Têm traços e peso de bebés verdadeiros, molham a fralda, nalguns casos dá até para ouvir o bater do coração. Pelo Mundo, há quem os leve a passear à rua e os embale, quem lhes dê biberão e mude a fralda, quem partilhe as rotinas matinais e os banhos. Em Portugal, o entusiasmo é mais contido. Mas também há quem se derreta com eles. E quem se impressione. No bom e no mau sentido. Uma viagem pelo mundo dos bebés reborn.
De alguma forma, Cristina Jacinto já nasceu talhada para os bebés. Hoje tem 61 anos, mas lembra-se de ser uma garotinha e já saber exatamente quantos queria: cinco, uma mão-cheia, nem mais nem menos. A paixão foi buscá-la à mãe, embora não conste que a genética tenha tido que ver com o caso. “A minha mãe toda a vida foi parteira e eu desde pequena que convivi com recém-nascidos. Pegava neles, mudava fraldas, tudo. Estive sempre rodeada de bebés.” Décadas mais tarde, já com 20 e muitos, chegou a vez dela. De ser mãe, entenda-se. E o plano dos cinco filhos rapidamente esmoreceu. “Depois de passar por um parto, resolvi ficar-me por uma.” A descrição do episódio fica por aqui, não vão futuras mamãs sentir-se desencorajadas. Mas o amor pelos pequenos, crianças incluídas, não se perdeu nunca. “Tomei conta de muitos miúdos, uns que eram meus sobrinhos, outros que não.” Entretanto, também teve netos. Um tem 15 anos, outro oito, o terceiro cinco, é uma avó babada até mais não. Mas aquele amor assolapado pelos bebés de colo nunca a largou.
Tanto que quando começou a ver na Internet vídeos de uns bonecos ultrarrealistas que em tudo se pareciam com rebentos de verdade, não mais tirou da cabeça que haveria de ter um. “Fiquei encantada com aquilo. Os vídeos eram mesmo muito aliciantes.” Só que a experiência não foi de todo um sucesso. “O primeiro foi logo um choque de todo o tamanho. Nem um ‘Nenuco’ era. Era uma coisa assim de plástico, pequeníssimo, normalíssimo, feio que eu sei lá. Mais tarde percebi que, como eu, muita gente tinha sido burlada naquela mesma página.” O percalço não a demoveu. “Mais tarde vi no OLX uma senhora que vendia uma bebé assim um pouco mais elaborada, arrisquei, paguei uns 100 euros, já era melhor do que o outro, mas continuava a ser uma boneca mais ou menos normal.” E na ânsia de encontrar algo igual ao que vira nos vídeos, ainda foi ao terceiro, já de vinil. Mas continuava a não lhe encher as medidas. E ela eternamente a suspirar por um “lindo, lindo” que tinha visto online algum tempo antes, mas que não tinha possibilidades de comprar porque custava perto de 900 euros.
É aqui que a filha, Soraia Jacinto, 33 anos, de Queijas como a mãe, entra na história. Soraia estava bem lançada no curso de Psicologia Criminal quando engravidou. Ainda tentou retomar, mas, entretanto, foi mãe outra vez. Depois foi a pandemia. “E fui ficando por casa. Acabei por não terminar o curso, por causa de três cadeiras.” Algures neste impasse, foi tomada por uma ideia que a arrebatou: e se ajudasse a mãe a ter um verdadeiro bebé reborn (o nome mais comum dos tais bebés ultrarrealistas de que temos vindo a falar)? “Ela andava muito frustrada porque aquilo que chegava a casa nunca tinha nada a ver com os vídeos que tinha visto. E então comecei a tentar saber mais sobre o assunto, a ver que materiais eram necessários para fazer um bebé reborn, se havia muitos cursos online, e fui começando a fazer em casa.” A missão não foi um sucesso imediato, diga-se. “Os primeiros saíram assim-assim”, reconhece. Até aperfeiçoar a técnica e sair “alguma coisa em condições” foi quase um mês. Foi mais ou menos ao fim desse tempo que, por fim, cumpriu o sonho de Cristina, a mãe. “O primeiro que fiz e que ficou bem ofereci-o à minha mãe, para ela ter o bebé com que tanto sonhou.” Era então 2020, annus horribilis de pandemia e confinamentos.
