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A inquieta juventude dos sete candidatos presidenciais

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Vitorino Silva aproveitava os bailes de garagem para piscar o olho às catraias. Marcelo Rebelo de Sousa andava de Famel. Marisa Matias acompanhava as tendências alternativas nas cassetes que ouvia com os amigos na aldeia. Tiago Mayan Gonçalves pensava ser cientista. João Ferreira deixava que os seus testes circulassem pelos colegas. André Ventura batizou-se aos 14 anos, quis ser padre, desistiu por amor. Ana Gomes ia a comícios com o pai. Todos eles continuam a acreditar na mudança. Cada um à sua maneira.

Aquele dia não lhe sai da memória, 9.º ano feito, férias de verão à porta, era preciso ajudar a família, oito irmãos lá em casa, mãe viúva. Partiu de Rans, Penafiel, com o irmão Zé Manel e outros homens para assentar pedras por este país fora. Chegaram a Brunhoso, Mogadouro, numa carrinha amarela de nove lugares e foram recebidos em festa. Chegaram os calceteiros, ouvia-se pela aldeia. Vitorino Silva chorou de alegria e de orgulho. Tinha 15 anos, era o seu primeiro trabalho. “Fomos recebidos com muita nobreza, muita classe, com uma mesa domingueira com a melhor posta, o melhor azeite, o melhor vinho”, recorda.

Vitorino Silva, calceteiro, sempre teve fascínio pelos palcos
(Global Imagens)

Andou de terra em terra, por Trás-os-Montes e Alto Douro, moço entre homens, cozinheiro de serviço nos lugares onde não havia tasca ou restaurante. “A minha mãe ensinou todos a cozinhar. Gosto de comida de tacho, com cor, com textura.” Não voltou à escola porque queria conhecer Mundo. Ia a casa de 15 em 15 dias, às vezes uma vez por mês. Vitorino Silva, o Tino de Rans, tem 49 anos, é calceteiro, foi presidente da Junta de Freguesia de Rans, fundou o RIR – Reagir, Incluir, Reciclar em 2019. Candidata-se à Presidência da República pela segunda vez. “Sempre gostei de incomodar, nunca tive medo de me espreguiçar”, afirma.

Vitorino Silva, aos cinco anos, na primeira foto de microfone na mão
(Foto: DR)

Marisa Matias absorvia o Mundo pelo televisor a preto e branco da avó Leonor e pelos livros da biblioteca itinerante que passava na sua aldeia, Alcouce, Condeixa-a-Nova. Ficava fascinada com as histórias de Álvaro Febra, vizinho dos avôs, comunista que tinha vivido na clandestinidade. Não havia consoada de Natal em que não se discutisse política e futebol. E as tendências alternativas, da música e da moda, do punk ao gótico, passando pelo rockabilly, eram acompanhadas nas cassetes que se ouviam nas escadas das casas e nas revistas da juventude. “Devorávamos tudo o que era música alternativa”, lembra. Um primo ainda tentou criar um festival em Alcouce, formou uma banda, os Atentado Cerebral. Não funcionou, mas ouviu-se música.

Marisa Matias e o irmão a carregarem sacos de favas secas em Alcouce, Condeixa-a-Nova. A candidata teria 13 anos
(Foto: DR)

A justiça social, a igualdade de género, as lutas, as manifestações de estudantes contra a Prova Geral de Acesso, a contestação aos aterros sanitários das redondezas tornaram-se uma segunda pele. “Sempre fui muito sonhadora, não tinha a perceção de viver num Mundo pequeno”, conta. Tem 44 anos, é eurodeputada, socióloga e investigadora, concorre pela segunda vez à Presidência da República. É do BE desde 2004. “São as causas comuns que contribuem para mudar o nosso futuro. E essa ingenuidade nunca a perdi”, garante.

A candidata do Bloco de Esquerda à Presidência da República, Marisa Matias
(Foto: Mário Cruz/Lusa)

Tiago Mayan Gonçalves, nascido e criado no Porto, lia tudo o que lhe aparecia à frente, arriscava nas experiências, ia ser cientista, tornou-se advogado. Aprendeu francês a ler as revistas científicas que chegavam pelo correio para o pai. Não teria 13 anos quando quis perceber o que veria numa fusão de líquidos de higiene. Uma explosão, talvez, pensou. “Tentei ver o que é que acontecia se misturasse todos os produtos cosméticos que a minha mãe tinha na banheira.” Despejou tudo e não aconteceu nada. A única explosão veio da mãe, que ficou furiosa.

Perdia-se na mini-oficina do pai improvisada no terraço do apartamento. “Estava ali a vê-lo fazer coisas, ele fazia tudo para a casa, torneiras, ferramentas, reparava eletrodomésticos”, recua. Filho de engenheiros químicos, pai ligado à gestão de empresas, mãe investigadora e professora, o bichinho da ciência era percetível. Seria cientista, pensavam lá em casa. O francês Jacques Cousteau, oceanógrafo e inventor, era o herói de infância. Os documentários e tamanha ligação ao mar prendiam-no ao televisor. Queria ser como ele, fazer o que ele fazia. A paixão pelo mar também vem daí, começou a fazer vela aos 12 anos. “Adorava a vida natural e acompanhava esse tipo de programas.” Tem 43 anos, é advogado, fundador da Iniciativa Liberal, estreia-se como candidato à Presidência da República. “Ainda sou uma pessoa introvertida, a minha energia provém de dentro”, confessa.

João Ferreira tinha 16 anos quando se filiou na Juventude Comunista, depois de procurar o endereço na lista telefónica. Não conhecia ninguém do partido, não havia qualquer ligação, nenhum contacto. Estava na Escola Secundária do Lumiar, em Lisboa, na área Científico-Natural. Ele e um colega procuraram a morada da sede da JCP e lá foram. Pouco tempo antes, tinha ido a uma festa do Avante.

João Ferreira sempre foi um defensor do 25 de Abril e ainda adolescente marcava presença nas manifestações evocativas da revolução dos cravos
(Foto: DR)

“É um percurso que se vai fazendo, ideias que se vão construindo, uma ideia que se vai fazendo do Mundo. Olhar para as injustiças e desigualdades como não sendo inevitáveis. Uma outra forma de organização da sociedade, a igualdade como um valor de facto.” A militância foi bem recebida lá em casa. “Alguma satisfação íntima no reconhecimento de um percurso que fiz por mim”, salienta. Mais as influências indiretas, os valores de justiça, igualdade, liberdade, fraternidade, incutidos desde cedo. E bem cedo optou pelas Ciências Naturais. É biólogo, tem 42 anos, é eurodeputado, estreia-se como candidato a presidente da República com o apoio do PCP. Aquela vontade da juventude de mudar o Mundo não esmorece. “Essa vontade havia e há, não morre”, assegura.

Banho de política, lutas estudantis, uma excursão a Israel

Marcelo Rebelo de Sousa, filho de governante do regime, do subsecretário de Estado da Educação, elite entre a elite, frequentou o Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, dos 10 aos 17 anos, escola das melhores famílias da capital. Aluno excecional, metódico no estudo, brilhante na retórica. Teve aulas particulares de Francês, uma percetora irlandesa para aperfeiçoar o Inglês, explicações de Alemão. De uma inteligência plástica aberta a vários pontos de vista. Em casa, e fora dela, discutia política. No liceu, chegou a anunciar que queria ser primeiro-ministro ou professor de Direito quando se falava de futuro. O seu coração ainda balançou entre Medicina e Direito, Matemáticas e Ciências. Optou pelo caminho das leis.

Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República
(Foto: Manuel de Almeida/Lusa)

Cresceu no tempo da ditadura, da censura, no tempo em que os beijos eram cortados dos filmes. Havia festas em casa dos amigos, dançava-se o twist, ouviam-se os Beatles. A média de 19 no 5.º ano do liceu valeu-lhe a moto prometida pelo pai pelo desempenho escolar. Uma Famel verde e preta aos 16 anos, altura em que recebeu as chaves de casa, podia chegar depois da meia-noite. Ia ao teatro, a tertúlias sobre literatura, colecionava selos e postais, o seu quarto enchia-se de livros. As primeiras viagens ao estrangeiro, de carro com os pais, a partir dos 14 anos, Paris, Madrid, Barcelona, Nice, Mónaco, Roma.

Era um pinga-amor, sempre apaixonado, a espalhar charme, a impressionar as miúdas, teve um curto namorico com Ana Zannati, que conheceu num programa de teatro radiofónico na Emissora Nacional, onde ganhou os primeiros trocos. Aos 15 anos, dá uma perninha no jornal “O Século” a escrever prosas, depois de ter recebido uma máquina de escrever portátil aos 12. Está tudo na sua biografia escrita por Vítor Matos. Marcelo Rebelo de Sousa, professor universitário de Direito, tem 72 anos e recandidata-se à Presidência da República. Foi ministro, secretário de Estado, deputado, líder do PSD.

A foto que Marcelo Rebelo de Sousa ofereceu à mãe no dia em que completou 16 anos e estudava no Liceu Pedro Nunes
(Foto: DR)

Lisboa, uns anos mais tarde, que ainda acorda e anoitece em ditadura, é também onde tudo começa para Ana Gomes, filha de comandante da Marinha Mercante, que no final do liceu escolhe Direito, sem ninguém ligado à área na família. A série de televisão “Perry Mason”, o defensor dos injustiçados, teve influência. Jovem ligada a causas, na luta contra a ditadura, em manifestações contra a guerra colonial. É público que aprecia música de todo o género, gosta de nadar, de cinema e de jardinagem.

Ana Gomes, indisponível para conversar com a NM sobre o tempo de juventude, é apresentada, por quem a conhece, como incansável, obstinada, indomável, trabalhadora. A persistência e a energia, disse um dia, herdou-as da mãe, o interesse pela política do pai que acompanhou, ainda adolescente, a comícios da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática e do Movimento Democrático Português.

Ana Gomes herdou o interesse pela política do pai, que acompanhou, ainda adolescente, em comícios
(Foto: José Sena Goulão/Lusa)

Frequentou o colégio interno da Baforeira, na Parede, com a irmã, liceu em São João do Estoril, ao pé da praia, o spot quando não havia aulas. A capacidade de liderança sobressaía e cruzava-se com um currículo de ativismo político estudantil, no Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa. Tem 66 anos, diplomata e jurista, foi eurodeputada, umbilicalmente ligada ao referendo e independência de Timor.

André Ventura, em miúdo, queria ser ciclista como Lance Armstrong, sonho que crescia na loja de peças de bicicletas do pai. “Mas não tinha jeito para o desporto”, reconhece. Não pedalou nessa vontade, mas continua a apreciar o ciclismo. Em casa, em Algueirão-Mem Martins, falava-se muito de política. O pai, ex-combatente do Ultramar, pendia para a Direita, a mãe mais para a Esquerda, o irmão para a Esquerda, André mais para a Direita.

André Ventura, candidato pelo Chega às eleições presidenciais
(Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

Aos 14 anos, decidiu batizar-se por sua iniciativa, uns meses depois, o crisma. Os pais deram aos dois filhos essa liberdade religiosa. Entretanto, inscreveu-se numa visita a Israel numa excursão da igreja, peregrinação católica de duas semanas à Terra Santa. “Muda a perspetiva, um grande sentimento religioso, mais presente, estive onde Jesus nasceu e morreu. Senti que tinha um chamamento”, assinala. Queria ser padre. Aos 17 anos, estava no Seminário de Nossa Senhora da Graça, em Torres Vedras, fez o 12.º ano no Externato de Penafirme. Um ano de seminário, Economia no último ano do Secundário, e uma paixão que abalou certezas. Uma miúda de Humanidades, colega em algumas disciplinas, partiu-lhe o coração. O amor abanou a religião, sentiu que tinha de ser coerente, desistiu de ser padre. Um amor não correspondido, na altura. Reencontraram-se na faculdade e, aí, namoraram algum tempo.

No Secundário, tornou-se um aluno melhor, mais empenhado, estudava mais, as leituras mais profundas passavam pelas obras de Jaime Nogueira Pinto. Jovem pacato, as saídas à noite começaram na faculdade, o gosto pelo cinema veio mais tarde, já em adulto e sobretudo pelos filmes europeus. Gostava de jogar à bola, praticou judo, chegou a cinturão amarelo.

André Ventura, com 17 anos, ao lado do padre Mário Rui, da paróquia de São Nicolau. Nessa altura, o agora candidato frequentava um seminário
(Foto: DR)

Escolheu estudar Direito, entrou na Universidade Nova de Lisboa, terminou o curso com 19 valores. “Direito tinha mais a ver com a minha personalidade.” Gostava de discutir a organização da sociedade. É advogado, tem 37 anos, professor universitário, ex-comentador televisivo, deputado desde 2019 pelo Chega, o partido que fundou, foi militante do PSD. Estreia-se numa candidatura à Presidência da República.

Os namoricos, as boleias, os amores, os livros

Tino engata história atrás de história para contar a sua passagem de “pito a galo”. Roda sempre no ar. Quis ser jogador de futebol e cantor, fez teatro no Grupo Cénico Andorinhas de Rans, jogou à bola no clube da terra, improvisava relatos de futebol. Muito trapalhão, falava mais rápido do que pensava, aprendeu a ler ao contrário no café da aldeia a juntar as letras do jornal que os velhotes liam, ele sempre do outro lado da mesa, a acompanhar notícias de pernas para o ar. Respondia aos exercícios em rimas para que estudar fosse mais divertido. Chegou a fingir que queria ser padre para experimentar os campos de futebol, a piscina e o pavilhão de um seminário para os lados de Gondomar. Dez dias depois, voltou a casa por não ter resistido à fruta do pomar. “Era um puto reguila.”

Nunca faltou comida à mesa, as roupas passavam de irmãos para irmãos. No dia em que Rosa Mota foi correr à Secundária de Penafiel, Tino e o irmão Guel lançaram moeda ao ar, ambos queriam participar na prova, mas só havia um par de sapatilhas. Tino perdeu, correu de chuteiras, ficou com os pés cheios de bolhas, mas não se importou. “Íamos às pinhas, cortávamos relva, andávamos no campo, nunca ninguém fez pouco de nós.” Orgulha-se das suas raízes.

Cara de miúdo, miúdas debaixo de olho, tentou aprender a fumar para impressioná-las, não conseguiu, pedia boleia aos amigos para ir aos bailaricos de garagem. “Punha-me debaixo da bola de cristal para piscar os olhos às catraias, mas não tinha sucesso a dançar com as garinas, só dançavam com quem tinha uma mota. Comprei uma, sem saber andar.”

Era uma vida comum às crianças da aldeia. Marisa Matias ajudava na agricultura e a pastar o gado, ia buscar água à fonte. A escola primária em Bruscos ficava a cinco quilómetros feitos a pé. Condeixa do 5.º ao 9.º, depois Secundária D. Duarte, em Coimbra. Era a melhor aluna da turma, sempre atenta, gostava de participar nas aulas de início ao fim, tirava apontamentos. Não tinha bem ideia do que queria ser, no 9.º ano estava em Economia, no 10.º e 11.º em Ciências Naturais e Desporto, no 12.º em Humanidades. “Fiz todas as mudanças que podiam ser feitas.” Adorava desporto, fez atletismo, meio-fundo, fundo, salto em comprimento. Era demasiado alta para as barras, distraída no futebol e, por isso, ia à baliza. No final do liceu, escolheu Sociologia.

O Ambiente foi uma das primeiras causas que lhe prendeu a atenção, seguiu a cimeira do Rio, em 1992, com bastante proximidade. Aos 16 anos, conciliava os estudos com o trabalho, para pagar as coisas da escola, para ajudar em casa. Começou por organizar atividades à sexta-feira à tarde para os alunos da primária da aldeia. Passou a trabalhar num bar na Praça da República, em Coimbra, atrás do balcão, à noite, das dez da noite às duas da madrugada, aprendeu a fazer cocktails, os pais iam buscá-la depois de sair. Saía da aldeia bem cedo, um quilómetro a pé, sempre a subir, para apanhar o autocarro das 6.45 horas para Coimbra. Aos sábados à noite, depois do bar, ia à discoteca States com a irmã e os amigos. Admite que era totó nos amores, paixões platónicas por músicos e atores, mas nada de posters colados nas paredes do quarto. Era exigente, admite, não bastava ser giro, era preciso mais qualquer coisa.

Em casa de João Ferreira, falava-se de tudo, de política também. “Havia, em casa, algum lastro do tempo da juventude dos meus pais. Os livros estavam à distância de um braço esticado e dirigia para aí a minha curiosidade.” Lia os clássicos do marxismo-leninismo. Nessa altura, interessava-se por aquilo que o rodeava, apurava uma atitude mais crítica, tentava perceber a organização da sociedade, questionava os sistemas políticos, económicos e sociais que faziam girar o país e o Mundo.

