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Bruno Gaspar: civilizador cultural

Bruno Gaspar, 40 anos, é licenciado em História de Arte e possui ainda formação em Cinema de Animação (Foto: Henriques da Cunha/Global Imagens)

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Texto de Alexandra Barata

Nasceu em Paris e cresceu nas Torrinhas, na Batalha. Bruno Gaspar, 40 anos, estabeleceu como projeto de vida dar a volta ao Mundo em 79 dias. Menos um do que a personagem do romance de Júlio Verne. Apesar de o número de dias ter deixado de ser uma meta, manteve o objetivo, o que lhe tem permitido conhecer melhor os países onde passa temporadas e dá a conhecer a cultura portuguesa.

Ilustrador, pintor e apaixonado pelo cinema etnográfico português, Bruno Gaspar viveu durante dois anos no Oriente, onde deixou o seu cunho em países como a China, as Filipinas, o Japão, a Malásia e Singapura. Ao contrário de um turista comum, parte à descoberta de mochila às costas, sozinho e sem conhecer a língua, e sobrevive da venda de pinturas. O ponto de partida para uma nova aventura passa sempre pela consulta do saldo bancário.

Embora, por vezes, se socorra de gestos, Bruno Gaspar usa sobretudo a ilustração e a gastronomia portuguesa para desbloquear a comunicação, o que contribui para despertar a curiosidade das pessoas. Viaja de transportes públicos, imita hábitos e reproduz costumes. Na China, comeu insetos e cobras. “Interessa-me não tanto a beleza das cidades, mas a essência dos locais, a forma de vida das pessoas e a vivência com a natureza”, sublinha.

Há pouco tempo, esteve na Lituânia a pintar paisagens, com artistas de outras nacionalidades. O Ministério da Cultura local pagou as despesas e os honorários e ficou com o património. “Não são miserabilistas, como em Portugal”, observa. Nove meses após ter regressado, Bruno está a planear mudar-se para a Dinamarca, com a mulher e o filho, de quatro anos. Quer partir à descoberta do Polo Norte, uma vez que já conhece vários países da Europa, para onde viajou, sobretudo, à boleia. Além das tintas, leva sempre na bagagem um pequeno fogareiro – gosta de cozinhar.

Licenciado em História de Arte e com formação em Cinema de Animação, Bruno Gaspar assume ainda o papel de “embaixador” de Portugal, ao dar a conhecer o cinema etnográfico português pelos países por onde passa. “Para viver, mudava-me já amanhã para Singapura. Tanto que vou escrever uma biografia de José de Almeida, o português que foi um dos seus cofundadores”, revela à NM.

“É um país asseado, seguro, com uma organização eficaz e central para quem gosta de viajar”, justifica. Não esconde, porém, o fascínio pelo Japão. “É uma lição de vida pelo respeito que têm pelos outros. Ninguém atende o telefone nos transportes públicos”, garante. Foi também neste país que deu o primeiro espetáculo ao vivo, com o flautista António Carrilho, enquanto pintava em palco. “É uma forma de contar a história de Portugal ao Mundo.”

“A Ásia ficou entranhada no meu sangue. O Oriente é uma civilização mais evoluída do que nos contam na escola”, assegura. Com uma criatividade inesgotável, é o autor de “Pela estrada fora”, um roteiro turístico alternativo que criou ao percorrer Portugal de lés a lés numa velha motorizada Macal, herdada do tio.

Em “Pela costa fora”, o olhar sobre o país foi relatado a partir de diferentes embarcações, nas quais andava à boleia. Altruísta, desenvolveu ainda um projeto com sem-abrigo de Lisboa, aos quais ofereceu uma máquina fotográfica descartável, para registarem o que os rodeava.