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Ficar ou fugir? O que fazer em caso de fogo?

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Texto Catarina Guerreiro

[texto publicado originalmente em 23 de junho de 2017, na sequência dos incêndios de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra]

Quando o fogo se aproxima, uns optam por fugir, outros querem ficar para proteger os bens e a casa. As duas situações ocorreram com o incêndio de Pedrógão Grande, nas várias aldeias assoladas pelo grande incêndio que vitimou 64 pessoas. Estas duas formas de encarar a proteção de bens levam a imagens alternadas nos órgãos de comunicação social: uns, assustados, a correrem ou a serem evacuados, outros, decididos, com baldes de água a poucos metros das labaredas, resistindo a deixarem as suas casas para trás.

O que fazer se tiver de fugir

Se, por iniciativa própria ou por recomendação das autoridades, tiver de sair de casa para um local mais seguro, deve tentar preparar tudo com alguma antecedência (ver lista em baixo). Fazer as coisas à pressa pode ser uma estratégia errada. Um kit com documentos, medicamentos e algumas peças pessoais é uma boa ideia.

«Quando se é evacuado tem de se ter os documentos pessoais à mão porque aquele é um momento em que não se pode voltar atrás», explica Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil e coordenador do curso em Emergência e Proteção Civil da Universidade Nova de Lisboa.

A decisão de partir ou ficar é pessoal, mas há casos em que não há grandes dúvidas. Para o ex-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, a opção é clara. «Nem sequer devia haver essa discussão [sobre ficar ou partir]» diz «Até porque há casos, como o de Pedrógão, que foi considerado uma contingência, em que a Lei Base da Proteção Civil obriga a que os cidadãos cumpram as ordens dos bombeiros e da proteção civil.»

«Em casos como o de Pedrógão, que foi considerado uma contingência, a Lei Base da Proteção Civil obriga a que os cidadãos cumpram as ordens dos bombeiros e da proteção civil», diz Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil e ex-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. «Nem sequer devia haver essa discussão [sobre ficar ou partir].»

Com o fogo há três situações que podem ser decretadas: alerta, contingência e calamidade. «E nas últimas duas os cidadãos são obrigados a cumprir as ordens», nomeadamente a de abandonarem as casas, o que é sempre a melhor opção para garantir a segurança. Umas vezes são feitas deslocações, de forma preventiva, para centros de abrigo por se considerar que há um risco e que só se deve voltar a casa depois de esse mesmo risco passar. Outras vezes são realizadas evacuações. «Esses são casos de emergência em que há uma situação extrema.»

Viveram-se as duas situações nas populações atingidas pelo maior incêndio florestal de que há memória e que foi finalmente controlado. Ao longo da semana, muitas pessoas resistiram a sair das suas casas, o que é normal, pois para muitas era «o último reduto», diz Duarte Caldeira, para quem há uma imagem que ilustra a resistência e o perigo que isso podia trazer: a de uma senhora à varanda de casa, com o fogo no horizonte, a dizer que não tinha ido embora porque as chamas ainda não tinham chegado ali.

O que fazer se decidir ficar

No caso dos incêndios que atingiram as aldeias de Pedrógão Grande, a maioria das situações, devido à envolvente e localização das casas, não permitiam que as pessoas lá ficassem, mesmo que quisessem. Muitas não tiveram opção a não ser ir embora e deixar os bens para trás. Alguns nunca pensaram em ficar. Mas, quando tal é possível, há quem defenda que ficar em casa pode ser a melhor opção.

Domingues Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (onde é professor catedrático do Departamento de Engenharia Mecânica), considera que há que ter sempre em conta a estrutura da habitação e a envolvente, nomeadamente a existência de combustíveis junto do imóvel. «Há casos em que pode fazer sentido ficar para tentar salvar a habitação», diz. «E, aí, devia ser uma opção para aqueles que têm capacidade física e psicológica para o fazer.»

Ao contrário de muitos que rejeitam liminarmente a ideia de as pessoas ficarem em casa, Domingues Xavier Viegas é adepto de uma «solução mista». Ou seja, há situações em que ficar em casa para receber o fogo faz sentido. Até porque, garante, muitas vezes as habitações são destruídas porque não há ninguém para as proteger. Isto, explica, por a maioria das casas portuguesas, devido à construção, sobreviverem ao primeiro embate do fogo. «Mas depois surgem focos de incêndio e, como não há ninguém para os combater, destroem tudo.» No entanto, para tomar a opção de ficar e enfrentar as chamas, há medidas a tomar e passos a seguir (ver lista em baixo).

«Há casos em que pode fazer sentido ficar para tentar salvar a habitação», diz Domingos Xavier Antunes, especialista em incêndios florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. «E, aí, devia ser uma opção para aqueles que têm capacidade física e psicológica para o fazer. Mas também há situações em que não deve ficar ninguém.»

Primeiro tem de se verificar se a construção da habitação é resistente ao fogo, se não há vegetação encostada à casa e se as persianas não são de plástico mas, de alumínio, por exemplo. Também não deve existir qualquer bilha de gás no exterior, nomeadamente em anexos. Se existirem, devem ser colocadas num local seguro. Em redor da casa não devem existir sebes, nem escadas de madeira, e deve desligar-se o abastecimento de combustível à habitação. Os telhados, esses, alerta o especialista, devem estar limpos, sem folhas, nem quebras.

As janelas e portas devem ficar fechadas para evitar que entre fumo ou faíscas. Os carros devem ser arrumados na garagem e os telemóveis usados só para chamadas imprescindíveis, para poupar bateria. Deve-se usar roupa seca, de preferência que cubra o corpo, como calças e camisolas de mangas compridas, luvas e lenço para tapar a boca e nariz. Deve também garantir-se uma reserva de água, enchendo a banheira de água, por exemplo. Com essas condições, é possível aguentar o embate das chamas, garante o especialista. «E salvar a casa», acrescenta.

«Muitas pessoas têm queimaduras de foro respiratório», diz José Videira e Castro, diretor da Unidade de Cuidados Especiais de Queimados do Hospital de São José. Isto por causa da inalação de fumos a altas temperaturas. Por isso, o especialista aconselha que, quando alguém que se encontre cercado pelo fogo, deve proteger a boca e o nariz com um pano e a circular rente ao chão, para evitar o fumo que concentrado na parte superior de uma habitação.

Prevenir para não ter de remediar

Planear a evacuação é, avisam os especialistas, essencial para garantir o sucesso da fuga. Por isso, sugerem, antes das épocas de incêndios, os habitantes de zonas vulneráveis devem reunir-se com os vizinhos e identificar os locais seguros para onde podem fugir se houver necessidade. Mas o melhor mesmo é prevenir. Para isso, a Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, presidida por Domingos Xavier Viegas, e respetivo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, organizaram uma lista de ações para proteger ao máximo a sua casa das chamas (ver em baixo).

1. Prepare a sua casa

2. Prepare a sua fuga, se for necessário

3. Se o fogo estiver à porta

Fonte: Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais/Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial.