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De Tiago Pires a Frederico Morais, os heróis do surf português

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Texto de Miguel Pedreira | Fotografia de Ricardo Bravo

TIAGO PIRES

Tiago «Saca» Pires é uma força da natureza. Desde cedo mostrou vontade de ser o melhor. E trabalhou para isso. Altamente competitivo, foi campeão nacional e europeu de sub-14 em 1994 e fez a primeira final numa etapa do campeonato nacional open, aos 16 anos, altura em que conheceu José Seabra, que viria a ser o seu grande mentor, treinador, orientador e amigo. Referência para a sua geração, em 1998, sagra-se vice-campeão mundial júnior nos World Surfing Games, realizados em Portugal e, em 1999, vence o título europeu Pro Junior. Nesse ano, começa a correr o circuito mundial de qualificação (WQS). Em 2000 vence pela primeira vez uma etapa do WQS, em Vila Nova de Gaia, e sagra-se vice-campeão mundial Pro Junior no Hawaii. Umas semanas depois, na última etapa do circuito WQS, na mítica onda de Sunset Beach, faz um brilhante segundo lugar. Ficou muito próximo de se qualificar para o circuito da elite mundial (WCT) e começou aqui um percurso em que foi um dos atletas que mais ficou «à porta». Em vez de esmorecer, vai à luta e, em 2007, qualifica-se para o WCT, terminando em quinto lugar no WQS e entrando pela porta grande. Foi o primeiro português a consegui-lo, ajudando a afirmar o nome de Portugal no surf mundial e mostrando que era possível sonhar alto. Em sete anos no WCT conseguiu chegar às meias-finais de etapas por três vezes (o que equivale a um terceiro lugar), a primeira das quais logo no ano de estreia (2008), em ondas de gala, em Bali, onde eliminou o agora 11 vezes campeão mundial, Kelly Slater. No final de 2014, saiu da elite mundial, mas fez questão de «acompanhar» a nova geração ao longo de todo o circuito de qualificação de 2015, em jeito de despedida/passagem de testemunho. Em 2016, anunciou que deixaria de competir ao mais alto nível e que se dedicaria a novos projetos. Atualmente compete no campeonato nacional de surf e em eventos especiais e promove o documentário Saca – O Filme, produzido por si e realizado pelo jornalista brasileiro Júlio Adler. Saca – o homem – dedica-se à jovem família e mantém-se em forma. Não come carne há mais de vinte anos. Existe um «pré-Saca» e um «pós-Saca» no surf nacional.

VASCO RIBEIRO

Talento precoce, Vasquinho começou por se destacar na ginástica, o que viria a influenciar o seu surf explosivo. Mas o amor pelas ondas e a proximidade familiar à praia da Poça, em São João do Estoril (o avô foi um dos primeiros nadadores-salvadores daquela praia e tem ali um restaurante), fizeram do jovem Vasco um «rato de praia», sendo sempre fácil encontrá-lo dentro de água. Multicampeão nacional júnior, Vasco venceu pela primeira vez uma etapa do campeonato nacional open aos… 14 anos, o mais jovem de sempre. Com 15 anos fez a final internacional do Quiksilver King of the Groms, uma espécie de campeonato do mundo para surfistas muito jovens, onde passam obrigatoriamente os futuros campeões. Aos 16 anos sagrou-se campeão nacional open pela primeira vez (o mais jovem de sempre, no masculino), repetindo a dose em 2012, com 17 anos, e em 2014, dividindo os títulos nacionais com o amigo Frederico Morais entre 2011 e 2015. Em 2014 sagrou-se campeão europeu e mundial Pro Junior, um feito nunca antes alcançado por um português. O campeonato mundial desse ano foi disputado em Ribeira d’Ilhas, na Ericeira, com ondas de gala e a obtenção do título mundial lançou Vasco no circuito de qualificação para a elite. Em 2015, como convidado, a par de Kikas, conquistou um brilhante terceiro lugar (meias-finais) na etapa portuguesa do WCT, em Peniche.
Formado nas escolas da Surftechnique, é líder de uma geração com nomes como Francisco Alves, Miguel Blanco, Tomás Fernandes ou Guilherme Fonseca. Iniciou neste ano uma parceria de treino e orientação com Tiago Pires e José Seabra, com vista à qualificação para a elite mundial, a que espera chegar em breve. Já fez um ótimo resultado numa etapa de altíssima importância, na África do Sul, sendo 13º classificado no ranking mundial e melhor português nesse circuito. A sua entrada na elite mundial não é uma questão de se, mas de quando. Pelo caminho, Vasco também compete cá dentro. Venceu as duas últimas etapas, liderando agora o ranking nacional. Se conquistar o título português pela quarta vez, em setembro, igualará o recorde de Ruben Gonzalez, outra lenda do surf nacional. A menina dos seus olhos chama-se Diana e tem 2 anos. Vasco foi pai bastante cedo e tem na família a sua grande inspiração.

