Publicidade Continue a leitura a seguir

Colónias balneares e feira popular: O Século que já não existe

A Colónia Balnear Infantil "O Século" foi fundada em 1927 pelo diretor do jornal homónimo. Com dinheiro das comparticipações dos leitores, permitiu a milhares de crianças de origens humildes terem direito a férias numa residência em São Pedro do Estoril. Havia jogos, atividades desportivas e praia. Para muitos miúdos, esta foi a primeira oportunidade que as crianças tiveram de ver o mar.
Na Segunda Guerra Mundial, a Colónia Balnear recebeu crianças refugiadas de toda a Europa, uma boa parte das quais de ascendência judaica. Esta fotografia é de 1941, altura em que Lisboa era o epicentro da fuga para o outro lado do Atlântico de milhares de famílias que queriam fugir da Europa. Os Estados Unidos ainda não tinham entrado na guerra e eram, até o ataque a Pearl Harbour, uma potência neutral.
Nos anos 1940 a 1970 a Colónia Balnear Infantil chegava a ter em permanência mil crianças desfavorecidas, vindas de todo o país para as férias de verão. Tinham entre 6 e 12 anos, faziam-se sete rondas de colónias anuais, entre maio e outubro. A primeira experiência por que os miúdos passavam, à chegada a São Pedro do Estoril, era um exame de saúde onde se inspecionava se tinham piolhos.
As dificuldades de financiamento das colónias levaram a que o diretor do jornal criasse um novo método de financiamento. Em 1943 abria portas a Feira Popular de Lisboa, cujos lucros revertiam a favor do programa de féria das crianças pobres. Com o patrocínio do regime e a benção de Salazar. "O Século" ganhava novo fôlego.
Carrosséis como este fazem parte do imaginário de gerações e gerações de lisboetas. Em 2003, no entanto, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu encerrar o complexo de Entrecampos, num processo de renovação que 15 anos depois ainda não está concluído. Cinco anos antes, a Colónia Balnear Infantil já tinha sido transformada em Fundação. O município pagou, até 2010, 2,6 milhões de euros anuais de indemnizações à Fundação, para compensar o encerramento da Feira. As colónias continuaram a fazer-se até esta altura, mas já sem o impacto do passado.
O Poço da Morte era provavelmente um dos maiores ícones do recinto. O «arrojo» e a «audácia» das «rodas da loucura» de Joselito e as irmãs Lolitas parecem hoje uma memória distante. Sem a Feira Popular, a Fundação "O Século" reduziu drasticamente o número de participantes em colónias de férias - em 2012, por exemplo, não foram mais de 200 crianças, um número distante das sete mil anuais dos anos 1950. Uma parte da Colónia de São Pedro do Estoril foi convertido em hostel. "O Século" de que nos lembramos já não existe.

Publicidade Continue a leitura a seguir