O bichinho de fazer bebés – bebés reborn, bem entendido – tinha vindo para ficar. Com o tempo, foi aprimorando a técnica, ganhando confiança, passando a palavra. Em 2022, deu o passo seguinte: criou uma página e começou a fazer da venda de bebés reborn ocupação de tempo inteiro. Desde então, em cerca de um ano, vendeu para cima de 20 (cada um deles pode demorar até um mês a estar finalizado, diga-se, mas da conceção do boneco propriamente dito falaremos mais à frente). Tem umas quantas clientes estrangeiras, de França, de Itália, de Espanha, portuguesas também, estima que seja ela por ela. E também muitas brasileiras que lhe compram os bonecos cá para os levar de volta para o Brasil. “Porque eu não cobro muito pelos bebés. Cerca de 300 euros. Os de vinil. Com enxoval e tudo. Se forem de silicone, vai dos 650 aos 850.” Note-se, a propósito, que em muitos sites, internacionais sobretudo, os preços oscilam entre os 800 euros para os bebés de vinil e os três mil, nalguns casos até quatro mil, se forem de silicone. “Mesmo assim, cá, como não é uma coisa muito conhecida, as pessoas acham sempre que é um balúrdio.” Já as motivações dos clientes são um tanto ou quanto variadas. “Desde um casal homossexual que gostava muito de ter um filho, mas não consegue adotar, a mulheres que não podem ser mães ou que tiveram doenças graves e querem ‘sentir-se úteis’, passando por pais que os compram para crianças com deficiência ou idosos. Também tenho senhoras que perderam o marido e querem algo que as entretenha.” Além das habituais colecionadoras. Ou dos pais que os compram para crianças ou adolescentes.
Com alguma frequência, o laço que se estabelece entre os compradores e os recém-nascidos do faz de conta é imediato. “Tenho várias senhoras que me vão mandando fotografias dos bebés de tempos a tempos a dizer ‘olhe a minha menina’, outras que filmam quando eles chegam e dizem coisas como ‘está todo bonito e cheiroso’. E também já tive uma senhora a agradecer muito porque a mãe tinha perdido o marido e desde que tinha o bebé dizia que tinha ‘uma razão para ali estar’”. Pelo caminho, também vai tendo uma ou outra situação caricata. “Uma vez recebi uma mensagem de uma senhora que dizia: ‘Não percebi a sua mensagem.’ E eu muito intrigada: ‘Qual mensagem?’ Diz ela: ‘A que pôs no Facebook. Diz que o bebé precisa de uma mamã e de um papá. Então está a vender o seu bebé na Internet?’.” O episódio surreal ainda hoje arranca uma gargalhada a Soraia. Uma ponta de orgulho também. “A senhora disse-me que achava que era mesmo um bebé de verdade. Claro que foi um elogio para mim.” E ainda há quem os ache “lindos”, mas admita que a parecença com a realidade causa “imensa confusão”.
Cristina, mãe de Soraia, também reconhece que há pessoas a quem estes bonecos fazem “muita impressão”. Há até quem os ache uma “aberração”. “É a cultura que nós temos. Ainda não estamos habituados. Muita gente nem sequer sabe o que é um bebé reborn”, aponta. Um estigma que não mexe com ela. Nem a impede de ir juntando novas personagens à coleção. Hoje, já são cinco, uma mão-cheia, nem mais nem menos, tantos como os que sonhava ter em garota. Dois em vinil, com corpo de tecido. Uma de silicone puro, com corpo de tecido. Mais dois de silicone sólido, um rapaz e uma menina. São o Little Jeremy, a Luana, a Sara, o Júnior e a Iara. Os de vinil estão numa vitrina para não apanharem pó, os outros andam sempre por ali. Aliás, todas as noites Cristina escolhe um para dormir com ela. E o neto faz o mesmo. “Não tenho vergonha nenhuma de dizer. Conseguem aquecer e são muito macios. É a mesma coisa que dormir com um bebé de verdade, uma sensação muito reconfortante. Por mim, dormia a minha vida inteira com bebés.” Volta e meia, também lhes muda a roupa. Tem até fatiotas específicas para o Natal e a Passagem de Ano, que lhes veste todos os anos. “Até porque nunca deixam de servir, não é?”, brinca. E aqui e ali também lhes dá um banho de água morna, porque o silicone “agarra os pelos com facilidade”. “Parecem bebés autênticos. Mas não dão trabalho e não crescem”, resume Cristina, que já não vive sem eles. E sabe dizer exatamente porquê: “Sobretudo pela paz que transmitem. Todas as pessoas adultas que eu sei que compraram falam disso. Da paz que eles as fazem sentir”.
Um amor “quase automático”
Os bebés reborn surgiram nos anos 1990, nos Estados Unidos, à boleia de uma necessidade de se fazerem bonecos cada vez mais realistas. Em 2002, o primeiro foi posto à venda no eBay. Era o primeiro passo na criação de um mercado gigantesco, que tem a Internet como palco preferencial, e que assume particular relevância em países como os EUA, a Inglaterra e o Brasil. Com o tempo, o realismo foi-se aprimorando. Além de se parecerem com bebés verdadeiros e de terem o peso de bebés verdadeiros, já há os que urinam (através de um tubinho em que a água que bebem pelo biberão vai direta para a fralda). E até os que emitem um som idêntico ao do batimento cardíaco. Paralelamente ao crescimento de uma poderosa indústria, proliferou também uma verdadeira comunidade de fãs, nalguns casos com uma devoção fora do normal. Nas redes sociais, são infindáveis os vídeos de pessoas (quase invariavelmente mulheres) a tratarem os seus bebés reborn como se fossem rebentos verdadeiros. Há quem partilhe as rotinas matinais e o banho, quem os leve a passear à rua e os embale, quem lhes dê o biberão e lhes mude a fralda, quem lhes reserve verdadeiros quartos de sonho. Há quem simule piqueniques no quintal com os “pequenos”. Nos EUA, houve até relatos de casos em que a Polícia foi chamada para resgatar recém-nascidos aparentemente esquecidos na cadeirinha, dentro do carro – afinal, mais não eram do que bebés reborn.
A questão é mais profunda. Não raras vezes, as compradoras são mulheres que perderam bebés. Ou que não os podem ter de todo. Com todos os riscos que daí podem advir (lá iremos). O assunto tem vindo a despertar interesse mediático em vários países, ao longo dos anos. Em 2008, o icónico programa americano “Dr. Phil” dedicou-lhe mesmo um episódio, no âmbito do tópico “obsessões”. Mais tarde, vários foram os canais, tanto ingleses como americanos, a produzir documentários sobre o assunto. Em Portugal, o tema está longe de ser tão badalado. Na verdade, além de escaparem ao radar mediático, os bebés reborn são ainda desconhecidos da grande maioria dos portugueses. Depois, há quem os tenha, mas não goste de admitir (vários pedidos de entrevista feitos pela “Notícias Magazine” no âmbito deste trabalho foram recusados). E ainda há quem os conheça, mas não lhes ache grande graça. Cleane Reis, natural de Aracaju, no estado brasileiro de Sergipe, mas residente em Portugal há uns cinco anos, dá conta disso mesmo. “No Brasil, ia com eles ao shopping e toda a gente vinha ver, achavam graça, tiravam fotos. Aqui, as pessoas cochicham, dizem que lhes faz impressão. É muito diferente.”