João Ferreira, candidato do Partido Comunista Português (PCP) às eleições presidenciais
(Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Durante a adolescência, sobressai uma costela ecologista, a consciência pelo bem-estar do ambiente. “Alguma atenção ao Mundo, aos problemas relacionados com a poluição e os hábitos de consumo.” Recorda-se de um livro que era um guia do jovem consumidor ecológico. E ficou deslumbrado com o filme “O carteiro de Pablo Neruda”, viu-o quatro vezes durante os dois anos em que esteve em cartaz no Cinema Mundial.

Bom aluno, dos melhores da turma, os seus testes, por vezes, passavam de mão em mão, à socapa dos professores. No início da adolescência, as primeiras saídas à noite com os amigos. Não estava sempre na pista de dança, mas também não deixava de ir dar um pezinho. “Não era daqueles miúdos que estavam fechados em casa, não vivia confinado. Era absolutamente comum”, rotula, sempre reservado. Foi atleta do Sporting, fez ginástica no clube ainda criança, aos 11 praticava remo, fez ainda natação.

Marcelo Rebelo de Sousa, sem disponibilidade parafalar com a NM sobre os tempos de juventude, gostava de jogar à bola, jogou voleibol, andebol e basquetebol, sem se destacar. Ajudava amigos a resolver testes, fazia questão de mostrar que sabia e o que sabia, sempre de dedo no ar, o melhor aluno, sem jeito para desenho. Frenético, interventivo, competitivo, uma cultura invulgar para a idade.

Aos 13 anos assistia às discussões da ala moderada do regime. O pai levava-o a tertúlias de gente adulta, onde estava Marcello Caetano. Católico, envolvido na Juventude Escolar Católica, ia à missa logo de manhã, colaborava com as Conferências de São Vicente de Paulo, visitava bairros de lata todas as semanas.

Tiago Mayan Gonçalves, candidato à Presidência da República do Iniciativa Liberal
(Foto: Gerardo Santos/Global Imagens)

Tiago Mayan Gonçalves andou no Colégio Flóri na escola primária, depois passou para a escola pública, Francisco Torrinha, depois Secundária Clara de Resende até ao 11.º ano. Não se falava de política à mesa, em casa. “Estávamos nos anos 1980, tudo parecia correr bem a Portugal, o país tinha entrado na CEE.” Teve uma educação cristã, católica, fez a profissão de fé, andou no grupo de jovens, chegou a acompanhar a mãe na entrega de cabazes e roupas em bairros sociais do Porto.

“Era um bom aluno, com bons resultados.” As saídas à noite tornaram-se mais habituais no final do liceu. Aos 17 anos, estava no ano zero de Direito na Universidade Católica, Ano Propedêutico. Foi uma decisão de última hora, fez testes psicotécnicos, decidiu tentar, inscreveu-se nos exames de admissão. Mesmo assim, por via das dúvidas, fez o 12.º ano por exames, na incerteza de continuar na Católica e seguir Direito. Vamos lá ver isto, pensou. Ficou, licenciou-se em Direito. “Acabei por gostar. O ano zero estava bem pensado para que os alunos continuassem.”

“Era um rapaz muito bem-comportado, voraz leitor, lia tudo o que aparecesse à frente, ainda não havia internet, não havia Wikipédia.” O gosto na literatura era bastante eclético, romances, livros de aventura, enciclopédias, de tudo um pouco, e a “Science & Vie”, a revista científica francesa que o pai assinava, que o ajudou a entender o francês. “Entrei na fase pré-adulta com um feroz sentido de autonomia”, revela. Aos 16 anos, sentia-se com uma maturidade bem desenvolvida. Mas tamanha autonomia não era bem compreendida no amor.

Tiago Mayan Gonçalves, que teve no oceanógrafo Jacques Cousteau o herói de infância, começou a praticar vela aos 12 anos
(Foto: DR)

A campanha às eleições presidenciais já começou. No dia 24, os sete candidatos vão a votos para o mais alto cargo da Nação.

Uns são repetentes, para outros é uma estreia. Seja como for, o lastro da juventude não os larga, anda colado à pele. Aquele brilhozinho nos olhos de quem queria entender a sociedade e o seu povo.