento. Conta-se que o batismo surgiu depois da atriz Bette Davis ter comentado que a estatueta era parecida com o seu primeiro marido. E há a versão de que Margareth Herrick, então secretária da academia das artes de Hollywood, terá dito que a figura lhe lembrava o seu tio Oscar. A verdade é que o nome ficou e hoje, na 91.ª gala dos Oscars, será repetido vezes sem conta, como terá acontecido na primeira cerimónia, em maio de 1929, no Hotel Roosevelt, em Hollywood.

Noventa anos de Oscars e tantas noites de glória. Na história e para a história, ficam os melhores entre os melhores. Até agora, apenas três filmes venceram as principais categorias (filme, realizador, ator, atriz e argumento): “Uma Noite Aconteceu” (1935), de Frank Capra; “Voando Sobre um Ninho de Cucos” (1976), de Milos Forman; e “O Silêncio dos Inocentes” (1992) de Jonathan Demme.

“Titanic” (1998), de James Cameron, e “Ben-Hur” (1960), de William Wyler destacam-se também com 14 e 12 nomeações, respetivamente, e a conquista de 11 estatuetas cada um. Walt Disney foi o campeão dos campeões com 22 Oscars (a que se juntam quatro galardões honorários) entre 59 nomeações. Na interpretação, Katharine Hepburn ganhou quatro vezes e Daniel Day-Lewis, Ingrid Bergman, Jack Nicholson e Meryl Streep três. Tom Hanks recebeu dois Oscars seguidos, em 1994 e 1995, por “Philadelphia” e “Forrest Gump.”

Portugal tem tentado pisar a passadeira vermelha, submeteu vários candidatos a Melhor Filme Estrangeiro, mas sem sucesso. A curta-metragem de animação “História Trágica com Final Feliz”, de Regina Pessoa, ainda fez parte da short-list dos dez melhores filmes, mas não chegou à lista final. Eduardo Serra, diretor de fotografia, esteve nomeado duas vezes e não ganhou – por “As Asas do Amor” (1997) e “Rapariga com Brinco de Pérola” (2003).

Carlos de Mattos, luso-americano nascido em Angola e criado entre Portugal e Moçambique, tem duas estatuetas douradas, pelas suas engenhocas invenções. A primeira grua para câmara, que Spielberg usou em “ET”, valeu-lhe o reconhecimento em 1983. Em 1986, a câmara ativada por controlo remoto em “Cotton Club”, de Coppola, deu-lhe outro Oscar.

Hoje à noite, o Mundo está em Hollywood. A Sétima Arte concentra-se no Teatro Dolby. E o Oscar vai para… muitos homens e mulheres talentosos, certamente.