Há uns quantos anos, mais de 20, foi dar com um grupo de mães no Facebook que tinham perdido o bebé e mandavam fazer réplicas, sob a forma de bebés reborn. Cleane não partilhava a dor daquelas mulheres, nunca perdeu um bebé (tem hoje uma filha de dois anos), mas gostou tanto dos bonecos que começou a juntar dinheiro para comprar um. Passado uns tempos, quis tentar fazer um com as próprias mãos, “gostava muito do realismo deles”, comprou meia dúzia de materiais e arriscou, mas a experiência foi um fiasco. “Correu péssimo.” Tanto que durante uns dois anos nem sequer voltou a tentar. Mas depois voltou à carga. “E aí sim, comprei o material adequado.” Desde então, nunca mais parou, hoje considera-se uma “artista plástica”. Na casa onde mora, em Coimbra, tem até um quarto exclusivamente reservado para bonecos. Uns quantos estão numa caminha de bebé, com um cenário de borboletas como pano de fundo. Há-os de olhos abertos e fechados, meninos e meninas, branquinhos como a neve ou mais rosados, magros ou mais redondinhos, de ar risonho ou rezingão. Outros estão espalhados pelas prateleiras e os móveis, há até um de ar angelical que parece dormir sobre uma balança de bebé e um outro que é silicone da cabeça aos pés e custa quase quatro mil euros.
Há também uma secretária, sobre ela estão cabeças de bebés feitas de vinil, braços, pernas, troncos, é ali que todos os bonecos ganham vida, são horas e horas de trabalho, cada um leva cerca de um mês a estar concluído, o processo é longo e minucioso. Mesmo que muitas das “reborners” – o nome atribuído às autoras destes bonecos – trabalhe a partir de moldes já feitos, encomendados através da Internet, as tais partes do boneco que se encontram sobre a secretária. Mas o trabalho está longe de se resumir a montar as peças. “Cada rosto destes leva mais de 20 camadas de tinta”, sublinha Cleane. É este processo que lhes vai dar as feições ultrarrealistas que os caracterizam. Sendo que, no caso da tinta que usa, cada aplicação obriga a uma passagem pelo forno, um forno cilíndrico, de halogéneo, que tem no quarto, especificamente para o efeito. Depois ainda é preciso montar, encaixar os olhos, fazer o cabelo, outro bico de obra. “Tem que ser cosido fio por fio.” Falta dizer que todos os bonecos seguem para os novos donos com certidão de nascimento e todo um enxoval, que inclui desde a manta a um peluche, passando pela chupeta (tem um íman para aderir à boca do bebé) e outros adereços mais. Ao todo, estima que já tenha feito uns 350. Destes, se vendeu um quarto para Portugal foi muito. A maior parte segue para os EUA ou para os Países Baixos. “Cá as pessoas não procuram tanto. Acho que têm um pensamento mais fechado, vergonha do que o povo vai achar. E nos últimos tempos tem sido ainda pior.”
Christine Mora, 49 anos, nascida em França mas residente em Portugal há já 17 anos, partilha das dificuldades de Cleane na hora de encontrar clientes portuguesas para os seus “bebés”. “Para Portugal ainda não vendi nenhum. As pessoas mandam mensagem, mostram-se interessadas, mas depois não querem dar tanto dinheiro. E a mentalidade é muito diferente. Em Espanha, fazem reuniões, encontram-se, vão a jantares, são muito abertas, não têm medo de ir à rua com eles. Aqui não.” Conheceu os bebés reborn em plena pandemia, através da Internet, achou todo o conceito “muito interessante” e, como sempre gostou de fazer restauro de bonecas antigas, resolveu tentar. De lá para cá, foi sempre a melhorar. “Vejo muitos vídeos no YouTube e até já fiz cursos online com colegas em Espanha. Agora, olho para os meus primeiros bebés e vejo o quanto melhorei. Sobretudo no cabelo. E ao nível da pintura também.”
Pelo meio, também ela criou um quarto para os pequenos. “Tenho um armário cheio de roupas, um berço, uma caixinha de música.” Brinquedos também não faltam. Um cavalo de baloiço, camiões gigantes, uma piscina de bolas. “Foi a minha mãe que foi comprando”, conta. Christine perde-se mais com as roupas. “O que gosto mais é de vesti-los.” E mesmo estando perfeitamente ciente de que são apenas bonecos, há uma ligação afetiva que se vai criando. “Não posso passar um dia sem ir lá vê-los, ver se está tudo ok, à noite tenho o hábito de os ir cobrir.” O que é ainda mais curioso porque Christine nunca quis ter filhos. A explicação que encontra é esta: “Acho que pelo facto de serem tão realistas, acabam sempre por despertar um instinto maternal, uma vontade de cuidar, de procurar amor. É quase automático”.
Terapêutico ou perigoso?
Com o tempo, foram também sendo adotados noutros contextos. Para intervenção junto de crianças autistas, por exemplo. Ou mesmo no caso de doentes com problemas de demência. Milene Silva, 49 anos, natural de Rio de Janeiro, mas há muito instalada em Almada, já tinha lido sobre o assunto – “a terapia do abraço há muito tempo que já é feita nos EUA”, realça – e, portanto, quando recentemente trabalhou num lar de idosos na Sobreda (freguesia do concelho de Almada), resolveu levar a bebé reborn que tinha comprado para a filha para que os utentes do lar lhe pudessem pegar. O feedback, garante, não podia ser melhor. “Foi uma reação de felicidade. Foi como se resgatassem as memórias de quando foram mães, pais, avós. Agradeceram-me muito.”
Patrícia Paquete, terapeuta ocupacional e criadora da Humanamente, que se dedica à prestação de serviços direcionados às pessoas com demência ou défices cognitivos, ajuda a contextualizar. “Enquadra-se numa prática não muito recente que é a ‘doll therapy’ [terapia com bonecos] e que está longe de se cingir aos bebés reborn. A questão é que as pessoas que vivem com demência têm momentos de grande ansiedade e vazio e o boneco é uma espécie de substituto, para que não seja necessário estar alguém permanentemente ao lado deles. É aquilo a que nós chamamos a necessidade do vínculo. Eu já experimentei e já assisti e de facto o que se nota é que, sobretudo com senhoras, terem um boneco com que podem interagir e de que podem cuidar ajuda a diminuir a ansiedade.” Aliás, assegura Patrícia, às vezes pode mesmo servir como alternativa às intervenções farmacológicas que “acabam por ter outros efeitos adversos”. Mas, na opinião de Patrícia, outro qualquer boneco, porventura um peluche, pode ser, neste contexto, mais proveitoso do que propriamente um bebé reborn. “Acho que são mais perigosos, por serem demasiado parecidos com bebés de verdade. Como falamos de pessoas com demência, pode-se dar o caso de a dada altura perderem a noção do que é a realidade. Há histórias de senhoras que já os tentaram amamentar. Nesse caso, estamos a reforçar comportamentos patológicos. E isso não queremos. No contexto da ‘doll therapy’, a ideia é que os bonecos sejam quase como uma bengala, algo que lhes dá conforto nos momentos em que estão mais sozinhos.”
No caso de mulheres que perderam os bebés, o dano pode ser ainda maior. Suzy Pinho Pereira, psicóloga que se debruça em particular sobre perturbações do espectro do autismo e a questão da perda gestacional, chama a atenção para isso mesmo. Admite que, no contexto do seu trabalho do dia a dia, nunca se deparou com uma situação deste foro, mas, pelo que vai lendo e vendo na Internet sobre o assunto, os riscos parecem-lhe evidentes. “O problema é quando estas mulheres passam a achar que este bebé é mesmo verdadeiro. Porque o bebé não vai crescer. E portanto todo o processo de luto fica em suspenso. Não há um desfecho emocional. É muito complicado. Até porque, depois, para além do luto do bebé que se perdeu, é preciso fazer o luto do bebé que não cresce.” Abre, no entanto, uma exceção. “Se for utilizado em contexto de consulta pode haver vantagens. Pode ajudar a que os pais percebam que perderam o bebé, que não o vão ter no colo. O processo do luto tem várias fases e na parte da negociação poderá surtir algum efeito. Fora desse contexto é um risco muito grande.” Já no caso das crianças com perturbações do espectro do autismo, a história é outra. “Tem a ver com o toque e a socialização. Pegarem naquele ‘bebé’, interagirem com ele, pode ser fantástico.”