FREDERICO MORAIS

Aos 10 anos, Kikas, como é conhecido, já dizia que ainda iriam ouvir falar muito dele. Nascido e criado numa família de desportistas (os pais foram atletas e o tio, Tomaz Morais, atleta e ex-selecionador nacional de râguebi), Frederico aprendeu desde cedo o significado das palavras «treino», «disciplina» e «foco». A calma aparente contrasta com a capacidade de nunca desistir de um objetivo. Foi multicampeão nacional júnior, dos quais se destaca o título nacional sub-20 aos…14 anos. Foi também Top 5 europeu e mundial júnior. Entre 2011 e 2015, juntamente com o amigo Vasco Ribeiro, debateu-se pelo título nacional, tendo conquistado dois (2013 e 2015). Um dos primeiros «protegidos» de Tiago Pires, seu ídolo em criança, Kikas cresceu e seguiu-lhe os passos, tornando-se o segundo português a entrar para a elite mundial do surf, no fim do ano passado, depois de ter conquistado o título de «rookie da Triple Crown Havaiana» e de ter batido surfistas como Kelly Slater ou Mick Fanning na etapa do circuito mundial de Peniche, em que entrou como convidado. Em 2015, como «wildcard», novamente a par do seu amigo Vasco Ribeiro, chegou aos quartos de final da etapa portuguesa, terminando a prova em 5º lugar. No final de 2016, depois de ter vencido pela primeira vez uma etapa do circuito mundial de qualificação, na Martinica, deixou meio Portugal acordado em novembro, para acompanhar as suas prestações na Triple Crown Havaiana. Kikas chegou ao Havai em posição de se qualificar para o WCT, mas tinha pela frente duas das etapas mais pontuadas, mas também das mais difíceis do circuito. E agigantou-se, conseguindo dois segundos lugares, que lhe garantiram pontos suficientes para se qualificar para o circuito da elite mundial deste ano. Recebido como herói, Frederico não baixou os braços e começou logo a preparar a época de estreia no WCT, que tem sido fantástica. Em seis etapas disputadas, perdeu de primeira apenas numa, fez quartos-de-final na terceira prova e acabou de se transformar no primeiro português a alcançar uma final deste circuito, que concluiu em 2º lugar. Na etapa sul-africana, uma das mais cotadas do circuito e que neste ano contou com ondas fabulosas, Kikas não só teve uma prestação de alto nível como bateu três campeões mundiais pelo caminho (Mick Fanning, John John Florence – duas vezes – e Gabriel Medina). Tem, aliás, ascendente contra campeões mundiais, tendo já batido atletas como Kelly Slater, Joel Parkinson ou Adriano de Souza. Tem como treinador Richard «Dog» Marsh, ex-top mundial, australiano, um dos seus principais segredos para o sucesso. É 12º classificado no ranking mundial e acreditamos que não irá parar por aqui. Vencer uma etapa e ser campeão do mundo são objetivos claros para Kikas. Disputa a próxima etapa do WCT na mítica onda de Teahupoo, no Tahiti, entre 11 e 22 de agosto.